AFP – O autor dos ataques contra duas mesquitas de Christchurch, Brenton Tarrant, foi condenado nesta quinta-feira (27) a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional pelo assassinato de 51 muçulmanos em 2019 na Nova Zelândia.
Ao pronunciar a pena, o juiz Cameron Mander afirmou que, por trás da ideologia “deturpada” de Tarrant, está oculto um “ódio profundo” que o levou a atacar homens, mulheres e crianças indefesas. “Corresponde ao tribunal dar uma resposta de rejeição categórica diante de uma maldade tão abjeta”, declarou o magistrado, ao pronunciar a sentença sem precedentes na história judicial da Nova Zelândia.
O juiz, que destacou o alto preço pago pela comunidade muçulmana neozelandesa, afirmou que Tarrant fracassou na tentativa de promover a ideologia de extrema-direita.
“Foi brutal e cruel. Suas ações foram desumanas”, declarou.
A primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, comentou a sentença e afirmou desejar que o assassino tenha uma vida de “silêncio total e absoluto”.
Ela disse que espera que a comunidade muçulmana do país sinta “os abraços da Nova Zelândia”.
Seu colega australiano, Scott Morrison, também reagiu à condenação por crimes que classificou de “covardes e horrorosos”.
“É bom que nunca mais voltaremos a ver ou ouvir falar dele”, disse.
Em 15 de março de 2019, o supremacista branco australiano Brenton Tarrant matou a sangue frio 51 fiéis em duas mesquitas de Christchurch, cidade do sul da Nova Zelândia, durante a oração de sexta-feira, e transmitiu ao vivo o massacre pela internet, provocando uma onda de indignação no mundo.
Tarrant foi declarado culpado por 51 assassinatos, 40 tentativas de assassinato e por um ato terrorista.
– “A única condenação apropriada” –
O promotor Mark Zarifeh afirmou que o massacre “não tem precedentes na história criminal da Nova Zelândia”.
“Foi motivada por uma ideologia racista e xenófoba bem arraigada”, disse. A prisão perpétua era “a única condenação apropriada” para Tarrant.
“Nenhum período mínimo é suficientemente longo para responder à gravidade do crime e às perdas humanas e às feridas que foram devastadoras para os parentes das vítimas”, insistiu.
O condenado, um australiano de 29 anos, permaneceu impassível ao ouvir os depoimentos dos sobreviventes, consumidos pela dor, durante os quatro dias de audiências.
Alguns deles estavam furiosos e afirmaram que o “terrorista” merecia morrer ou “nunca mais ver o sol”.
Quando as testemunhas o chamaram de “demônio” e “criminoso abjeto” que destruiu vidas, mas que fortaleceu a comunidade muçulmana da Nova Zelândia, Tarrant apenas passou a mão na barba.
Tarrant optou por assumir a própria defesa, abriu mão dos advogados no mês passado e decidiu não fazer uso da palavra durante o julgamento.
Até segunda-feira, o assassino participara por videoconferência, da penitenciária de segurança máxima de Auckland, das audiências anteriores.
Durante o julgamento, o promotor Barnaby Hawes contou como, no dia do massacre, o australiano abriu fogo metodicamente contra mulheress, crianças e homens, enquanto gravava o massacre e transmitia ao vivo pelas redes sociais, como ignorou as súplicas de algumas vítimas, como passou por cima de um corpo quando seguiu de uma mesquita para outra.
Quando viu Mucad Ibrahim, de três anos, agarrado à perna do pai, Tarrant o matou com “dois tiros”, disse Hawes.
– Munições –
Tarrant chegou à Nova Zelândia em 2017. Ele morava em Dunedin, 360 km ao sul de Christchurch, onde acumulou um arsenal e comprou mais de 7.000 munições.
Dois meses antes dos ataques, ele viajou a Christchurch para observar os lugares. Usou um drone para filmar as entradas e saídas da mesquita de Al Noor, ao mesmo tempo que fez anotações detalhadas do trajeto até a mesquita de Linwood.
Em 15 de março de 2019, Tarrant dirigiu de Dunedin até Christchurch, equipado com várias armas semiautomáticas nas quais incluiu vários símbolos, além de referências às Cruzadas e a atentados recentes.
Ele estava com os carregadores repletos de munições e garrafas “para incendiar as mesquitas”.
Alguns minutos antes dos ataques, o australiano enviou seu “manifesto” de 74 páginas a um site extremista, avisou a sua família sobre o que pretendia fazer e enviou e-mails a várias redações com ameaças contra as mesquitas.
O juiz Mander impôs restrições à cobertura da imprensa para evitar que o acusado utilizasse o processo como uma plataforma para propagar suas mensagens de ódio.
O massacre levou o governo a endurecer as leis sobre as armas e a intensificar a luta contra o extremismo na internet.