
Worcester, Massachusetts, 31 julho de 2025 – Vai passar muito tempo até a comunidade brasileira em Massachusets esquecer o que aconteceu na Eureka St, em Worcester, e algumas pessoas jamais esquecerão. Era 8 de maio quando o barulho de sirenes e gritos rompeu o silêncio da manhã quando Agentes federais do ICE, armados e implacáveis, cercaram a casa de uma família brasileira. No centro desse furacão, a imigrante brasileira Rosane Ferreira de Oliveira, 40 anos, foi algemada diante dos olhos de suas filhas. Entre elas, Karoline Ferreira de Moura, uma menina de 13 anos, que agora está desaparecida. Onde está Karoline? Como uma adolescente some do radar do Estado após ser arrancada de sua família? Para entender essa história, é preciso voltar ao dia em que tudo desmoronou.
Era uma quarta-feira comum até que o ICE transformou a rua num palco de tensão. Vídeos gravados por vizinhos mostram a cena: mais de 30 pessoas, entre moradores e ativistas, cercam os agentes, gritando pedindo para as autoridades exibirem um mandado. “Mostrem o papel!”, diziam. No meio do tumulto, Rosane, mãe de Karoline, chega correndo. Minutos antes, suas filhas, Augusta Clara, de 21 anos, e uma adolescente de 17, foram abordadas com um bebê de três meses nos braços. A mensagem dos agentes era clara: ou Rosane aparecia, ou as meninas seriam levadas. “Usaram a gente como isca”, desabafa Augusta, com a voz embargada, em entrevista à Rolling Stone.
Rosane se entregou para proteger as filhas. Algemada, foi levada enquanto a multidão protestava. A filha de 17 anos também foi detida brevemente, mas liberada horas depois. Karoline, a caçula, assistiu a tudo. O trauma daquele dia, dizem os que conhecem a família, nunca a deixou. Após a prisão da mãe, ela foi entregue ao Departamento de Crianças e Famílias (DCF). Mas, em 20 de julho, a notícia caiu como uma bomba: Karoline não estava mais sob custódia do Estado. Ela desapareceu.
Karoline Ferreira de Moura é uma menina de 13 anos, brasileira, com sonhos que ninguém sabe ao certo quais são. As autoridades divulgaram duas fotos dela, mas não há detalhes sobre sua altura, peso ou o que vestia quando sumiu, um retrato do descaso. O que se sabe é que ela carrega o peso de uma história marcada por separação e medo. “Ela tá assustada”, garante Andrés Latarugo, advogado da família. Ele explica que Karoline poderia pedir um visto juvenil especial, mas o trauma da prisão da mãe e a incerteza sobre o futuro podem tê-la feito fugir. “Desde que a irmã dela foi pro Brasil, acho que ela quer estar com a família”, diz.
Sarai Rivera, líder comunitária de Worcester, conhece bem histórias como essa. “Se ela tava num lar adotivo, é capaz que só quisesse voltar pra quem ela ama”, reflete, com a voz firme, mas preocupada. Sarai cobra ação imediata: “Tem que ter um relatório de criança desaparecida. Não pode esperar.” O Departamento de Polícia de Worcester confirma que está procurando Karoline, mas os detalhes são escassos. O que aconteceu entre o dia em que ela deixou o DCF e agora? Ninguém responde.

Rosane Ferreira de Oliveira, a mãe de Karoline, vive um pesadelo à parte. Detida pelo ICE, ela está numa prisão em Dover, New Hampshire, a quilômetros de distância da filha desaparecida. Em fevereiro, Rosane enfrentou acusações criminais por uma briga familiar – teria agredido uma parente com um cabo de celular. Mas, em 18 de julho, o caso foi arquivado quando a vítima desistiu de prosseguir. Livre das acusações criminais, Rosane continua presa, agora por questões imigratórias. Sua audiência de asilo está marcada para 23 de setembro, mas, sem ela, a família se desintegra.
Augusta Clara, a filha mais velha, voltou ao Brasil. A filha de 17 anos tenta seguir a vida em Worcester. E Karoline? Ninguém sabe. Há quem diga que ela pode estar tentando chegar ao Brasil, onde tem parentes. Outros temem que esteja escondida, vulnerável, em algum canto dos Estados Unidos. “É uma menina de 13 anos, sozinha. Como deixaram isso acontecer?”, questiona um vizinho da Eureka Street, que prefere não se identificar.
A prisão de Rosane não foi um caso isolado. Em maio, o ICE lançou a “Operação Patriot” em Massachusetts, prendendo 1.461 pessoas. Nem todas tinham antecedentes criminais, como mostra o caso de Rosane. A operação na Eureka Street virou símbolo de resistência. No Dia das Mães, três dias depois, a marcha “Mãos Fora das Mães de Worcester” levou dezenas ao Worcester Common. Cartazes pediam o fim das deportações e justiça para famílias imigrantes. “Isso não é só sobre uma família. É sobre todas nós”, dizia Etel Haxhiaj, vereadora e filha de imigrantes, que estava na cena da prisão.
A comunidade está ferida, mas unida. Organizações como a LUCE Immigrant Justice Network relatam um salto nas denúncias contra o ICE: mais de 50 prisões numa única semana. O prefeito Joseph Petty chamou a operação de “devastadora” e pediu regras claras para limitar a cooperação entre a polícia local e os agentes federais. Mas, enquanto as autoridades discutem, Karoline segue sumida.
O Silêncio que Assusta

O DCF, responsável por Karoline, não responde às perguntas. Como uma menina de 13 anos sai da custódia sem deixar rastros? O que foi feito para protegê-la? O Centro Nacional para Crianças Desaparecidas (NCMEC) divulgou um alerta, mas a falta de informações concretas preocupa. “É como se ela tivesse evaporado”, lamenta um ativista local.
Por trás do desaparecimento de Karoline, há uma história maior: a de famílias imigrantes que vivem sob o medo constante da deportação. Worcester, uma cidade de 200 mil habitantes, é lar de milhares de brasileiros, muitos fugindo da violência e da pobreza. Mas aqui, em solo americano, enfrentam outro tipo de violência – a das políticas que separam mães de filhos, que transformam ruas pacatas em campos de batalha.
A polícia de Worcester pede que quem souber de algo sobre Karoline ligue para 1-508-799-8606. Um número de telefone, duas fotos e uma comunidade em angústia é tudo o que resta enquanto Karoline não aparece. Sua história é um grito de alerta preso na garganta de Worcester, um lembrete de que, por trás das estatísticas do ICE, há nomes, rostos, sonhos. Karoline é um deles. E ela precisa ser encontrada. Se você sabe onde está Karoline Ferreira de Moura, não se cale. Ligue, denuncie, ajude.
Uma menina de 13 anos não pode carregar sozinha o peso de um sistema que falhou com ela.