
Em um discurso de quase uma hora na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou ao palco global com uma mensagem combativa, centrada na doutrina “América Primeiro”. Falando no dia em que a ONU celebrou seus 80 anos, Trump questionou a relevância da organização, criticou aliados europeus, rejeitou a agenda climática e adotou uma postura dura em conflitos internacionais, como Gaza e Ucrânia. O tom, marcado por queixas pessoais e autopromoção, dividiu o plenário, com reações que variaram de aplausos esporádicos a silêncios constrangedores.
Trump abriu sua fala com críticas contundentes à ONU, descrevendo-a como uma instituição que “nunca ajudou os Estados Unidos” e que perdeu sua eficácia em um mundo de nações enfraquecidas por lideranças falhas. Ele anunciou a continuidade de cortes de financiamento americano, incluindo a retirada dos EUA da Agência de Socorro da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) e do Conselho de Direitos Humanos, medidas já implementadas desde o início de 2025. Em tom irônico, Trump chegou a zombar do “mármore barato” da sede da ONU, reforçando sua visão de que a organização precisa de reformas drástica líderes aqui precisam acordar”, declarou, sugerindo que a ONU falha em lidar com crises globais. Ele também revisitou queixas antigas, como a rejeição de suas propostas de reforma nos anos 2000, quando era um empresário influente.
Energia e Críticas aos Aliados
Um dos pilares do discurso foi a defesa dos combustíveis fósseis e a rejeição à transição energética global, que Trump rotulou como um “golpe da energia verde”. Ele criticou diretamente a Europa, especialmente a Grã-Bretanha, acusando-a de afastar produtores de petróleo com impostos altos e políticas “fracas”.
“Energia solar e eólica custam mais caro e não entregam“, afirmou, defendendo que os EUA continuarão a priorizar petróleo e gás para manter a competitividade econômica. A mensagem foi direcionada tanto aos líderes presentes quanto à sua base doméstica, que aplaude sua resistência à agenda climática. Trump alertou que países que seguem a transição energética estão “indo para o inferno”, em uma provocação direta a nações como Alemanha e França, que lideram esforços de descarbonização.
Conflitos Internacionais: Gaza e Ucrânia
Na questão de Gaza, Trump pediu o fim imediato do conflito, mas foi categórico ao rejeitar o reconhecimento de um Estado palestino, aprovado por quase 150 países em uma recente resolução da ONU. Ele defendeu Israel, alertando contra a escalada da guerra para Líbano, Síria e Irã, e criticou a ONU por “isolar” seu aliado. “A paz real não vem de resoluções que ignoram a segurança de Israel”, disse, em uma mensagem que ecoou entre delegados de nações aliadas, mas gerou silêncio entre representantes do Sul Global.
Sobre a Ucrânia, Trump adotou uma postura ambígua, ameaçando a Rússia com “medidas econômicas fortes” caso o conflito persista, mas sugerindo que sua administração poderia liderar negociações de paz. Ele reivindicou ter “terminado sete guerras” e mencionou a possibilidade de receber um Nobel da Paz, o que provocou reações mistas no plenário.
Autopromoção e Liderança Americana
Ao longo do discurso, Trump destacou conquistas de sua administração, como a recepção de líderes mundiais em Nova York e a nomeação de Ahmed Al-Sharaa como novo líder sírio, apresentando-as como exemplos de sua influência global. Ele também reforçou sua imagem de líder disruptivo, capaz de “resolver problemas” onde a ONU falhou. A menção a um possível Nobel da Paz, embora dita em tom leve, foi recebida com ceticismo por parte da audiência.Trump também usou o discurso para reforçar a soberania americana, rejeitando qualquer tentativa de “impor” agendas globais aos EUA. “Ninguém diz aos Estados Unidos o que fazer”, afirmou, em uma mensagem que é direcionada a sua base doméstica, mas pode complicar parcerias internacionais.
O discurso de Trump, descrito pela imprensa internacional como “um desabafo carregado de exageros”, contrastou com mensagens de cooperação, como a do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu multilateralismo e justiça climática no mesmo dia. Enquanto algumas delegações, como a de Israel, aplaudiram a postura pró-soberania, outras, especialmente do Sul Global, receberam as críticas à ONU e à energia verde com reservas.
Fora da sede da ONU, protestos de grupos como Rise and Resist denunciaram a posição de Trump sobre a Palestina, pedindo que nações “virassem as costas” ao presidente americano. Líderes europeus, alvos de suas críticas, evitaram comentários diretos, mas fontes diplomáticas indicam preocupação com a escalada do isolacionismo americano.
O discurso de Donald Trump na ONU em 2025 foi uma reafirmação de sua visão isolacionista, com críticas contundentes à ONU, à agenda climática e a aliados tradicionais. Embora tenha abordado conflitos globais, sua retórica centrada em queixas pessoais e na defesa da soberania americana limitou o apelo a uma audiência internacional que busca cooperação. Em um mundo polarizado, Trump optou por reforçar divisões, apostando em uma liderança unilateral que pode isolar os EUA em debates cruciais, como clima e paz.