Da Redação – Alexei Navalny, opositor do presidente russo Vladimir Putin e principal adversário do Kremlin, morreu nesta sexta-feira (16) na prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos, conforme informou o serviço penitenciário.
O Serviço Penitenciário Federal disse, em comunicado, que o opositor de Putin, de 47 anos, se sentiu mal após uma caminhada e perdeu a consciência. Navalny estava detido havia aproximadamente três anos.
O ex-advogado que se tornou conhecido havia mais de uma década por satirizar a elite do presidente Putin e denunciar casos de corrupção ganhou notoriedade na década de 2010 ao liderar movimentos de oposição que levaram milhares de pessoas às ruas em protesto contra o presidente russo.
Ele foi detido pelas forças russas em janeiro de 2021, logo após retornar da Alemanha, onde recebeu tratamento por suspeita de envenenamento.
Navalny foi condenado a uma pena que o manteria na prisão até os 74 anos, sob acusações que ele alegava serem fabricadas com o intuito de mantê-lo afastado da política.
Trajetória
Alexei Navalny, nascido em 1976 em Moscou, graduou-se em Direito. Ele começou sua trajetória política no partido liberal tradicional Jabloko, mas foi excluído. O líder do partido citou as posições nacionalistas de Navalny como razão para sua exclusão. As informações são do portal g1.
Posteriormente, ele se envolveu com a Marcha Russa, um movimento que atrai forças extremistas de direita, nacionalistas e xenófobas. Mais tarde, ele se distanciou em parte desse movimento.
Navalny se posicionava como um político liberal e como o principal opositor de Putin. Em sua plataforma eleitoral, ele prometeu uma “revolução contra a corrupção”, o aumento do salário mínimo e investimentos na construção de estradas e hospitais.
Inicialmente, ganhou destaque como blogueiro e ativista anticorrupção, angariando uma grande quantidade de seguidores nas redes sociais, onde conquistou sua popularidade.
Sua característica marcante, uma mistura de deboche e ironia, parecia cativar o público. Durante os protestos contra a eleição parlamentar de 2011, Navalny rotulou o partido governista Rússia Unida como o “partido dos pilantras e ladrões”, uma expressão que ressoou profundamente na sociedade.
O blogueiro emergiu como um dos principais líderes da oposição durante os protestos. Em relação à política externa, ele prometia pôr fim às guerras conduzidas pela Rússia no Exterior.
“Greve dos eleitores”
Em 2018, milhares de pessoas protestaram em toda a Rússia contra a reeleição do atual presidente, Vladimir Putin, para o quarto mandato.
A “greve dos eleitores” foi convocada por Navalny, impedido de concorrer na eleição. Ele chegou a anunciar sua candidatura presidencial em 2016 e depois estabeleceu uma rede de comitês eleitorais, desde Kaliningrado até Vladivostok.
Ele provavelmente já estava ciente de que não seria autorizado a participar da eleição e, em dezembro de 2017, sua candidatura foi oficialmente rejeitada pelo comitê eleitoral devido a uma condenação por crimes econômicos.
Condenações
Navalny enfrentou várias investigações e foi condenado em dois casos a penas médias, que poderiam ser cumpridas em liberdade condicional.
No primeiro caso, em 2016, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos determinou que o processo por suposto desvio de recursos na empresa madeireira estatal Kirovles foi conduzido de forma arbitrária. No entanto, os juízes em Estrasburgo não identificaram qualquer motivação política no caso.
O processo foi reiniciado, e Navalny e seu sócio foram condenados novamente em fevereiro de 2017. Contudo, em setembro, o Comitê de Ministros do Conselho da Europa concluiu que a decisão da corte europeia não foi totalmente implementada e instou a Rússia a permitir a candidatura de Navalny. Moscou considerou esse pedido uma interferência em assuntos internos.
Uma situação semelhante ocorreu no segundo caso: Navalny e seu irmão Oleg foram acusados de fraude na subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Roche, envolvendo 26 milhões de rublos (cerca de R$ 1,46 milhão).
Em 17 de outubro, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos divulgou seu veredito, declarando que o processo contra Navalny e seu irmão foi injusto e que a decisão dos juízes russos foi arbitrária. Porém, o judiciário russo afirmou novamente não ter identificado uma motivação política na condenação.
Envenenamento
Em agosto de 2020, Navalny começou a sentir-se mal durante um voo da Sibéria para Moscou, resultando em um pouso de emergência na cidade de Omsk, onde ele foi rapidamente levado para a UTI. Posteriormente, após negociações com as autoridades russas, ele foi transportado de avião para Berlim e recebeu tratamento lá enquanto permanecia em coma induzido.
O governo alemão afirmou que Navalny foi envenenado com uma substância sofisticada, o que ampliou ainda mais a atenção ao caso e reforçou as suspeitas de que o Estado russo pudesse estar envolvido no envenenamento. O Kremlin negou qualquer envolvimento nas acusações.
Essas substâncias são empregadas em forma de pó ou líquido. São tão perigosas que sua fabricação é possível apenas em laboratórios altamente avançados, a maioria deles de propriedade ou sob controle governamental.
Inicialmente, especulou-se que o envenenamento teria ocorrido por meio do chá que Navalny havia consumido naquele dia. No entanto, após sua recuperação, ele empreendeu uma investigação pessoal, rastreando os indivíduos que acreditava estarem envolvidos no ataque contra ele.
Sob o disfarce de uma autoridade da área de segurança, Navalny conseguiu enganar um especialista em armas, que teria admitido a natureza do envenenamento. Segundo ele, a maior parte do agente químico teria sido plantada em sua cueca. O governo russo mais uma vez negou as acusações.