JUNOT – Vamos direto ao ponto, porque a coisa é séria e o tempo é curto. O ICE, o temido U.S. Immigration and Customs Enforcement, pode, sim, botar as mãos em um imigrante em situação irregular sem mostrar um mandado judicial. Isso mesmo: sem papel assinado por juiz, sem conversa fiada. E o caso de Brad Lander, candidato a prefeito de Nova York é a prova viva de como essa história funciona – e de como um assunto sério, politica migratória, pode virar um circo político.
Vamos aos fatos. Na terça-feira, 17, Lander, que não é bobo nem nada, resolveu bancar o defensor dos imigrantes. Estava lá, no tribunal de imigração em Manhattan, ao lado de um imigrantes em situação irregular, quando os agentes do ICE apareceram para fazer o que sabem fazer: deter imigrantes em situação irregular, lembrando que é para isso que estão servem.
Lander, com aquele fervor de quem quer holofote, exigiu um mandado judicial. “Cadê o papel?”, gritou, enquanto segurava o braço do imigrante, tentando impedir a ação. Resultado? O ICE não gostou e acusou Lander de “obstruir um oficial federal” e, pasmem, até de “atacar um agente”. Levaram o homem algemado. Horas depois, soltaram sem acusações formais, como confirmou a governadora Kathy Hochul. Mas o estrago já estava feito.
Agora, vamos esclarecer a questão central, porque tem muita gente que não entende – ou finge que não entende. Nos Estados Unidos, deter um imigrante sem documentos é uma ação administrativa, não criminal. O ICE opera sob o Immigration and Nationality Act, uma lei que dá a eles o poder de agir com base em “causa provável” – ou seja, se acharem que você está irregular, já era. Nada de juiz, nada de mandado judicial. Eles usam um tal de “mandado administrativo”, um formulário interno (I-200 ou I-205), que não tem o peso de um documento assinado por um magistrado. É a lei, gostemos ou não.
Mas e o Lander, o que ele queria com esse show? Duas coisas, e aqui entra o jogo político. Primeiro, sinalizar virtudes. Nova York é uma cidade-santuário, onde proteger imigrantes é quase um dogma. Lander, que está na corrida para prefeito, sabe que posar de herói dos oprimidos rende votos. Confrontar o ICE na frente das câmeras? É ouro eleitoral. Mas também há um quê de ignorância – ou, vá lá, de conveniência. Lander sabe, ou deveria saber, que o ICE não precisa de mandado judicial. Exigir um era, no mínimo, uma jogada arriscada; no máximo, uma demonstração de que ele subestimou a autoridade federal. O resultado? Uma detenção humilhante que, mesmo temporária, virou manchete e assunto para esse redator.
E o que isso significa para os imigrantes? Prestem atenção: o ICE tem poder, e muito. Mas vocês têm direitos. Podem ficar calados, recusar assinar qualquer coisa sem um advogado e exigir uma audiência com um juiz de imigração. Em cidades como Nova York, há apoio de sobra – de ONGs como a New York Immigration Coalition a políticas locais que seguram a onda contra o ICE.
Mas cuidado: confrontar agentes, como Lander fez, é jogar com fogo. Para um imigrante, o risco é bem maior que uma manchete – pode ser a deportação.
O caso de Lander é um recado claro: a imigração nos EUA é um campo minado, onde política, lei e direitos humanos se chocam. O ICE não precisa de mandado judicial, mas a pressão de figuras como Lander mostra que há quem lute por pessoas como aquele imigrantes que Lander tentou defender. Só não se iludam: entre a virtude de um político e a ignorância das regras, quem paga o preço é quem está na mira. Fiquem espertos, conheçam seus direitos e, se possível, tenham o numero de um advogado de imigração no bolso. Porque, no fim das contas, o sistema não perdoa.
E assim caminha a América.
Mayoral candidate Brad Lander was cuffed and detained by ICE agents after asking to see a warrant for people who were detained after an immigration hearing. Video from the city comptroller’s press secretary @chloecbristow. She says he’s still being held in 26 Federal Plaza. pic.twitter.com/cW9jIsp35b
— Jeff Coltin (@JCColtin) June 17, 2025