
– Em artigo publicado no New York Times na última terça-feira, Blas Nuñez-Neto, ex-assessor de fronteiras do governo Biden, reconheceu que a incapacidade da administração em enfrentar a crise na fronteira sul dos Estados Unidos foi um fator determinante para a reeleição do presidente Donald Trump.
Nuñez-Neto, que atuou como secretário-assistente de política de fronteiras e imigração no Departamento de Segurança Interna (DHS) durante o governo Biden, destacou que a negação da gravidade do problema e a demora em adotar medidas eficazes custaram aos democratas a confiança do eleitorado americano.“O primeiro passo para enfrentar uma crise é reconhecer sua existência”, escreveu Nuñez-Neto. Ele classificou o aumento expressivo de travessias ilegais na fronteira sul durante os primeiros três anos da presidência de Joe Biden como uma crise inequívoca.
Segundo o ex-assessor, a ausência de ações mais enérgicas para mitigar o problema foi um erro estratégico que comprometeu a percepção pública do governo e pavimentou o caminho para o retorno de Trump à Casa Branca.
Nuñez-Neto relatou ter enfrentado, em 2021, uma “onda avassaladora” de entradas ilegais na fronteira. Ele apontou fatores como a devastação econômica causada pela pandemia de Covid-19, a escassez de recursos na fronteira e a impossibilidade de deportar imigrantes para países como a Venezuela como agravantes da situação. Além disso, ele criticou a demora em decisões políticas cruciais, que retardaram a implementação de medidas eficazes.
O ex-assessor também destacou que, quando Biden e os democratas no Congresso começaram a negociar com republicanos, no final de 2023 e em 2024, para reformar as leis de imigração, o debate já estava profundamente politizado em razão das eleições presidenciais. Como resultado, um projeto de lei bipartidário, que prometia endurecer as políticas migratórias, não conseguiu avançar. Embora reconheça que a fronteira está mais segura sob a administração Trump, Nuñez-Neto alertou que tal controle foi alcançado ao custo de “erosão da ordem constitucional”.
Ele defendeu a necessidade de um sistema imigratório que seja, ao mesmo tempo, generoso com candidatos legais e rigoroso com aqueles que vivem ilegalmente nos Estados Unidos. “Precisamos de um sistema que reconheça que somos não apenas uma nação de imigrantes, mas também uma nação de leis, e que devemos respeitar ambos. Até que isso ocorra, a próxima crise na fronteira estará sempre à espreita”, concluiu.
A análise de Nuñez-Neto gerou forte reação nas redes sociais, incluindo críticas do próprio Departamento de Segurança Interna (DHS), que ironizou o ex-assessor no X com a frase: “‘Eu era Humpty Dumpty. Aqui está como sentar em um muro'” (Humpty Dumpty é um personagem de uma rima infantil inglesa que representa um ovo que cai de um muro e se quebra).
Dados oficiais reforçam a gravidade da crise durante o governo Biden: em dezembro de 2023, a Patrulha de Fronteira registrou 249.785 apreensões, um recorde. Já sob Trump, os números de travessias na fronteira caíram mais de 90% nos primeiros meses de seu mandato.Análise Crítica
A gestão da política de fronteiras sob Biden reflete uma abordagem hesitante, marcada por atrasos em decisões estratégicas e por uma narrativa que subestimou a percepção pública sobre a crise migratória. A incapacidade de equilibrar políticas humanitárias com medidas de controle rigoroso alimentou a insatisfação popular, que se traduziu em apoio à plataforma de Trump, focada em segurança e ordem.
A crítica de Nuñez-Neto, embora tardia, expõe falhas estruturais que não apenas comprometeram a imagem do governo democrata, mas também reforçam a necessidade de uma reforma imigratória abrangente e apartidária para evitar crises futuras.