
Medford, 21 de Outubro de 2025
A secretária de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Kristi Noem, realizou nesta segunda-feira, 20 de outubro, uma conferência de imprensa em Bradenton, na Flórida, para destacar as recentes operações do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE). O evento, originalmente programado para Sarasota, foi transferido de última hora para Bradenton, próximo à sede do xerife do Condado de Manatee, gerando confusão. Alguns jornalistas foram impedidos de participar por razões de segurança, enquanto manifestantes protestavam contra as políticas de deportação do lado de fora.
Noem anunciou que, nos últimos nove meses desde a posse do presidente Donald Trump, em janeiro de 2025, o Departamento de Segurança Nacional (DHS) deteve mais de 480.000 imigrantes indocumentados. Ela afirmou que 70% desses detidos — o equivalente a 336.000 pessoas — possuem antecedentes criminais ou condenações por crimes graves, como homicídio, sequestro, violência doméstica, agressão sexual e atos lascivos contra menores. A secretária citou casos específicos na região de Sarasota, incluindo um cubano condenado por homicídio e sequestro, um salvadorenho por estupro de menor e um mexicano por atos indecentes com crianças e múltiplas infrações por dirigir sob influência de álcool (DUIs).
Contudo, a narrativa de Noem é questionada por dados independentes. Um relatório do Transactional Records Access Clearinghouse (TRAC) de 21 de setembro de 2025 revela que, de 59.762 detidos pelo ICE, 71,5% (42.755) não possuem condenações criminais, e muitos dos demais cometeram apenas infrações menores, como violações de trânsito. O DHS não forneceu um relatório detalhado das detenções, limitando a verificação completa.
A alegação de Noem só seria plausível se todos os imigrantes indocumentados fossem classificados como “criminosos” por entrada ilegal ou permanência além do prazo de visto, infrações administrativas e não crimes penais. Contraditoriamente, Noem instou imigrantes sem antecedentes penais a considerarem a “auto-deportação” para evitar detenções e, futuramente, retornarem legalmente aos EUA, reconhecendo implicitamente que muitos dos detidos não são criminosos, o que conflita com sua afirmação de que 70% têm antecedentes graves. “Hoje se completam nove meses desde que o presidente Trump assumiu o cargo e começou a trabalhar para restaurar a segurança americana para nossas famílias”, declarou.
A conferência, parte de uma gira nacional para promover as políticas migratórias de Trump, ocorreu em frente a uma exibição de drogas e armas apreendidas em operações federais. “Vemos rifles e pistolas ilegais à nossa frente. Drogas retiradas das ruas, salvando vidas de americanos todos os dias”, destacou Noem, enfatizando o impacto na segurança pública. A secretária defendeu a colaboração entre o ICE e agências locais, elogiando os acordos com a Flórida por meio do programa 287(g), que permite que policiais estaduais e locais detenham imigrantes e os entreguem às autoridades federais. Segundo relatórios do ICE, há 1.077 acordos 287(g) em vigor no país, com mais de 300 sendo realizados na Flórida. “Estamos gratos pelas parcerias com o estado da Flórida, que nos auxiliam com centros de detenção”, afirmou Noem.
Ela contrastou a cooperação com estados republicanos, como a Flórida, com a ausência de acordos em estados democratas, como Califórnia e Illinois, embora Nova York tenha 11 acordos em condados de maioria republicana, como Nassau e Niagara. “Se cometeram um delito, serão deportados. Fomos muito claros quanto a isso”, reiterou.
Noem criticou reportagens que, segundo ela, “distorsionam a verdade” sobre o perfil dos detidos, sem apresentar evidências detalhadas para refutá-las. O DHS relatou um aumento de 1.000% em ataques a agentes do ICE em operações de rua, atribuindo isso a uma “demonização” dos oficiais. “O bom trabalho dos agentes da lei é frequentemente demonizado pela mídia”, lamentou Noem, sem abordar casos documentados de abusos por agentes federais, como em Illinois, onde uma juíza ordenou a suspensão de repressão violenta contra manifestantes e jornalistas, incluindo o uso de armas e gas lacrimogêneos.


