JUNOT – Na manhã de terçca-feira,24 de junho, uma iraniana viveu um pesadelo em sua própria casa, em Los Angeles. Detida por agentes mascarados do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), ela sofreu um grave ataque de pânico ao testemunhar a prisão de seu marido por oficiais da Patrulha de Fronteira. A cena, capturada em vídeo e relatada pela emissora NBC4 Los Angeles, é um retrato cruel de uma operação que, para muitos, remete aos métodos de regimes autoritários. “Estou nas ruas de Los Angeles ou de Teerã?”, questionou o pastor Ara Torosian, que presenciou o drama.
Ara Torosian, é líder da Igreja Cornerstone, uma congregação de língua farsi em West Los Angeles, foi chamado por duas pessoas de sua congregação que estavam no local. Ao chegar, ele se deparou com o que descreveu como um “exército” de agentes federais.
Enquanto filmava com seu celular, viu a mulher, uma solicitante de asilo que fugiu da perseguição religiosa no Irã, convulsionar no chão, em desespero. “Ela está em crise! Chamem o 911!”, gritava o Pastor, implorando por ajuda, conforme registrado no vídeo que viralizou nas redes sociais. “Por que estão fazendo isso?”, questionava, enquanto os agentes a continham pressionando-a contra o chão.
O Departamento de Segurança Interna (DHS) informou, em postagem na plataforma X, que os dois iranianos detidos em Los Angeles na terça-feira foram sinalizados como “interesse para a segurança nacional”. Segundo o órgão, os agentes acionaram imediatamente o serviço de emergência, e a mulher foi levada ao hospital, de onde recebeu alta, mas ele e o marido permanecem sob custódia imigratória.
O não foi caso isolado. Na segunda-feira, 23, outra família iraniana da mesma congregação, composta por um casal e sua filha de três anos, foi detida durante um agendamento de rotina com autoridades imigratórias.
Ambos os casais haviam entrado nos EUA pela fronteira com o México, utilizando o sistema CBP One, implementado pelo ex-presidente Joe Biden para organizar travessias legais, mas encerrado por Donald Trump ao assumir o governo. Segundo Torosian, esses imigrantes buscavam asilo devido ao medo de perseguição religiosa no Irã, onde a conversão ao cristianismo pode resultar em prisão ou morte.
As ações do ICE, intensificadas sob o governo Trump, estão sob forte repudio da população. A administração republicana avança com um plano de deportação em massa, visando milhões de migrantes sem status legal. Dados do DHS revelam que, na última semana, 130 cidadãos iranianos foram detidos em operações nacionais, com 670 atualmente em centros de detenção do ICE. Entre os presos, estão indivíduos com antecedentes criminais, como um ex-atirador do exército iraniano e outro com supostas ligações com o Hezbollah, segundo fontes do DHS.
A operação em Los Angeles ocorre em um contexto de tensão elevada após ataques militares dos EUA contra três instalações nucleares iranianas, na operação chamada “Operation Midnight Hammer”, no último domingo. A ação militar colocou os iranianos nos EUA sob um holofote incômodo, com alertas de especialistas sobre possíveis “células adormecidas” de terroristas, embora nenhum dos detidos da congregação de Torosian tenha antecedentes criminais, conforme relatado pelo pastor.
Uma decisão da Suprema Corte dos EUA, anunciada na segunda-feira, 23 de junho, ampliou o poder do governo Trump para deportar migrantes para países terceiros, sem a necessidade de oferecer uma chance para que contestem os riscos de tortura ou perseguição nesses destinos.
Torosian, ele próprio um cidadão naturalizado dos EUA, relatou que sua congregação, com 50 a 60 membros, a maioria recém-chegada ao país, está aterrorizada. Com o coração partido, ele cancelou os cultos da igreja. “Em um milhão de anos, eu nunca imaginei que diria aos meus membros para não virem à igreja, porque, pelo que sei, a América é um país livre, mas eles estão com medo”, desabafou. “Alguns se trancam em casa.” A visão de uma mulher sendo imobilizada por agentes mascarados o marcou profundamente: “Aquilo me trouxe de volta à dor de Teerã. Chorei muito.”
A história dessa mulher e de sua comunidade cristã iraniana reflete o drama de quem deixa tudo para trás em busca de refúgio, mas encontra, em vez disso, o peso de políticas implacáveis. Em Los Angeles, o eco dos gritos dela ressoa como um lembrete de que, para muitos, a terra da liberdade pode se transformar em um palco de medo de dor e desgraças.