JSNEWS
Em uma rara concessão, a FIFA anunciou, na terça-feira, 16, a criação de uma nova categoria de ingressos mais acessíveis para a Copa do Mundo de 2026, que será disputada nos Estados Unidos, Canadá e México. Denominada “Supporter Entry Tier”, essa faixa permitirá que torcedores leais das seleções participantes adquiram entradas por apenas US$ 60 (cerca de R$ 340, dependendo da cotação) para qualquer uma das 104 partidas do torneio, inclusive a final – um contraste gritante com o preço anterior de US$ 4.185 para o jogo decisivo.
A medida surge em meio a uma onda global de indignação com os valores inicialmente divulgados, considerados os mais elevados da história das Copas. A entidade máxima do futebol mundial, presidida por Gianni Infantino, não explicitou os motivos da mudança, mas afirmou que o novo patamar visa “apoiar ainda mais os torcedores que acompanham suas seleções nacionais ao longo do torneio”. Apesar da demanda recorde – mais de 20 milhões de pedidos de ingressos na fase atual de vendas –, a pressão de grupos de torcedores e até de líderes políticos forçou o recuo.
Quantidade limitada e distribuição pelas federações
Os ingressos a US$ 60 representarão cerca de 10% da cota de 8% reservada a cada seleção participante (dividida igualmente entre as duas equipes em campo). Em estádios com capacidade média de 70 mil a 80 mil lugares, isso equivale a aproximadamente 1.000 a 1.500 bilhetes por jogo nessa faixa de preço, dependendo do venue. A distribuição ficará a cargo das federações nacionais, que deverão priorizar torcedores fiéis – aqueles que já acompanharam jogos anteriores em casa ou fora.
Além disso, a FIFA anunciou outra concessão: isenção de taxas administrativas em reembolsos para quem adquirir pacotes condicionais (que incluem partidas hipotéticas até a final) e cuja seleção seja eliminada precocemente.
Críticas persistem: “Medida paliativa”
Embora a redução tenha sido recebida com cautela, organizações como a Football Supporters Europe (FSE), que representa torcedores de base em todo o continente europeu, classificaram a iniciativa como “uma tática de apaziguamento diante do backlash global negativo”. Em comunicado, a FSE destacou que a maioria dos ingressos permanecerá em patamares “extorsivos”, muito superiores aos de edições anteriores, e criticou a falta de consulta prévia às associações membros e aos próprios torcedores.
A entidade também apontou falhas na acessibilidade para pessoas com deficiência: na plataforma de revenda da FIFA, assentos adaptados estão sendo oferecidos a preços multiplicados, sem garantia de que sejam vendidos prioritariamente a quem necessita, e sem a gratuidade para acompanhantes – benefício presente na Copa do Qatar, em 2022.
Até o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, manifestou-se publicamente: “Saúdo o anúncio de ingressos mais baratos para torcedores, mas, como alguém que já poupou para ver a Inglaterra, encorajo a FIFA a fazer mais para que a Copa não perca o contato com os genuínos apoiadores que tornam o jogo especial”.
Contexto da polêmica
A controvérsia explodiu na semana anterior, quando federações nacionais divulgaram os preços iniciais. Para fases de grupos, os valores mais baixos variavam de US$ 140 a US$ 265, sem acesso à categoria mais barata para torcedores das seleções. Seguir uma equipe até a final poderia custar mais de US$ 7.000 apenas em ingressos. Isso contrariava promessas feitas pelos países anfitriões há oito anos, durante a candidatura, de oferecer centenas de milhares de entradas a US$ 21 nas fases iniciais.
A edição de 2026 será a primeira com 48 seleções, em 16 cidades-sede (11 nos EUA, três no México e duas no Canadá), e projeções indicam receitas recordes de pelo menos US$ 10 bilhões para a FIFA – impulsionadas também por pacotes de hospitalidade em estádios modernos da NFL.
Apesar das críticas, a entidade enfatiza que reinveste a maior parte dos lucros no desenvolvimento do futebol global. No entanto, o episódio revela tensões crescentes entre a comercialização acelerada do esporte e a preservação de sua essência popular, especialmente para os torcedores que constroem a atmosfera única das Copas do Mundo.
A fase atual de vendas por sorteio aleatório segue aberta até 13 de janeiro de 2026, no site oficial da FIFA. Resta observar se pressões adicionais levarão a mais ajustes para tornar o torneio verdadeiramente acessível a todos os apaixonados pelo futebol.


