
Washington, 30 de setembro de 2025 – Um embate político entre democratas e republicanos no Congresso dos Estados Unidos ameaça desencadear a primeira paralisação do governo federal em quase sete anos. A poucos dias do prazo final, marcado para as 00h01 de quarta-feira, as negociações sobre o orçamento e a extensão de benefícios de saúde permanecem estagnadas, colocando em risco o funcionamento de serviços públicos e o sustento de milhares de trabalhadores federais, que podem ser dispensados ou afastados temporariamente.
O conflito gira em torno de uma proposta da Câmara dos Representantes que garantiria o financiamento do governo por mais sete semanas, permitindo que os parlamentares finalizem as leis de gastos anuais. No entanto, os democratas no Senado condicionam seu apoio à inclusão de uma extensão de benefícios de saúde que estão prestes a expirar, entre outras demandas. O presidente Donald Trump e os republicanos, que defendem um projeto “limpo” e sem adendos, rejeitam até o momento qualquer negociação.
Sem Acordo à Vista
Na segunda-feira, uma reunião na Casa Branca entre Trump e líderes dos dois partidos no Congresso terminou sem avanços significativos. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, afirmou que a responsabilidade de evitar a paralisação está nas mãos do presidente. “Ele pode evitar o shutdown se convencer os líderes republicanos a aceitarem nossas propostas”, declarou Schumer após o encontro. Em resposta, Trump publicou um vídeo satírico ridicularizando os democratas, intensificando as tensões. “Eles perderam a eleição de forma esmagadora e não mudam”, disse o presidente na manhã de terça-feira.
A última paralisação governamental, ocorrida entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Trump, foi a mais longa da história, durando 35 dias. Na ocasião, o impasse envolveu o financiamento de um muro na fronteira com o México. A situação atual reflete um cenário semelhante, com os democratas buscando aproveitar sua influência para avançar pautas prioritárias, enquanto os republicanos, com maioria de 53 a 47 no Senado, precisam de pelo menos oito votos democratas para superar um possível obstruccionismo.
Saúde em Jogo
No cerne da disputa estão os subsídios para planos de saúde instituídos em 2021, durante a pandemia de Covid-19, que expandiram a cobertura para pessoas de baixa e média renda no âmbito do Affordable Care Act (Obamacare). Caso esses benefícios expirem em 31 de dezembro, milhões de americanos podem enfrentar aumentos significativos nos custos de seus seguros de saúde. Os democratas exigem a prorrogação imediata desses subsídios e a reversão de cortes no programa Medicaid, aprovados como parte de uma lei republicana neste ano. “Não apoiaremos um projeto de lei partidário que comprometa a saúde dos americanos”, afirmou o líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries. Os republicanos, liderados pelo senador John Thune, insistem que os democratas aprovem o financiamento temporário e deixem a discussão sobre os subsídios para um momento posterior. Embora alguns republicanos sejam favoráveis à extensão dos benefícios, muitos se opõem a ela sem novas limitações, algo que os democratas rejeitam. “Estamos dispostos a negociar, mas isso é uma chantagem contra o povo americano, que pagará o preço”, declarou Thune.
Impactos Iminentes
Com o prazo se aproximando, o governo já orientou as agências federais a se prepararem para uma possível paralisação, incluindo a possibilidade de demissões em vez de apenas afastamentos temporários para trabalhadores não essenciais. “Podemos fazer muitos cortes, e isso será por causa dos democratas”, afirmou Trump. O diretor de orçamento da Casa Branca, Russ Vought, reforçou que a paralisação pode ser evitada se os democratas aceitarem a proposta da Câmara.
A situação coloca os democratas em uma posição delicada. Tradicionalmente contrários a paralisações, que consideram disruptivas, o partido enfrenta pressão de sua base para confrontar Trump. Alguns senadores democratas, como Gary Peters, de Michigan, ainda expressam otimismo sobre um possível acordo antes do prazo. “Muita coisa pode acontecer em pouco tempo”, disse Peters.
Enquanto as negociações não avançam, a incerteza paira sobre os trabalhadores federais e os serviços públicos, com consequências que podem afetar milhões de americanos caso o impasse persista.
Fonte: Associated Press, adaptado.