
Malden, MA, 03, de Novembro de 2025
Em uma entrevista polêmica exibida no domingo (2) pelo programa “60 Minutes”, da CBS News, o presidente Donald Trump defendeu veementemente as operações agressivas de deportação de imigrantes conduzidas pela Imigração e Controle de Alfândegas (ICE), afirmando que elas “não foram longe o suficiente”. A declaração, dada em resposta a questionamentos sobre táticas violentas usadas por agentes federais, reacendeu debates sobre os limites da aplicação da lei de imigração nos Estados Unidos, especialmente em meio a protestos em cidades democratas e decisões judiciais que barram ações do governo.
A entrevista, a primeira de Trump no programa em cinco anos e conduzida pela âncora Norah O’Donnell em Mar-a-Lago, na Flórida, ocorreu em um momento de tensão: desde a posse de Trump em janeiro de 2025, sua administração tem priorizado a promessa de campanha de deportações em massa, visando “os piores dos piores” – criminosos e indivíduos com antecedentes violentos. No entanto, relatos e vídeos mostram que as operações têm afetado trabalhadores comuns, como pais de família e empregados em setores essenciais, gerando acusações de excesso de força.
A Declaração que Inflamou o Debate
O’Donnell confrontou Trump diretamente com imagens recentes de raids em cidades como Chicago e Boston. “Americanos têm visto vídeos de agentes da ICE derrubando uma mãe jovem ao chão, usando gás lacrimogêneo em bairros residenciais de Chicago e quebrando vidros de carros. Algumas dessas operações não foram longe demais?”, perguntou a jornalista, citando incidentes específicos, como o uso de marretas para invadir veículos e igrejas, e o arrombamento de portas em buscas a suspeitos.
Trump, sem hesitar, rebateu: “Não, acho que elas não foram longe o suficiente. Porque precisamos tirar essas pessoas daqui”. Ele atribuiu os atrasos no processo de deportação a “juízes liberais” nomeados pelos ex-presidentes Barack Obama e Joe Biden, alegando que mais de 100 decisões judiciais federais já bloquearam ações semelhantes desde o início de seu segundo mandato. “Fomos contidos pelos juízes, pelos juízes liberais colocados por Biden e Obama”, reforçou o presidente, reforçando uma narrativa recorrente de sua retórica anti-imigração.

A resposta de Trump foi destacada por veículos como NBC News e The Independent como um endosso explícito às táticas mais duras da ICE, incluindo o uso de gás lacrimogêneo em áreas civis e intervenções físicas que deixaram imigrantes feridos. Segundo a NBC, as operações têm sido filmadas em tempo real, com agentes mascarados invadindo residências e detendo famílias inteiras, o que contrasta com a promessa inicial de focar apenas em “criminosos violentos”.
As blitz da ICE fazem parte de uma estratégia ampliada desde o início de 2025, com o presidente convocando a Guarda Nacional para auxiliar em cidades de estados governados por democratas, como Califórnia e Illinois.
A Bloomberg reportou que Trump busca acelerar o ritmo das deportações para cumprir sua meta de “milhões de remoções”, mas enfrenta resistência legal e logística. “As ações foram filmadas mostrando agentes jogando pessoas ao chão, quebrando janelas de carros e usando gás lacrimogêneo em bairros residenciais”, detalhou o veículo, destacando como essas táticas, aprovadas pela administração, têm sido criticadas por violar direitos humanos.
O The Hill enfatizou incidentes específicos, como o uso de gás em um bairro de Chicago e o arrombamento de veículos em Boston, questionando se as operações extrapolam o escopo prometido. Em San Francisco, o prefeito Daniel Lurie (D) condenou a presença de agentes federais, alertando que ela “incita caos e violência, em vez de reduzir o crime”. Governadores como Gavin Newsom (Califórnia) e JB Pritzker (Illinois) também criticaram Trump, argumentando que as raids semeiam medo em comunidades imigrantes e distraem de problemas reais de segurança pública.
De acordo com a The Independent, as táticas incluem “arremeter contra carros em perseguição a suspeitos, martelar janelas com marretas, invadir igrejas e lidar de forma pesada com manifestantes”. Um caso emblemático ocorreu em setembro, em Manhattan, quando um agente derrubou uma mulher chorando no saguão de um tribunal de imigração, na frente de seus dois filhos pequenos. Esses episódios, amplamente divulgados em redes sociais, têm impulsionado protestos em pelo menos 15 cidades, com ativistas acusando o governo de “terrorismo estatal contra imigrantes”.
Reações e Implicações Políticas
A entrevista, que também tocou em temas como China, Venezuela, Israel e o shutdown governamental, ocorre após Trump processar a CBS em novembro de 2024, alegando edição enganosa em uma entrevista com Kamala Harris. O caso foi resolvido em julho de 2025 com um acordo de US$ 16 milhões, o que, segundo The Hill, marcou uma “vitória” simbólica para o presidente em sua guerra contra a mídia. Apesar disso, O’Donnell pressionou Trump sobre deportações que afetam “jardineiros, fazendeiros e outros trabalhadores”, não apenas criminosos – uma crítica que ele descartou, insistindo que “é preciso deportar as pessoas”.
Analistas políticos, citados pela Bloomberg, veem a declaração como um “triplo down” na agenda anti-imigração, mas alertam para danos à imagem de Trump. Pesquisas recentes mostram que, embora sua aprovação em segurança de fronteiras seja alta, o apoio cai quando se discute o impacto em trabalhadores essenciais. “Isso machuca a mensagem de sucesso na Patrulha de Fronteiras”, comentou um painel da Bloomberg, notando que as operações podem alienar eleitores moderados em um ano de eleições intermediárias.
Organizações de direitos humanos, como a ACLU, reagiram com veemência, prometendo mais ações judiciais. “Trump está admitindo abertamente que quer ir mais longe, o que significa mais violações e mais famílias destruídas”, disse um porta-voz em nota à NBC News.
Enquanto o Congresso debate subsídios do Affordable Care Act e o shutdown ameaça serviços essenciais, a postura de Trump sinaliza que a imigração continuará como uma das frentes mais quentes de seu governo. Com mais raids anunciados para esta semana em Nova York e Los Angeles, o país se prepara para um outono de confrontos – tanto nas ruas quanto nos tribunais.


