Eliana Pereira Ignacio – O uso excessivo de dispositivos eletrônicos tem gerado impactos profundos na neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e criar conexões neurais em resposta a estímulos. Enquanto a neuroplasticidade é essencial para o aprendizado, adaptação e desenvolvimento cognitivo, a exposição descontrolada e prolongada a estímulos digitais pode causar alterações prejudiciais, afetando a atenção, memória, regulação emocional e até mesmo a saúde mental e o desenvolvimento infantil.
O uso de tecnologia, quando bem administrado, oferece diversos benefícios. Dispositivos eletrônicos podem promover o aprendizado, aumentar a conectividade social, auxiliar na reabilitação neurológica e estimular funções cognitivas. Jogos estratégicos, por exemplo, aprimoram a resolução de problemas, a memória de trabalho e a coordenação motora. Além disso, plataformas digitais permitem o intercâmbio cultural, oferecem ferramentas educacionais valiosas e possibilitam terapias inovadoras, como a realidade virtual, na reabilitação de pacientes.
Estudos mostram que o uso consciente da tecnologia pode fortalecer circuitos neurais associados à multitarefa e ao processamento rápido de informações, permitindo maior e ciência em algumas áreas da cognição. Entretanto, quando o uso da tecnologia se torna excessivo e desregulado, os efeitos negativos começam a predominar.
Um dos principais problemas é a redução da capacidade de atenção e concentração. A fragmentação da atenção, incentivada pela constante troca de estímulos digitais, dificulta o aprofundamento crítico e reflexivo. Além disso, o circuito de recompensa do cérebro, regulado pela dopamina, torna-se altamente vulnerável a estímulos rápidos, como curtidas e notificações, potencializando o vício em dispositivos digitais. Isso pode levar à dessensibilização e compulsão, prejudicando o equilíbrio emocional. Crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis, devido à maior plasticidade cerebral nessa fase de vida.
A exposição prolongada a telas está relacionada a atrasos na linguagem, dificuldade de autorregulação emocional e comprometimento da interação social. Para os adultos, o impacto emocional é igualmente relevante. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, especialmente redes sociais, tem sido associado ao aumento de ansiedade, depressão e insatisfação pessoal.
Estudos apontam que adolescentes que passam várias horas conectados apresentam taxas significativamente mais altas de transtornos emocionais. Além dos efeitos cognitivos e emocionais, o uso prolongado de dispositivos afeta a qualidade do sono.
A luz azul emitida pelas telas inibe a produção de melatonina, essencial para a regulação do sono, levando à fadiga mental e comprometimento da memória. Como consequência, a neuroplasticidade é prejudicada, limitando a capacidade do cérebro de reter informações e lidar com o estresse.
É fundamental equilibrar os aspectos positivos e negativos do uso de tecnologia. Para minimizar os riscos, é importante adotar estratégias como limitar o tempo de exposição a telas, priorizar atividades presenciais e educar as pessoas sobre os impactos dos estímulos digitais na saúde cerebral.
Dessa forma, é possível aproveitar os benefícios da tecnologia de maneira saudável e consciente, promovendo um equilíbrio entre inovação digital e bem-estar cognitivo. Em suma, enquanto a tecnologia pode impulsionar o desenvolvimento e oferecer ferramentas inovadoras para a cognição, seu uso excessivo pode gerar mudanças prejudiciais na neuroplasticidade, afetando negativamente a atenção, memória, saúde mental e desenvolvimento infantil.
Ao adotar uma abordagem moderada e informada, é possível preservar os benefícios da neuroplasticidade e garantir que a relação com os dispositivos eletrônicos seja positiva e equilibrada. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.”
1 Coríntios 6:12
Saiba mais lendo a próxima sessão !!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com