JSNEWS– A Divisão de Boston do Federal Bureau of Investigation (FBI) emitiu um alerta preocupante, nessa terça-feira, 01, a proprietários de imóveis e corretores sobre o crescente número de fraudes envolvendo quit claim deeds (documentos que transferem a posse de propriedades). Esses golpes, conhecidos como “roubo de título” ou “fraude de escritura” que no Brasil poderia ser chamado de Grilagem urbana, têm causado prejuízos devastadores a vítimas que, muitas vezes, só descobrem o crime após perderem seus imóveis, obrigando-as a recorrer à Justiça para reaver o que lhes pertence.
O esquema é engenhoso: fraudadores forjam documentos para registrar transferências fictícias de propriedade, utilizando informações pessoais obtidas na internet ou por outros meios para se passar pelos verdadeiros donos. Com o título em mãos, os criminosos vendem o imóvel, contratam hipotecas ou alugam, lucrando às custas das vítimas. Jodi Cohen, agente especial responsável pela Divisão de Boston, descreveu o impacto: “As pessoas estão tendo suas raízes arrancadas, ficando sem um lar. As perdas são profundamente pessoais, com um custo financeiro e emocional que inclui choque, raiva e constrangimento.” Ela exorta o público a agir preventivamente e reportar qualquer suspeita ao FBI.
Os relatos recebidos pelo FBI revelam táticas variadas. Há golpistas que vasculham registros públicos em busca de terrenos baldios ou propriedades sem hipotecas, fingindo ser os proprietários para listá-las à venda. Outros, apelidados de “piratas de títulos” (Grilheiros), usam escrituras falsificadas para transferir a posse. Há ainda casos em que familiares, especialmente idosos, são manipulados por parentes ou conhecidos para cederem seus bens. Muitas vezes, o golpe só é percebido após o dinheiro ser transferido e a venda registrada.
Entre 2019 e 2023, o Internet Crime Complaint Center (IC3) do FBI registrou, em nível nacional, 58.141 vítimas de fraudes imobiliárias, com perdas de 1,3 bilhão de dólares. Na jurisdição de Boston — que abrange Maine, Massachusetts, New Hampshire e Rhode Island —, 2.301 pessoas relataram prejuízos superiores a 61,5 milhões de dólares. Massachusetts lidera com 46,2 milhões perdidos por 1.576 vítimas, seguida por Maine (6,2 milhões, 262 vítimas), Rhode Island (4,8 milhões, 224 vítimas) e New Hampshire (4,1 milhões, 239 vítimas). O FBI estima que os números reais sejam ainda maiores, pois muitos não denunciam por vergonha, desconhecimento ou intimidação.
A pandemia de COVID-19 agravou o cenário. Transações imobiliárias remotas, por e-mail ou telefone, tornaram-se comuns, facilitando a ação dos criminosos. Para combatê-los, o FBI colabora com proprietários, corretores, cartórios e seguradoras, mas a tarefa é árdua. “A natureza remota dessas vendas beneficia os fraudadores”, alerta a agência.
Para se proteger, o FBI recomenda aos proprietários monitorar registros online, configurar alertas de título nos cartórios, visitar regularmente suas propriedades e desconfiar de contatos via aplicativos criptografados. Mudanças em contas de água ou impostos devem ser investigadas imediatamente. Aos corretores, sugere evitar fechamentos remotos, exigir verificações presenciais de identidade e solicitar documentos exclusivos do dono, como contas recentes ou levantamentos topográficos, além de confirmar a autenticidade dos documentos apresentados.
Essa onda de fraudes expõe a vulnerabilidade do mercado imobiliário e a necessidade de vigilância. Embora as perdas sejam vultosas, a resposta do FBI e as medidas preventivas podem mitigar o problema, preservando o patrimônio de muitos.
Para denunciar um crime ao FBI acesse o site – https://www.ic3.gov/