Da Redação – Dias depois de o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva usar seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em NY, para defender a soberania dos país ante “indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei”, em uma alusão velada ao bilionário Elon Musk, dono do X (Twitter), a porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Amanda Roberson, afirmou à BBC News Brasil que o governo americano não tomou e nem tomará posição a favor do empresário ou da rede social, que trava uma disputa com o Supremo Tribunal Federal (STF).
“Estamos acompanhando a situação. O X, como uma empresa privada com negócios em muitos países, tem que conduzir seus negócios independentemente. Não é algo em que o governo americano se envolva”, disse Roberson.
A BBC News Brasil questionou a porta-voz sobre uma nota divulgada pela Embaixada dos EUA em Brasília, em 30/8, pouco depois que o ministro Alexandre de Moraes determinou a derrubada do X no país, onde a rede deixou de ter um representante legal. Na nota, a embaixada afirmou que estava “monitorando a situação entre o Supremo Tribunal Federal e a plataforma X. (..) Por política interna, não comentamos decisões de tribunais ou disputas legais”.
Além disso, a nota dizia: “Ressaltamos que a liberdade de expressão é um pilar fundamental em uma democracia saudável”.
Segundo apurou a BBC News Brasil, integrantes do governo e da diplomacia brasileiros viram nesta frase um indireto comentário pró-Musk.
Questionada especificamente sobre isso, Roberson afirmou que “as pessoas vão interpretar as informações como quiserem. É certo que a liberdade de expressão é muito importante para a democracia. Não tomamos posição a favor ou contra uma empresa privada, não é nosso papel”.
O próprio Musk acusou o Brasil de ferir a liberdade de expressão ao retirar do ar a plataforma e demandar a derrubada de posts e perfis considerados desinformação pelo STF. Veículos estrangeiros como a revista britânica The Economist endossaram ao menos parcialmente as críticas do bilionário.
Roberson afirmou que os dois países seguem trabalhando na agenda de cooperação para preservação da democracia e combate à desinformação, especialmente online.
Segundo o brasilianista Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, o fato de que Musk aterrissou no discurso do líder brasileiro na ONU é prova de que, para Lula, de que Elon Musk “foi capaz de atingir a reputação internacional do Brasil”.
Lula usou a queda de braço entre Musk e a Justiça Brasileira como um exemplo bem sucedido de resposta das instituições contra a direita radical transnacional.
E definiu a questão como uma defesa da soberania do Brasil, reafirmando as prerrogativas do país de censurar o ambiente das redes sociais.
Nos últimos dias, Musk parece ter recuado na escalada de tensões em relação ao país ao cumprir ao menos parcialmente as decisões judiciais proferidas em relação ao X, talvez seja porque ele tenha atingido seus objetivos que seria chamar a atenção sobre a crescente pressão dos governos mundiais em tentar limitar a liberdade de expressão ou por qualquer outro motivo ainda não conhecido.
A rede social X já manifestou o desejo de retomar as operações no Brasil e informou judicialmente, nesta terça, 1/10, que cumprirá integralmente todas as demandas arbitradas por Moraes que ainda não levantou a suspensão da rede em território nacional.
Com informações BBC News Brasil