Radio France Internationale (RFI) – Após comemorar a adoção do “Pacto para o Futuro”, texto aprovado neste domingo (22) por líderes dos 193 países da ONU, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, lembrou que o mundo tem “duas grandes responsabilidades: nunca retroceder, não podemos recuar na promoção da igualdade de gênero, nem na luta contra o racismo e toda forma de discriminação”, nem “voltar a conviver com ameaças nucleares”.
“Naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso”, afirmou ainda o presidente brasileiro, antes de lembrar que a crise de governança mundial exige transformações estruturais. Lula considerou que o mundo caminha para um “fracasso coletivo” e que não atingirá metas de redução de fome e pobreza. O presidente brasileiro elogiou ainda o Pacto Global Digital para “diminuir assimetriais” e exclusões decorrentes de “novas tecnologias como a Inteligência Artificial”.
“Falei anteriormente sobre a necessidade de reformar a ONU, para que ela possa cumprir seu papel histórico”, disse o chefe de Estado brasileiro, dizendo que a “reflexão conjunta” havia apresentado frutos, como “o Conselho dos Direitos Humanos”.
“Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construimos tão arduamente”, afirmou Lula, que dispunha de apenas cinco minutos para falar, e acabou tendo o microfone cortado na ONU, por ultrapassar o tempo, mas continuou o discurso até o fim.
Pacto pelo futuro
Em um mundo ameaçado por “riscos catastróficos crescentes” como guerras, mudanças climáticas e pobreza, os líderes dos 193 países da ONU adotaram neste domingo(22) um “Pacto para o Futuro” da humanidade, apesar da oposição de alguns países como Rússia, Venezuela e Nicarágua.
“Convoquei esta cúpula porque os desafios do século 21 devem ser resolvidos com soluções do século 21”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a adoção deste texto com 56 medidas para enfrentar os “maiores desafios do nosso tempo”.
Estes desafios vão desde a reforma do Conselho de Segurança da ONU, a arquitetura financeira global, a manutenção da paz e as mudanças climáticas, até questões mais inovadoras, como a inteligência artificial.
Guterres lançou a ideia da chamada ‘Cúpula do Futuro’ em 2021, mas nos últimos dias não escondeu sua frustração diante das dificuldades de chegar a um consenso para um texto ambicioso, para o qual pediu aos Estados que mostrassem “visão”, “coragem ” e “ambição”.
“Acreditamos que existe um caminho para um futuro melhor para toda a humanidade, incluindo para aqueles que vivem na pobreza e na exclusão”, diz o texto, ao qual se opuseram Rússia, Venezuela, Nicarágua, Coreia do Norte e Belarus.
Apesar da oposição dos países liderados pela Rússia, o Pacto e os seus anexos (Pacto Global Digital e Declaração para Gerações Futuras) foram adotados por consenso, mas não são vinculantes.
Esta nova “caixa de ferramentas” define novos compromissos, abre “novos caminhos para novas possibilidades e oportunidades”, lembrou Guterres, que prometeu trabalhar “para sua concretização até ao último dia” de seu mandato.
“Não retroceder”
“Abrimos a porta, agora todos nós devemos passar por ela, pois não se trata apenas de nos entender, mas de agir. E hoje os desafio a agir”, disse Guterres.
Para a ONG Human Rights Watch, o projeto inclui alguns “compromissos importantes” nesta área, e também acolhe os elementos importantes sobre “direitos humanos”.
Mas “os líderes mundiais devem demonstrar que estão dispostos a agir para garantir o respeito pelos direitos humanos”, insistiu Louis Charbonneau, especialista da ONG na ONU.
O combate ao aquecimento global foi um dos pontos mais sensíveis da negociação, em particular a “transição” das energias fósseis para as mais limpas.
“Não é revolucionário”
Embora existam algumas “boas ideias”, “não é o tipo de documento revolucionário” para reformar o multilateralismo que Guterres gostaria, disse Richard Gowan, pesquisador do International Crisis Group.
Uma opinião compartilhada entre diplomatas dos Estados-membros da ONU: “morno”, “o menor denominador comum”, “decepcionante” foram os adjetivos mais frequentes para classificar o documento.
Os países em desenvolvimento exigiram compromissos concretos relacionados às instituições financeiras internacionais, para facilitar o acesso preferencial ao financiamento de medidas para enfrentar as mudanças climáticas.
“Este é um sinal positivo para o caminho a seguir, mas o verdadeiro trabalho está na implementação e os líderes políticos devem transformar esta promessa em ação”, reagiu o diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Mads Christensen.
“Este pacto deve realmente oferecer um futuro que as pessoas desejam: livre de combustíveis fósseis e um clima seguro”, concluiu.
(Com AFP)