
Medford, 09 de Outubro de 2025
Em um país dividido como nunca, a política de deportações em massa de Donald Trump emerge como o raro ponto de consenso na agenda imigratória: a maioria dos americanos apoia a remoção de indocumentados. Mas, como revela uma pesquisa fresca do The New York Times e da Universidade Siena, esse apoio é frágil, condicionado a um “como” que o governo tem ignorado, gerando acusações de injustiça, excessos e até violações humanitárias. Nove meses após a posse em janeiro, com mais de 500 mil deportações registradas, o poll expõe as fissuras de uma nação que quer leis aplicadas, mas não a qualquer custo. A enquete, conduzida de 22 a 27 de setembro com 1.313 eleitores registrados via telefone e mensagens de texto (em inglês e espanhol, margem de erro de ±3%), pinta um quadro complexo.
54% apoiam explicitamente “deportar imigrantes vivendo ilegalmente nos EUA de volta a seus países de origem”. O número salta para 92% entre republicanos, reflete-se em 52% dos independentes e surpreende com 21% dos democratas – um grupo que, em pesquisas anteriores, mal chegava a 10%. “É o issue mais forte de Trump”, comenta o analista Ed Morrissey, do Hot Air. “Mesmo em um poll do NYT, que não é exatamente amigável, ele vence por 12 pontos líquidos nessa frente.” Mas o entusiasmo evapora quando se olha para a execução. 53% classificam o processo como “injusto”, contra 44% que o veem como “justo”. Outro 51% diz que as ações “foram longe demais”, influenciados or relatos de famílias separadas, deportações equivocadas (como voos para nações terceiras) e detenções em massa sem audiências.
Em Chicago, por exemplo, operações federais em bairros latinos geraram protestos violentos em julho, com agentes do ICE enfrentando manifestantes armados. Em Washington, D.C., raids em comunidades de imigrantes centro-americanos acumularam 2.500 queixas por “abuso de autoridade” no Departamento de Justiça.
Essa dissonância – apoio conceitual versus repúdio prático – afeta 15% dos eleitores, um “meio complicado” que aprova deportações seletivas (51% acham que o governo mira os “certos”, como criminosos) mas critica o espetáculo.
A aprovação de Trump em imigração geral é pequena: 46% aprovam, 52% desaprovam, com o presidente afundando entre mulheres (38% de aprovação) e hispânicos (42%). Comparado a abril de 2025, quando o apoio era idêntico (54%), as críticas subiram 4 pontos, possivelmente impulsionadas por coberturas midiáticas de “voos da vergonha” – aviões da Força Aérea lotados com deportados, como os 80 guatemaltecos enviados de Fort Bliss, Texas, em janeiro.
Analistas atribuem o fenômeno à “fadiga Trump”: o segundo mandato reviveu promessas de 2016, como o “muro” expandido e o fim de proteções humanitárias para 300 mil pessoas, mas a realidade logística – 11 milhões de casos pendentes no sistema de imigração – expõe falhas. “Eles querem ordem, não caos”, diz Della Volpe, de Harvard. O Center for Immigration Studies (CIS) corrobora: deportações são a “política mais popular de Trump”, superando até vetos de viagem, mas alertam que excessos podem erodir o ganho. Do lado humano, histórias como a de Shaban Binnatli, motorista de entregas em Virginia e eleitor de Trump, ilustram o dilema. “A lei deve valer para todos”, diz ele, mas confia que “não deportarão quem está aqui legalmente”.
Já Ramirez, ativista em Los Angeles, relata: “Vi mães algemadas na frente de crianças. Isso não é América.” O regime Trump rebate com dados: 70% dos deportados tinham antecedentes criminais, e o Cartel dos Sóis (ligado à Venezuela) foi desmantelado em parte graças a essas operações.
Politicamente, o poll é um sinal para as midterms de 2026. Democratas, com +2 no ballot genérico (49-47%), miram independentes com narrativas de “deportações desumanas”, enquanto republicanos agitam o “apoio majoritário” em comícios.
Trump, em post no X ontem, quarta-feira, 08, no X : “54% dos americanos comigo – os radicais de esquerda choram, mas a lei vence!”
Críticos, como a senadora Elizabeth Warren, contra-atacam: “Apoio à ideia não é aval para crueldade.”
Em resumo, a pesquisa sinaliza um equilíbrio precário: Trump capitaliza o medo da imigração descontrolada (com 72% vendo a economia como “ruim ou regular”), mas arrisca backlash se não humanizar o processo. Com o shutdown governamental iminente a imigração pode virar o fiel da balança. Como Binnatli resume: “Quero segurança, mas não à custa da decência.”