
Boston, 08 de Setembro de 2025 – Boston e outras cidades denominadas santuários nos Estados Unidos continuarão a presenciar um incremento nas ações de fiscalização migratória sem data prevista para termino dessas operações conforme declarou o “Czar da Fronteira”, Tom Homan, em uma participações em um programa dominical de televisão. Homan indicou que as atividades da Agência de Imigração e Alfândega (ICE) serão intensificadas em cidades que adotam políticas santuários em todo o país. “Ações podem ser esperadas na maioria das cidades santuários pelo país”, afirmou Homan à CNN, destacando que a administração Trump “priorizou” essas jurisdições devido à recusa de suas autoridades em colaborar com a aplicação das leis federais de imigração ou em manter pessoas detidas com base em pedidos de retenção da ICE. “As cidades santuários liberam, de forma consciente, ameaças à segurança pública, que são imigrantes em situação irregular, nas ruas todos os dias. Esse é o problema”, declarou.
Suas declarações seguem o anúncio do Departamento de Segurança Interna sobre a “Operação Patriota 2.0” em Boston, iniciada na quinta-feira em áreas não especificadas do estado, conforme informou o diretor interino da ICE, Todd Lyons. A operação é uma continuação de uma primeira onda de ações em Massachusetts, iniciada em maio, que resultou na detenção de cerca de 1.500 pessoas.
Até domingo, mais de 100 indivíduos haviam sido presos por agentes federais no âmbito da Operação Patriota 2.0, segundo a ICE, que não detalhou a duração da operação, o número de agentes envolvidos ou as áreas específicas do estado que estão sendo alvos. A ação conta com o apoio de outras agências federais, como o Departamento de Justiça, a Agência Antidrogas (DEA) e a Segurança Diplomática, e tem como foco imigrantes em situação irregular com antecedentes criminais.
A prefeita de Boston, Michelle Wu, reagiu ao aumento das operações da ICE, afirmando que a cidade está preparada para tomar medidas legais caso as ações federais violem a legislação local ou nacional. “Esperamos que as forças federais respeitem a Constituição e as leis desta cidade, do estado e do país, e estamos prontos para iniciar ações judiciais diante de qualquer evidência em contrário”, declarou Wu no domingo, em resposta à nova onda de fiscalizações. Ela não especificou, no entanto, quais medidas legais poderiam ser tomadas. Wu também criticou as ações da ICE na região, destacando a falta de transparência da agência. “Por meses, a ICE se recusou a fornecer informações sobre suas atividades em Boston e a emitir mandados, enquanto recebemos relatos de agentes da ICE detendo pais ao deixarem seus filhos na escola”, afirmou. “Isso não torna nossa comunidade mais segura.”
A prefeita reiterou que, conforme determinado pela ‘Boston Trust Act’, de 2014, a polícia local e os recursos municipais não serão utilizados para apoiar a aplicação das políticas federais de imigração ou a agenda de deportações em massa. Na quinta-feira, o Departamento de Justiça entrou com uma ação judicial contra Boston, a prefeita Wu e o departamento de polícia local, buscando anular a Lei que limita a cooperação com ações federais de imigração.
Em comunicado, a procuradora-geral Pam Bondi classificou Boston como “uma das piores infratoras santuários da América”. Embora Massachusetts não se declare um “estado santuário”, a mais alta corte estadual determinou que a lei estadual proíbe a detenção de um réu em custódia estadual com base apenas em um pedido de retenção migratória. Boston, por sua vez, não se autoproclama uma “cidade santuário”, mas não questiona o status migratório de indivíduos antes de fornecer serviços municipais, e a Boston Trust Act’ impede a polícia de executar ordens civis de imigração. Uma lista de jurisdições santuários publicada pelo Departamento de Justiça em agosto, sob a administração Trump, inclui Boston, mas não o estado de Massachusetts.
As declarações de Homan foram endossadas pelo candidato a governador Brian Shortsleeve, que, em entrevista à WBZ veiculada no domingo, afirmou que reverterá as atuais políticas de não cooperação do estado, caso seja eleito. “A maioria das pessoas que o governo federal busca em operações de fiscalização são indivíduos que já passaram pelo nosso sistema judiciário”, disse o republicano. “Sou contra políticas de estado santuário. Acredito que o governo estadual deveria colaborar com a ICE. Quando for governador, cooperaremos com o governo federal e respeitaremos os pedidos de detenção.”
Por outro lado, Logan Trupiano, porta-voz do candidato republicano a governador Mike Kennealy, criticou Shortsleeve, afirmando que seu histórico contradiz seu discurso. “Mike deixou claro desde o primeiro dia de sua campanha que apoia os esforços republicanos para fechar a fronteira e remover criminosos do nosso estado. Por outro lado, Brian Shortsleeve doou quase 100 mil dólares a políticos democratas que defendem fronteiras abertas, o status de estado santuário para Massachusetts e cidades santuárias”, declarou Trupiano.
A governadora Maura Healey, que busca a reeleição em 2026, também se pronunciou no domingo, durante uma aparição na MSNBC, criticando a falta de notificação prévia sobre as ações federais em Massachusetts. “Trata-se de teatro político. É uma tentativa de tomada de poder político e de intimidação”, afirmou, argumentando que as operações não contribuem para a segurança pública.
As tensões entre autoridades locais e federais evidenciam o conflito em torno das políticas de imigração e o papel das chamadas cidades santuários, enquanto Boston se prepara para possíveis confrontos legais em defesa de suas leis e valores.