Da Redação – Num endurecimento de suas declarações sobre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato anarco-capitalista que lidera a corrida presencial na Argentina, Javier Milei, disse, em entrevista à revista britânica The Economist, que Lula “não é apenas um socialista. Ele é alguém que tem vocação totalitária”. Na mesma entrevista, o líder do partido A Liberdade Avança, que ficou em primeiro lugar nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) de agosto passado e lidera as pesquisas para o primeiro turno, em 22 de outubro, referiu-se ao governo brasileiro como “um regime”.
As frases inflamadas de Milei contrastam com os termos e posições expressas por alguns de seus colaboradores, entre eles a economista Diana Mondino, que, em caso de vitória do candidato, possivelmente comandará o Ministério das Relações Exteriores. Nas últimas semanas, Mondino visitou várias embaixadas em Buenos Aires, entre elas as do Brasil e dos Estados Unidos.
O encontro com o embaixador brasileiro, Júlio Bitelli, que assumiu o poso em julho, foi cordial, e durante a conversa não houve qualquer tipo de menção a Lula ou a seu governo como socialista, comunista ou de tendência totalitária. Já na entrevista ao The Economist, Milei acusou o governo Lula de usar a censura contra seus opositores, perseguir jornalistas e derrubar sites críticos. “É um regime que não está alinhado com as ideias da liberdade”, disse.
O tom de Mondino foi respeitoso com o presidente brasileiro e seu governo, disseram as fontes consultadas. Num claro esforço de controle de danos, a economista destacou que a relação com o Brasil é muito importante para a Argentina e continuará sendo num eventual governo de Milei.
Ela assegurou, ainda, que, se eleito Milei, o país não sairá do Mercosul, mas defenderá a modernização do bloco.
Em recente entrevista a economista escolhida por Milei para eventualmente ser sua chanceler afirmou que os colaboradores de Milei buscarão conter as prováveis dificuldades nas relações entre o candidato da extrema direita e Lula. Em palavras de Mondino, “teremos de tentar que essa questão tenha a menor importância possível.” Segundo ela, “os países devem se mover em função de objetivos, não de relações pessoais” e “não podemos estar nas mãos de personalismos. Os governos passam, e a economia e a sociedade ficam. Não podemos depender de se Lula se dá bem ou mal com alguém”.
Na conversa entre Mondino e o embaixador brasileiro não foi mencionado o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, nem qualquer tipo de suspeita sobre fraude nas eleições presidenciais brasileiras de 2022, ou dos Estados Unidos em 2020, quando Joe Biden derrotou o republicano Donald Trump. Na entrevista ao The Economist, quando foi perguntado sobre o ex-presidente brasileiro, Milei afirmou que “se trata de uma pessoa que lutou uma batalha que valeu a pena lutar contra o socialismo”. Segundo o candidato argentino, que não apresentou qualquer prova, o violento ataque à democracia brasileira ocorrido em 8 de janeiro passado “foi organizado pelo próprio governo brasileiro, pelo pessoal de Lula”.
Milei expressou, ainda, dúvidas sobre o resultado da eleição presidencial brasileira de 2022, e a americana de 2020 e afirmou que seu partido teve 5% de seus votos roubados e anunciou que os mecanismos de auditoria de seu partido serão melhorados, assim como será ampliado o número de auditores que atuarão no primeiro turno.