Da Redação – Na Nigéria, uma mãe está usando sua experiência pessoal para chamar a atenção para um problema crescente: o uso indiscriminado de produtos para clarear a pele, uma prática que se tornou tão alarmante que levou o governo a declarar estado de emergência. Após aplicar cremes clareadores em seus seis filhos, na esperança de lhes proporcionar uma aparência que ela acreditava ser mais vantajosa socialmente, a mulher viu os resultados devastadores: cicatrizes permanentes marcaram a pele das crianças, transformando seu desejo de “melhoria” em um pesadelo.
Essa prática, conhecida como despigmentação ou branqueamento de pele, não é exclusividade da Nigéria, mas reflete um fenômeno global que atravessa continentes e culturas. Na África, países como Mali, onde 25% da população utiliza esses produtos, e a República Democrática do Congo, com taxas ainda mais altas, também enfrentam o problema. Na Nigéria, estima-se que até 77% das mulheres recorram frequentemente a cremes, loções e até injeções para atingir um tom de pele mais claro, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A busca por uma pele “ideal” é impulsionada por pressões sociais e padrões de beleza herdados de séculos de colonialismo, que associam a pele clara a status, sucesso e aceitação.
Fora do continente africano, o clareamento de pele também é amplamente disseminado. Na Ásia, países como China, Malásia, Filipinas e Coreia do Sul registram uma prevalência de 40% no uso rotineiro desses produtos, enquanto na Índia campanhas como “Dark is Beautiful” (Pele Escura é Bonita) tentam combater a preferência cultural por tons mais claros, frequentemente promovida pela indústria do entretenimento e pela publicidade. No Oriente Médio e até em comunidades de imigrantes somalis nos Estados Unidos, o uso de clareadores também é comum, muitas vezes sem supervisão médica, o que amplia os riscos.
Na Nigéria, o caso ganhou destaque com o depoimento dessa mãe, que agora luta para conscientizar outras famílias. Ela relata que comprou os produtos em mercados locais, onde cremes com substâncias como hidroquinona, corticosteroides e mercúrio são vendidos livremente, apesar de regulamentações governamentais. Essas substâncias, quando usadas sem controle, podem causar danos graves, como adelgaçamento da pele, infecções, câncer de pele e até problemas sistêmicos, como insuficiência renal e hepática. Em casos extremos, como o da família nigeriana, as cicatrizes são apenas a ponta do iceberg de um impacto que vai além da estética.
A epidemia de clareamento de pele na Nigéria reflete uma crise de saúde pública que a OMS classifica como “urgente”. Enquanto o governo tenta intensificar a fiscalização e proibir produtos perigosos, a realidade é que a oferta continua acessível, alimentada por um mercado global bilionário. Na Ásia, por exemplo, injeções de glutationa prometem resultados rápidos, mas já levaram a alertas em países como Gana, onde autoridades advertiram sobre os riscos ao feto quando usadas por grávidas. Na África do Sul, uma das legislações mais rígidas do continente baniu a hidroquinona em cosméticos, mas o comércio informal persiste.
Especialistas apontam que a solução vai além de proibições. “É preciso mudar a percepção de beleza”, afirma um dermatologista local, destacando a necessidade de campanhas educativas que valorizem a diversidade de tons de pele. Enquanto isso, a mãe nigeriana segue sua missão pessoal, pedindo que outras famílias não repitam seu erro. “Queria o melhor para meus filhos, mas só trouxe sofrimento”, lamenta, em um apelo que ecoa como um alerta global.