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Em um ano marcado por intensificação das operações de imigração sob a administração Trump, os Estados Unidos enfrentam um escândalo crescente envolvendo imigrantes ilegais que, surpreendentemente, assumem posições de autoridade armada em forças policiais locais. Dois casos recentes – um em Illinois e outro em Maine – expõem falhas gritantes nos processos de verificação de antecedentes, violando leis federais sobre posse de armas e imigração. Esses incidentes não só colocam em risco a segurança pública, mas também reacendem o debate acalorado sobre cidades suntuárias e a aplicação da lei em meio a pressões políticas.
Na quarta-feira, 15 de outubro, agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE) prenderam Radule Bojovic, um montenegrino de 35 anos, durante uma operação de fiscalização em Rolling Meadows, subúrbio de Chicago. Bojovic, que havia sido empossado recentemente como oficial de polícia no Departamento de Polícia de Hanover Park, estava ilegalmente nos EUA há mais de uma década. Ele entrou no país com um visto de turista B-2 em 2015, mas excedeu o prazo de permanência em 31 de março daquele ano, tornando-se um imigrante indocumentado.
A prisão ocorreu como parte da “Operação Midway Blitz”, uma ação federal direcionada a imigrantes indocumentados com histórico criminal na região de Chicago. Bojovic, que se formara na Suburban Law Enforcement Academy e recebia um salário inicial de US$ 78.955, estava em fase de treinamento de campo. No momento da detenção, ele apresentou sua identificação de funcionário, confirmando seu cargo, e admitiu não portar arma porque só o fazia durante o serviço. No entanto, como imigrante ilegal, ele estava proibido por lei federal de possuir ou portar armas de fogo – uma violação grave classificada como felony.“Imigrantes ilegais estão proibidos de possuir ou portar armas de fogo – ponto final”, declarou Sam Olson, diretor do Escritório de Campo de Operações de Execução e Remoção do ICE em Chicago.
Olson criticou duramente o departamento de polícia local por contratar Bojovic e emitir-lhe uma arma, chamando-o de “o segundo caso conhecido nos últimos meses de um departamento de polícia local contratando um imigrante ilegal e emitindo ilegalmente uma arma de fogo para ele durante o serviço, em violação da lei federal”. O Departamento de Segurança Interna (DHS) divulgou a crítica, acusando jurisdições locais de desrespeitarem a lei federal em detrimento de suas comunidades.
O Departamento de Polícia de Hanover Park alegou que Bojovic passou por verificações de antecedentes, mas o caso expôs lacunas no processo, especialmente em uma cidade santuária como Chicago. Bojovic permanece detido em uma instalação do ICE, aguardando procedimentos de deportação. O incidente gerou controvérsias políticas, com republicanos apontando falhas nas políticas do governador democrata JB Pritzker, que foi acusado de “recusa contínua em cumprir as leis federais, comprometendo o bem-estar dos residentes de Illinois”.
Paralelo Alarmante em Maine: O Reserva Policial Jamaicano e a Tentativa de Compra de Arma
Menos de três meses antes, em 25 de julho, um caso similar chocou o estado de Maine. Jon Luke Evans, um jamaicano de 32 anos atuando como policial reserva no Departamento de Polícia de Old Orchard Beach, foi detido em Biddeford por uma operação conjunta entre o ICE de Boston e o Bureau de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF).

Evans entrou legalmente nos EUA em 24 de setembro de 2023, via Aeroporto Internacional de Miami, com um visto que exigia sua saída até 1º de outubro. Ele, porém, não embarcou no voo programado e permaneceu ilegalmente no país desde então. A prisão foi desencadeada por uma tentativa de Evans de adquirir uma arma de fogo de forma ilegal – uma ação que ele admitiu ter feito para seu emprego como oficial reserva. O pedido ativou um alerta automático no sistema do ATF, que coordenou com o ICE para a detenção imediata. “Jon Luke Evans não só quebrou a lei de imigração dos EUA, mas também tentou ilegalmente comprar uma arma de fogo”, afirmou Patricia Hyde, oficial de campo interina do ICE ERO em Boston.
Hyde criticou o departamento de polícia de Old Orchard Beach por “contratar um imigrante ilegal e emitir-lhe ilegalmente uma arma de fogo enquanto em serviço, o que seria cômico se não fosse tão trágico”. Diferentemente do caso de Bojovic, Evans alegou ter sido aprovado pelo programa federal E-Verify do DHS antes da contratação em maio de 2025. O chefe de polícia Elise Chard defendeu que o departamento realizou verificações rigorosas, incluindo formulários I-9, certidão de nascimento jamaicana, carteira de motorista de Massachusetts e cartão de autorização de trabalho. No entanto, o DHS rebateu, afirmando que a dependência exclusiva do E-Verify não isenta as agências locais de verificações adicionais, e que o departamento “sabia ou deveria saber” do status ilegal de Evans. Em agosto, um juiz de imigração concedeu a Evans a saída voluntária dos EUA, evitando deportação forçada.
O caso de Evans não foi isolado: em abril, o ICE prendeu Gratien Milandou Wamba, um congolês ilegal trabalhando como oficial de correções em Falmouth, Maine, por tentativa similar de compra de arma.
Tendência Preocupante: De Policiais a Ameaças Armadas
Esses incidentes destacam uma tendência alarmante em 2025: pelo menos três casos de funcionários públicos armados – incluindo um superintendente de escola em Iowa preso em setembro – revelam brechas em sistemas de verificação que permitem a imigrantes indocumentados acessarem armas e autoridade. Especialistas em imigração, como o repórter Billal Rahman da Newsweek, atribuem o aumento a esforços ampliados do ICE sob Trump, mas alertam para o impacto humano e as acusações de abuso em detenções.
Defensores de direitos imigrantes, como grupos em Chicago e Maine, argumentam que prioridades do ICE deveriam focar em criminosos violentos, não em “trabalhadores comunitários”. Já críticos republicanos veem nesses casos prova de falhas em cidades santuárias, onde leis locais limitam a cooperação com federais. “Temos departamentos de polícia quebrando a lei que juram defender para empregar imigrantes ilegais”, disse Tricia McLaughlin, secretária assistente do DHS.
Impacto na Comunidade e Lições para o Futuro
Em Hanover Park, residentes expressaram choque: “Como alguém ilegal pode patrulhar nossas ruas armado?“, questionou um morador local à CBS Chicago. Em Old Orchard Beach, o departamento iniciou uma revisão interna, enquanto Evans, outrora visto como um oficial promissor, agora enfrenta retorno forçado à Jamaica. Esses escândalos forçam uma reflexão urgente: como equilibrar a aplicação rigorosa da lei com a necessidade de mão de obra em serviços essenciais? Enquanto o Congresso debate reformas imigratórias, casos como os de Bojovic e Evans servem de lembrete sombrio de que a segurança pública não pode ser comprometida por verificações superficiais. O ICE promete mais operações, mas a pergunta persiste: quantos mais “oficiais fantasmas” armados espreitam nas sombras das forças policiais americanas?