Eliana Pereira Ignacio – Olá meus caros leitores, hoje venho trazer um tema delicado, mas profundamente necessário: o peso invisível das expectativas que herdamos ao longo da vida. Muitas vezes, seguimos carregando padrões, culpas e papéis que não escolhemos conscientemente apenas absorvemos, por amor, lealdade ou medo de rejeição. Mas será que tudo aquilo que carregamos é realmente nosso?
No artigo de hoje, convido você a refletir comigo sobre o impacto dessas heranças emocionais e sobre o poder libertador de devolver aquilo que não nos pertence mais.
Nem sempre o que pesa sobre os nossos ombros é nosso. Às vezes, estamos carregando expectativas, funções e até culpas que nunca deveriam ter sido atribuídas a nós. E o mais difícil? É que muitas dessas cargas foram colocadas com tanto cuidado e “boa intenção” que mal percebemos quando começamos a arrastá-las e, pior, a chamá-las de identidade.
Crescemos ouvindo frases que moldam nossa forma de ser no mundo: “Você é a esperança da família”, “Não pode decepcionar”, “Seja forte”, “Homem não chora”, “Menina boazinha não fala alto”, “Filho bom cuida dos pais”, “Não vá envergonhar a família”. Em algum momento, essas palavras se in ltraram como se fossem nossas verdades — quando, na verdade, são códigos culturais, padrões de comportamento e sistemas de lealdade silenciosos que herdamos sem saber.
Essas expectativas herdadas, muitas vezes, nascem do amor. Sim, do amor. Amor de pais que projetaram em nós os sonhos que não puderam realizar. Amor de mães que, feridas por seus próprios silêncios, nos ensinaram a calar. Amor de avós que só conheciam o que aprenderam com dor.
Amor, mas um amor atravessado por medo, falta, repressão, trauma. E assim, muitas vezes, o amor virou exigência. A proteção virou controle. A tradição virou prisão. O problema não é amar — o problema é amar sem consciência. E então nos tornamos adultos. Adultos que ainda se culpam por não atender às expectativas dos pais. Que sentem vergonha por querer algo diferente do que foi “ensinado”. Que sufocam desejos legítimos para manter a paz do grupo. Que não sabem dizer “não” sem um nó na garganta. Que vivem à margem de si mesmos, tentando caber em moldes que nunca os contemplaram. É aí que mora a ferida.
Há um momento no processo de amadurecimento em que somos convidados ou empurrados a perguntar: o que realmente é meu? Quais escolhas, dores e rumos eu assumi por mim, e quais apenas repeti para ser aceito? Essa pergunta não é confortável. Ela exige coragem para rever padrões familiares, papéis de gênero, crenças religiosas e até mesmo o modo como lidamos com sucesso, fracasso e afeto. Mas é também uma pergunta libertadora. Porque, quando conseguimos responder com sinceridade, começamos a devolver o que não nos pertence.
Devolver expectativas não é um ato de rebeldia. É um ato de responsabilidade. É olhar com compaixão para a nossa história, reconhecer tudo o que recebemos; inclusive o que nos feriu e, ainda assim, escolher seguir um caminho diferente. É dizer: “Eu honro vocês, mas preciso honrar a mim também.” É romper com ciclos, não por rancor, mas por desejo de cura. Porque perpetuar o que nos adoece não é lealdade, é sacrifício.
E lealdade, quando custa a si mesmo, não é virtude é prisão. Devolver o que não é nosso significa sair do papel de salvador, de filha perfeita, de esposa resiliente que aguenta tudo, de profissional impecável que não pode falhar.
Significa admitir que temos limites, que nem tudo é nossa responsabilidade, que não podemos carregar todos ao nosso redor. E que ser bom não é ser submisso. Que ser forte não é se anular. Significa, também, aprender a sentir culpa sem ser guiado por ela. Porque, sim, devolver expectativas pode gerar culpa. Mas uma culpa que, com o tempo, se transforma em maturidade. Porque entender que não somos responsáveis pela felicidade de todos é, paradoxalmente, o primeiro passo para uma vida mais íntegra e verdadeira.
Devolver expectativas é abrir espaço. Espaço interno. Para descobrir o que realmente importa. Para construir uma vida coerente com nossos valores, e não com os valores que esperavam que tivéssemos. É deixar de ser reflexo para ser presença. É dizer: “Esse peso, eu não carrego mais.” Não por desprezo. Mas porque agora eu escolho carregar só o que faz sentido.
Só o que constrói. Só o que sustenta quem eu realmente sou. A liberdade não começa com uma grande revolução externa. Começa com pequenos gestos internos de reconquista de si. E um dos primeiros e mais poderosos é esse: olhar para o fardo nos ombros, examinar o que é de fato nosso e o que foi apenas legado inconsciente… e devolver,
com respeito, o que nunca deveria ter sido nosso.
Essa devolução é o início da leveza. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Mateus 11:28
Ate a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um -mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com