Por: Eliana Pereira Ignacio – Olá, meus caros leitores. Na última semana falamos sobre “O Peso que Não Era Meu: Devolvendo Expectativas Herdadas”. Hoje, quero continuar essa jornada de autoconhecimento e cura falando sobre o que acontece depois que colocamos esses fardos no chão.
Quando você devolve o que não lhe pertence — sejam culpas, papéis ou expectativas impostas — um espaço interno se abre. É como se dentro de você houvesse um cômodo que sempre esteve abarrotado de móveis velhos, caixas empoeiradas e objetos que nem eram seus, e, de repente, alguém abre a janela, tira tudo dali e deixa entrar o ar fresco.
Mas esse espaço novo traz um desafio: o que fazer com ele? Muita gente, acostumada a viver comprimida pelos pesos alheios, não sabe o que colocar no lugar.
Alguns sentem medo do silêncio, da liberdade ou até da responsabilidade de escolher. É como se a ausência do peso fosse, paradoxalmente, um vazio difícil de encarar.
O processo psicológico de ocupar seu próprio espaço
Na psicologia, chamamos isso de reconstrução identitária. Quando abandonamos padrões herdados, precisamos redescobrir quem somos sem eles. Esse processo envolve três etapas principais:
- Reconhecimento – Perceber quais escolhas e comportamentos realmente refletem quem você é, e quais eram apenas tentativas de agradar ou se encaixar.
- Experimentação – Permitir-se tentar coisas novas, assumir novos hábitos e até errar, sem o peso da cobrança externa.
- Consolidação – Transformar essas novas escolhas em parte sólida e coerente da sua vida, de forma que elas passem a ser naturais.
É importante entender que esse movimento exige paciência. Uma vida autêntica não se constrói da noite para o dia, mas tijolo por tijolo, decisão por decisão. Portando cuidado, pois existe o perigo de deixar o espaço aberto demais.
Um alerta importante: se você não preenche esse novo espaço com aquilo que realmente nutre e fortalece, há o risco de que velhos padrões voltem e ocupem o lugar novamente. Isso acontece porque nossa mente tende a voltar para o que é familiar — mesmo que seja prejudicial.
Sem vigilância, antigas vozes, críticas ou obrigações disfarçadas podem reaparecer.
Por isso, é fundamental definir conscientemente o que merece entrar no seu espaço interno e o que deve ficar do lado de fora. A perspectiva cristã, o espaço visto como território sagrado. Na fé cristã, vemos o coração como um lugar de morada de Deus (1 Coríntios 3:16).
Quando entregamos a Ele nossas dores e pesos, também abrimos espaço para que Seu Espírito nos transforme.
O processo de construir uma vida autêntica, então, não é apenas psicológico, mas também espiritual: é permitir que Deus nos mostre quem somos Nele, e não nos olhos das pessoas.
A autenticidade cristã não significa viver isolado das expectativas alheias, mas viver de acordo com a verdade de Deus sobre nós. Significa fazer escolhas alinhadas com valores eternos e não apenas com o que é popular ou confortável. Existem ferramentas práticas para ocupar esse espaço. Se você está nessa fase, aqui vão algumas práticas para ajudar: · Diário de identidade – Anote, todos os dias, uma ação ou decisão que tenha vindo de um desejo ou valor seu, e não de uma pressão externa. · Declarações de verdade – Escolha versículos e frases que reforcem quem você é em Cristo e repita-os nos momentos de dúvida. · Lista de “sim” e “não” – De na conscientemente o que você quer permitir na sua vida e o que vai recusar daqui para frente. ·
Relacionamentos saudáveis – Cultive conexões que reforcem sua verdadeira identidade, e afaste-se de interações que tentem moldá-lo(a) em algo que não é. Lembrem-se: A liberdade que nasce do pertencimento verdadeiro.
O mais bonito desse processo é que, quando você ocupa seu espaço de forma autêntica, as pessoas ao seu redor começam a ver e respeitar a sua essência. Você passa a se relacionar de forma mais saudável, porque já não depende de aprovação para existir. E, paradoxalmente, quanto mais você é você, mais espaço cria para que os outros também sejam quem realmente são.
Sua autenticidade se torna inspiração e convite para que todos ao redor larguem seus próprios pesos e ocupem seus próprios espaços. Construir uma vida autêntica é um ato de coragem diária, mas também é um ato de adoração.
É dizer: “Senhor, eu recebo a vida que o Senhor me deu, e vou vivê-la de forma plena, não como os outros esperam, mas como o Senhor sonhou para mim.” “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” – João 8:32
Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com