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Milwaukee, Wisconsin, 15 de dezembro – Uma juíza de Wisconsin inicia nesta segunda-feira, 15, um julgamento federal por acusações de ajudar um migrante que comparecia em sua sala de audiência a escapar de uma prisão imigratória, em um caso que expõe as tensões da administração do presidente Donald Trump em punir supostas obstruções às suas operações de deportação em massa.
As alegações iniciais estão marcadas para esta segunda-feira. Hannah Dugan, juíza eleita do Tribunal de Circuito do Condado de Milwaukee, enfrenta acusações federais de ocultar uma pessoa para impedir sua prisão e de obstruir procedimentos federais. Dugan declarou-se inocente das charges apresentadas pelo Departamento de Justiça da era Trump.
O raro julgamento de uma juíza em exercício reflete os conflitos em torno das táticas de aplicação da imigração pelo governo Trump, incluindo a colocação de agentes federais em tribunais para realizar prisões. O Departamento de Justiça orientou promotores a investigar ativistas e autoridades acusadas de atrapalhar operações imigratórias.
O caso contra Dugan origina-se de um incidente em 18 de abril, quando agentes da Imigração e Alfândega (ICE) e outras agências planejavam prender um migrante mexicano, identificado como Eduardo Flores-Ruiz.
Quem é Eduardo Flores-Ruiz e sua ficha criminal
Flores-Ruiz, um cidadão mexicano que viveu ilegalmente nos EUA por cerca de 12 anos em Milwaukee (trabalhando principalmente em restaurantes), não tinha histórico criminal anterior nos Estados Unidos até março de 2025. Naquela data, ele foi preso por três acusações criminais de misdemeanor (crimes menores) relacionadas a violência doméstica: agressão física (battery), com modificadores de abuso doméstico, incluindo estrangulamento e sufocamento. O incidente envolveu supostamente agredir violentamente seu roommate (mais de 20 golpes na cabeça e asfixia) e mulheres que tentaram intervir.
Ele comparecia na sala de Dugan por uma audiência pré-julgamento exatamente dessas acusações de violência doméstica quando os agentes da ICE tentaram prendê-lo.
Além disso, Flores-Ruiz havia sido deportado uma vez anteriormente, em 2013, aos 18 anos, após cruzar ilegalmente a fronteira perto de Nogales (Arizona). Poucos dias ou semanas depois, ele retornou ilegalmente aos EUA sem ser detectado na época.
Retorno após deportação é crime
Nos Estados Unidos, retornar ao país após ter sido deportado constitui um crime federal (illegal reentry after removal), previsto na lei de imigração americana (8 U.S.C. § 1326). Por isso, ao ser preso em março de 2025 pelas acusações estaduais, suas impressões digitais revelaram a deportação anterior, levando a ICE a emitir um mandado administrativo e, posteriormente, a uma acusação federal por reentrada ilegal. Ele se declarou culpado dessa acusação em setembro de 2025, foi sentenciado a “time served” (tempo já cumprido) e deportado novamente em 13 de novembro de 2025.
Acusação de desvio de agentes federais
A denúncia alega que Dugan desviou os agentes do corredor onde planejavam prender o homem após a audiência. Também a acusa de escoltar Flores-Ruiz e seu advogado para fora da sala por uma porta não pública, após tratar o caso dele em particular.
Flores-Ruiz atravessou um corredor público e foi preso após uma breve perseguição fora do tribunal, segundo documentos judiciais.
Dugan foi suspensa de suas funções judiciais pelo tribunal superior de Wisconsin enquanto o caso prossegue.
Os promotores precisam provar que Dugan agiu de forma corrupta para impedir a prisão de Flores-Ruiz. Em documentos judiciais, citaram testemunhas que descreveram Dugan ficando “visivelmente irritada” ao saber da presença de agentes da ICE fora de sua sala e informando falsamente às autoridades que elas precisariam de um mandado judicial para realizar a prisão.
Juíza diz que seguiu política do tribunal

Os advogados de Dugan planejam argumentar ao júri que ela seguiu políticas do tribunal, que orientam funcionários a alertar um supervisor sobre a presença de agentes da ICE, e que agiu de boa-fé após duas prisões imigratórias anteriores no local terem gerado controvérsias, conforme documentos judiciais.
A administração Trump relaxou restrições a operações de aplicação da imigração em tribunais locais. O julgamento deve durar cerca de uma semana e atrai atenção nacional sobre os limites da independência judicial frente à aplicação federal da imigração.


