Por: Edel Holz – Quando cheguei aos Estados Unidos, me senti inteligente por saber falar “hello”, entender “how are you” e até pedir um “cofee to go” com con‑ ança.
Mas bastou o termômetro marcar 32°F e eu sair de casa de camiseta, achando que era um dia agradável, pra descobrir que inteligência é diferente de sabedoria climática. Aprendi da pior forma que 32°F não é quase calor.
É quase neve. Aliás, o sistema Fahrenheit parece ter sido criado por alguém que queria nos confundir. Aqui, quando faz 100 graus, ninguém está derretendo. Está tudo bem. E quando faz 40, não é verão — é o Ártico. Certa vez, entrei no Uber e comentei animada com o motorista: — “Uau, it’s 70 degrees today! So hot!” Ele me olhou com pena e respondeu: — “Darling… that’s spring.” Primavera. Enquanto eu suava com meu casaco de lã e sentia o rosto pegando fogo, descobri que o segredo não era entender o idioma. Era entender o termômetro da Matrix.
Agora, antes de sair de casa, eu consulto dois aplicativos, olho o céu, pergunto a uma vizinha e ainda rezo pra não errar o casaco. Já saí vestida de Esquimó num dia de sol e de vestido florido com sensação térmica de freezer.
Porque no ‑ m, a previsão do tempo aqui é uma loteria espiritual. E quando, finalmente, o calor chega… Ah, minha filha.
Os americanos ligam o ar-condicionado no máximo, usam meia dentro de casa e tomam água com gelo até no banho.
Enquanto eu continuo buscando o sol como quem procura Wi-Fi em trilha de floresta. Moral da história? Fahrenheit não é só uma medida de temperatura. É um teste de fé.
SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.