Por : O Globo com agências internacionais – Tom Homan, o ex-diretor interino do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos – ICE que atuará como o “czar da fronteira” de Donald Trump no próximo governo, tem se destacado como uma voz realista surpreendente sobre a questão migratória. Embora seja amplamente reconhecido por sua postura linha-dura, tem se esforçado para moderar as promessas de Trump, que previam a deportação de milhões de imigrantes, focando em um plano mais equilibrado e viável para enfrentar a imigração irregular nos Estados Unidos.
Em uma entrevista ao The Wall Street Journal, Homan reconheceu a dificuldade de prever o sucesso da campanha de deportação, dado os recursos limitados à disposição.
“Sempre me fazem essa pergunta: quantas pessoas vamos remover nos primeiros 100 dias? Eu não sei”, admitiu. “Não sei quais recursos vou ter, o que o Congresso vai me dar para financiamento.”
Apesar de ser uma figura de destaque entre os apoiadores de Trump, Homan tem se mostrado mais pragmático do que muitos esperavam. Ele passou quatro décadas trabalhando em diversas agências de segurança, desde a Patrulha de Fronteira até o ICE. Seu estilo direto e sua abordagem focada na execução prática das políticas atraíram a confiança de Trump, tanto por seu perfil “linha-dura” e aparência “ameaçadora”, quanto por sua habilidade em apresentar soluções viáveis.
“Trabalhei para seis presidentes diferentes”, disse Homan ao Wall Street Journal. “Vi centenas de políticas surgirem e desaparecerem. Vi quais políticas funcionaram e quais não funcionaram.”
No entanto, o papel de Homan como czar da fronteira não tem sido isento de controvérsias. Ele se tornou uma das autoridades mais vocais do novo governo durante a transição, participando ativamente de entrevistas na Fox News e em outras mídias conservadoras. Nessas ocasiões, ele criticou as políticas de fronteira do atual presidente Joe Biden, apresentou a agenda de Trump e até ameaçou os imigrantes, que, segundo ele, “devem sentir medo“.
Mas sua postura realista, que muitas vezes sugere que nem todas as promessas de campanha de Trump serão cumpridas de forma agressiva, gerou críticas entre alguns aliados do ex-presidente. Esses aliados temem que Homan esteja suavizando a agenda de deportação antes mesmo de o novo governo começar a atuar. Além disso, Homan poderia se tornar um alvo caso o público se desencante com as dificuldades da execução das políticas migratórias.
Nos meses que se seguiram à eleição, Homan percorreu o país, reunindo-se com autoridades locais e buscando parcerias com empresas de segurança privada para expandir os centros de detenção. Ele tem pressionado prefeitos de cidades democratas a colaborar com o governo, especialmente em questões relacionadas à prisão de imigrantes. No entanto, muitos governos locais têm resistido a colaborar com o ICE, implementando políticas de “santuário” que dificultam a cooperação.
Sua trajetória profissional começou nos anos 1980, como policial no interior de Nova York, e em 1984 ele ingressou na Patrulha de Fronteira. Homan foi um dos funcionários selecionados para estabelecer a ICE em 2003, após os ataques terroristas de 11 de setembro, e desde então tem se especializado em questões relacionadas ao tráfico de pessoas e contrabando de imigrantes.
Durante o governo Obama, Homan propôs medidas severas contra a imigração irregular, incluindo o processamento de imigrantes ilegais para encarceramento e separação de famílias, uma ideia que só foi implementada após Trump assumir a Presidência.
Apesar de sua postura severa, Homan é descrito por ex-colegas como uma pessoa mais complexa e sensível do que sua imagem de linha-dura sugere. Ele próprio afirmou que suas convicções sobre imigração evoluíram ao longo dos anos, especialmente após vivenciar de perto as tragédias relacionadas à imigração irregular.
“Fronteiras abertas são desumanas. Fronteiras seguras salvam vidas”, declarou Homan ao Wall Street Journal.