AP – Os israelense vão às urnas nesta terça-feira (23) para as quartas eleições legislativas em menos de dois anos, em mais uma votação que se assemelha a um referendo sobre a aprovação ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – há mais de 12 anos no poder -, que agora usa como principal arma o sucesso da campanha de vacinação contra a Covid-19.
As eleições foram convocadas em dezembro, após o Knesset (Parlamento) ser dissolvido automaticamente ao não chegar a um acordo para a aprovação do orçamento do país.
Um ano depois do início da pandemia, Israel parece a caminho de superar a Covid-19 graças a uma campanha de imunização considerada exemplo mundial, que já permitiu administrar as duas doses necessárias em 49% da população.
Mas o último ano também foi marcado pelo início de dois processos contra o primeiro-ministro por corrupção e abuso de poder, o que gerou uma série de protestos mesmo em meio aos três lockdown que o país atravessou. No sábado, por exemplo, milhares de pessoas se reuniram em frente à casa de Netanyahu, em Jerusalém, para pedir sua saída do poder.
Maioria absoluta
As pesquisas mais recentes atribuem ao Likud, partido de direita conservadora de Netanyahu, quase 30 cadeiras das 120 do Kneset, contra 20 para seu principal adversário, o líder do partido Yesh Atid, o centrista Yair Lapid. Os partidos de direito liderados por Gideon Saar e Naftali Bennett devem obter quase 10 assentos cada.
Mais uma vez será impossível para qualquer partido alcançar uma maioria absoluta – com 61 assentos – sem a formação de alianças.
Por isso, os dois principais candidatos já se articulam: enquanto Netanyahu conta com seus aliados naturais, os partidos ultraortodoxos e de extrema-direita, ele também corteja eleitores árabes-israelenses do pequeno partido separatista Lista Árabe Unida e o apoio do partido de direita radical Yamina, cujo líder Naftali Bennett permanece ambíguo por enquanto.
Já Yair Lapid planeja uma coalizão com os partidos de esquerda, centro e da direita decepcionada com o primeiro-ministro. Em sua campanha, Lapid adotou um tom moderado, focando em questões de democracia, economia e gestão da pandemia pelo governo.
“A questão é saber se teremos um resultado que permita a um dos lados – os partidos pró-Netanyahu e os que tentam formar uma coalizão sem Netanyahu – ter uma vantagem clara. No momento parece que nenhum dos dois conseguirá”, afirma à agência France Press Dahlia Scheindlin, especialista em pesquisas políticas em Israel.
Desalojar o ‘rei Bibi’
No domingo, Bennett compareceu a uma emissora de televisão para “assinar” um documento no qual afirma que não se uniria a um governo liderado por Yair Lapid, mas sem assumir um compromisso com Netanyahu.
Caso os anti-Netanyahu não consigam alcançar a marca de de 61 deputados, eles tentarão, se possível, uma aproximação dos partidos árabes para desalojar o “rei Bibi”, como os partidários chamam o primeiro-ministro.
E se ninguém conseguir formar um governo, Netanyahu seguirá de fato como primeiro-ministro. Para Gideon Rahat, professor de Ciências Políticas na Universidade Hebraica de Jerusalém, não existe a menor dúvida: “Netanyahu está pronto para uma quinta, sexta ou sétima eleição”.