JSNEWS – Em um novo desdobramento, o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE, na sigla em inglês) retomou as operações de fiscalização contra imigrantes indocumentados em fazendas, restaurantes, hotéis e outros estabelecimentos comerciais, após uma breve suspensão anunciada pelo presidente Donald Trump. A decisão reflete uma mudança abrupta na estratégia de imigração do governo, em meio a pressões de setores econômicos e de assessores da Casa Branca.
A subsecretária do Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês), Tricia McLaughlin, afirmou: “O presidente foi extremamente claro. Não haverá espaços seguros para indústrias que abrigam criminosos violentos ou que tentam, de forma deliberada, obstruir as iniciativas do ICE”. A declaração, reportada pelo jornal The Guardian, sinaliza a retomada das operações, apesar das preocupações econômicas levantadas anteriormente pelo próprio Trump.
Na semana passada, Trump reconheceu, em uma postagem na plataforma Truth Social datada de 12 de junho, que sua política imigratória “muito agressiva” estava impactando negativamente setores como agricultura e hotelaria, que dependem fortemente de trabalhadores imigrantes. “Nossos grandes agricultores e as pessoas do setor hoteleiro e de lazer declararam que nossa política imigratória está privando-os de trabalhadores valiosos e de longa data, cujos cargos são praticamente impossíveis de substituir”, escreveu o presidente.
Após essa declaração, o The New York Times revelou que, no mesmo dia, um alto funcionário do ICE, Tatum King, enviou um e-mail aos líderes regionais da divisão de Investigações de Segurança Nacional do ICE, responsável por operações em locais de trabalho, orientando a suspensão temporária das fiscalizações em fazendas, hotéis e restaurantes. No entanto, essa pausa, que durou apenas quatro dias, foi revertida na segunda-feira, 16, conforme reportado pelo The Washington Post. Em uma teleconferência, autoridades do ICE e do DHS confirmaram que as operações de fiscalização em locais de trabalho, incluindo fazendas, hotéis e restaurantes, deveriam continuar.
A retomada das operações ocorre em meio a pressões conflitantes dentro da administração Trump. De um lado, setores econômicos, como a agricultura e a hotelaria, expressaram preocupações com a escassez de mão de obra devido às detenções de trabalhadores imigrantes, muitos dos quais são indocumentados, mas essenciais para essas indústrias. Dados do American Immigration Council indicam que imigrantes indocumentados representam cerca de 4,6% da força de trabalho nos EUA, mas compõem de 15% a 20% dos trabalhadores em setores como agricultura, construção e hospitalidade.
A United Farm Workers, um sindicato que representa trabalhadores agrícolas, criticou a suposta pausa, afirmando que ela “nunca ocorreu de fato” e que as operações continuam causando “o mesmo impacto devastador” nas comunidades.
Por outro lado, assessores linha-dura, como Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca e um dos principais arquitetos da política imigratória de Trump, pressionaram pela continuidade das operações para cumprir a meta de 3.000 prisões diárias estabelecida pela administração. Essa meta, segundo o The Washington Post, exige operações em larga escala em locais de trabalho, como fazendas e frigoríficos, que historicamente resultam em centenas de detenções em uma única ação.
Notícias recentes apontam exemplos concretos dessas operações. Em Omaha, Nebraska, o ICE realizou uma grande operação na fábrica de alimentos Glenn Valley Foods, onde mais de 100 trabalhadores imigrantes foram detidos.
Em Oxnard, Califórnia, agentes do ICE perseguiram trabalhadores agrícolas em campos no início de junho, gerando temor entre as comunidades locais. Além disso, operações em Los Angeles, como a relatada em um estacionamento da Home Depot, onde trabalhadores indocumentados foram detidos por agentes federais mascarados, intensificaram protestos e confrontos com a polícia.
Reações e Implicações
A reversão da pausa nas operações gerou críticas de líderes sindicais e defensores dos direitos dos imigrantes. Teresa Romero, presidente da United Farm Workers, relatou ao CNN que trabalhadores agrícolas da Califórnia estão “aterrorizados” com as Blitz do ICE, que afetam não apenas os indocumentados, mas também a economia local, já que muitos evitam trabalhar por medo de detenções. Por outro lado, defensores da linha-dura, como Mark Krikorian, do Center for Immigration Studies, questionaram a viabilidade de isentar setores inteiros das operações, argumentando que isso comprometeria os objetivos de deportação em massa de Trump.
A administração Trump enfrenta um dilema: equilibrar a pressão por deportações em massa com a necessidade de proteger indústrias que dependem de trabalhadores imigrantes. A decisão de retomar as operações reflete a influência de figuras como Stephen Miller, mas também evidencia a instabilidade nas diretrizes do ICE, descrita como “oscilação” por fontes internas do DHS.
Este jornal buscou contato com o DHS para esclarecimentos adicionais, mas não obteve resposta até o momento da publicação. A inconsistência nas políticas, com uma suspensão anunciada e revertida em poucos dias, sinaliza para POSSIVEIS divisões internas na administração Trump e o impacto econômico e social de suas ações imigratórias.