BBC NEWS BRASIL – Até a noite de domingo (12/12), os Estados Unidos ainda procuravam por sobreviventes e contabilizam os estragos causados por uma série de tornados que atingiu o sudeste do país na noite de sexta-feira (10/12).
Consideradas como um dos piores eventos envolvendo esses fenômenos meteorológicos já registrados na história americana, segundo o presidente do país, Joe Biden, as tempestades causaram destruição em seis Estados.
O mais afetado foi o Kentucky, que declarou estado de emergência. Lá, pelo menos 80 pessoas morreram, dezenas na cidade de Mayfield, onde uma fábrica de velas funcionava no momento dos eventos – e acabou reduzida a uma montanha de ferros retorcidos.
Até domingo, cerca de 40 funcionários entre os 110 que se estima que estivessem na unidade foram resgatados. A fábrica vinha funcionando com turnos extras para dar conta das encomendas para o Natal.
Sob os destroços, uma funcionária chegou a fazer um pedido desesperado de socorro pelo Facebook. No áudio, é possível ouvir alguns de seus colegas gritando e chorando ao fundo.
“Estamos presos, por favor, consigam ajuda”, dizia Kyanna Parsons-Perez – que mais tarde foi resgatada – na gravação transmitida pela CNN.
A repórter da BBC Nomia Iqbal, que visitou Mayfield na manhã seguinte ao desastre, relatou ter visto “casas desmoronadas”, “enterradas sob pilhas de seus próprios destroços – brinquedos, sapatos espalhados entre pedaços de metal retorcido e árvores destroçadas”. “A sensação é de estar entrando num set de um filme de desastre. É uma cidade fantasma.”
Possíveis causas
O Serviço Nacional de Meteorologia (National Weather Service) recebeu mais de 30 notificações de tornados em seis Estados na sexta-feira. O mais devastador deles se deslocou por impressionantes 365 km, atravessando quatro Estados: Arkansas, Missouri, Tennessee e Kentucky.
A região do meio-oeste e sudeste dos Estados Unidos concentra algumas das condições ideais para a formação de tornados.
Nessa área, apelidada de “tornado alley” (“beco do tornado”, em tradução literal), o ar frio e seco que vem do sul do Canadá costuma se deparar com o ar quente e úmido que se desloca para o norte a partir do Golfo do México. Esse encontro cria a instabilidade atmosférica que pode, por sua vez, formar as violentas colunas de ar que caracterizam os tornados.
A maior parte dos tornados observados nesta região acontece em maio e junho – outro fator que chamou atenção no episódio de sexta-feira, já que é menos comum que esses eventos extremos ocorram em dezembro, durante o inverno.
Um dos elementos que vêm sendo apontados entre as possíveis razões para a formação de tantos e tão violentos tornados, contudo, é a temperatura atipicamente quente observada em parte do país na véspera, bastante acima das médias de dezembro em algumas áreas.
Segundo o jornal The Washington Post, um forte sistema de baixa pressão que emergiu das Grandes Planícies, no norte, e foi se intensificando quando uma corrente de jato polar mergulhou na área central do país se deparou pelo caminho com a massa de ar quente que vinha causando uma onda de calor recorde na área que compreende os Estados do Tennessee, Arkansas, Mississippi, Texas e Louisiana.
Em Memphis, no Tennessee, conforme o serviço meteorológico do periódico americano, os termômetros chegaram a marcar cerca de 26ºC (79ºF), quase 15ºC (26ºF) a mais do que a média para o período.
“A atmosfera não sabia que era dezembro – temperaturas na casa dos 70ºF e 80ºF”, escreveu em sua página no Twitter o meteorologista Craig Ceecee, baseado no Mississippi.
Climatologistas têm ressaltado, contudo, que ainda serão precisos estudos adicionais para entender melhor o que aconteceu na noite de sexta-feira.
Os cientistas ainda estão observando as imagens e informações disponíveis para estabelecer a categoria dos tornados, por exemplo. A intensidade deles é medida pela Escala Fujita melhorada, que vai de EF-0 a EF-5 e leva em consideração os danos causados pela passagem das colunas de ar.
Em uma coletiva de imprensa no sábado, o presidente Joe Biden afirmou que requisitaria à Agência de Proteção Ambiental e a outros órgãos ligados ao governo que investigassem as possíveis contribuições das mudanças climáticas para os eventos.
“Nós sabemos que tudo é mais intenso quando o planeta está esquentando, e obviamente isso tem algum impacto aqui, mas não é possível dar uma interpretação quantitativa para isso ainda”, declarou.