
Washington, 4 de novembro de 2025 –
Richard Bruce Cheney, o 46º vice-presidente dos Estados Unidos e figura central na “guerra ao terror” pós-11 de Setembro, faleceu na noite de 3 de novembro aos 84 anos. A causa da morte foram complicações de pneumonia e doenças cardíacas e vasculares, conforme comunicado da família. Cheney, que sobreviveu a cinco infartos e recebeu um transplante de coração em 2012, estava ao lado da esposa Lynne, com quem foi casado por 61 anos, e das filhas Liz e Mary. “Dick Cheney foi um grande e bom homem que ensinou seus filhos e netos a amar nosso país, e a viver vidas de coragem, honra, amor, bondade e pesca com mosca”, declarou a família em nota. “Estamos gratos além das medidas por tudo o que Dick Cheney fez por nosso país.”
Nascido em 30 de janeiro de 1941 em Lincoln, Nebraska, Cheney construiu uma carreira de mais de quatro décadas em Washington. Iniciou como estagiário no Congresso, serviu como chefe de gabinete da Casa Branca sob Gerald Ford (1975-1977), representou Wyoming na Câmara dos Deputados por seis mandatos (1979-1989) – onde chegou a líder da minoria republicana – e foi secretário de Defesa de George H.W. Bush (1989-1993), supervisionando a Operação Tempestade no Deserto na Guerra do Golfo.
Em 2000, o então governador do Texas, George W. Bush, o convidou para liderar a busca por um vice na chapa republicana. Cheney acabou se tornando o escolhido, transformando o cargo – historicamente cerimonial – em um centro de poder inédito. Analistas o descreviam como “presidente paralelo”, influenciando decisões de guerra, economia e inteligência.
As 5 controvérsias que o transformaram em “Darth Vader”
Cheney deixou um legado dividido: para aliados, um patriota implacável; para críticos, o arquiteto de erros catastróficos. Aqui, algumas das posições mais polêmicas:
- Invasão do Iraque (2003): Como principal defensor da guerra, Cheney alegou repetidamente que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa (ADM) e ligações com a Al-Qaeda – informações depois desmentidas. A invasão, sem aval pleno da ONU, custou mais de 4.400 vidas americanas e centenas de milhares de iraquianos, gerando caos sectário e o surgimento do Estado Islâmico. Em 2011, ele ainda defendia: “Eu faria tudo de novo”.
- Técnicas de interrogatório reforçado (tortura): Cheney autorizou o “waterboarding” e outras práticas em Guantánamo e prisões secretas da CIA. Em entrevistas pós-mandato, afirmou: “Eu defenderia novamente porque salvou vidas americanas”. Relatórios do Senado (2014) classificaram-nas como ineficazes e violadoras de leis internacionais.
- Vigilância em massa sem mandado: Após o 11/9, impulsionou o programa de escuta da NSA que monitorou milhões de cidadãos sem autorização judicial. Revelado por Edward Snowden, foi declarado ilegal, mas Cheney o chamou de “essencial para a segurança nacional”.
- Conflito de interesses com Halliburton: Entre 1995 e 2000, foi CEO da petrolífera Halliburton, que recebeu bilhões em contratos no Iraque sem licitação. Cheney manteve ações e bônus diferidos, alimentando acusações de lucrar com a guerra.
- Posições sociais conservadoras: No Congresso, votou contra a liberação de Nelson Mandela, contra sanções ao apartheid sul-africano e contra proibir balas perfurantes de blindagem (“cop-killer bullets”). Embora apoiasse o casamento gay (sua filha Mary é lésbica), alinhou-se à base republicana em temas como aborto e controle de armas.
Em 2011, Cheney apareceu no talk show noturno The Tonight Show with Jay Leno vestindo o traje completo do vilão Darth Vader, da saga Star Wars, para promover seu livro de memorias e rebater – com bom humor – as críticas de opositores. Longe de se incomodar com o apelido, ele declarou que se sentia “honrado” pela comparação e revelou já ter usado a fantasia no Halloween de um ano, ainda morando na residência oficial do vice-presidente.
O crepúsculo anti-Trump
Nos últimos anos, Cheney rompeu com o Partido Republicano ao condenar Donald Trump como “a maior ameaça à nossa república”. Em 2022, narrou um anúncio chamando Trump de “covarde”; em 2024, votou em Kamala Harris. “Em nossa história, nunca houve alguém que represente um risco maior”, declarou.
O funeral deve ser privado, em Wyoming. Cheney será lembrado como o “Darth Vader” da política americana: sombrio, influente e eternamente controverso. Sua morte fecha um capítulo da era Bush – e reacende debates sobre o custo da “guerra ao terror”.


