JCEditores – O Departamento de Educação dos Estados Unidos, instituído em 1979 sob Jimmy Carter, é uma agência federal que supervisiona o financiamento de escolas públicas, gerencia uma carteira de US$ 1,5 trilhão em empréstimos estudantis para mais de 40 milhões de americanos e assegura a conformidade com leis de direitos civis na educação. Com um orçamento anual superior a US$ 70 bilhões em 2025, sua missão oficial é promover equidade e excelência educacional. Contudo, em 20 de março de 2025, Donald Trump assinou uma ordem executiva para iniciar seu desmantelamento, ecoando uma demanda conservadora histórica de reduzir o poder federal e devolver a educação aos estados – uma medida que promete eficiência e liberdade frente a um sistema caro e ineficaz.
Trump fundamenta sua decisão em uma crítica contundente: os Estados Unidos gastam mais em educação do que qualquer outro país, mas os resultados são pífios. Em 2023, o gasto por aluno no ensino básico e médio alcançava US$ 14.347 anuais, segundo o National Center for Education Statistics (NCES), superando nações como Alemanha (US$ 11.228) e Japão (US$ 9.749). Apesar disso, o Programme for International Student Assessment (PISA) de 2022 posicionou os EUA em 24º lugar em matemática (465 pontos), 15º em leitura (504) e 18º em ciências (499), bem atrás de líderes como Singapura (575, 543, 561) e Finlândia (490, 511, 522).
Para Trump, o Departamento de Educação, longe de resolver essa crise, tornou-se um entrave, gerindo empréstimos que o Tesouro poderia assumir e impondo diretrizes que asfixiam a autonomia estadual. Ele propõe um retorno ao modelo pré-1979, quando a educação era mais ágil e local.
Antes da criação do departamento, a educação era coordenada pelo Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar, com intervenção federal mínima. Estados e distritos escolares definiam currículos, contratavam professores e alocavam recursos conforme suas prioridades, sem o peso de uma agência centralizada. Esse sistema, embora menos uniforme, permitia adaptação às realidades regionais – do interior rural de Iowa às metrópoles como Nova York. Não havia um orçamento federal inflado nem uma burocracia distante ditando normas. Trump enxerga nisso uma virtude: menos interferência significa mais responsabilidade local e menos desperdício, uma visão que ressoa com o federalismo conservador e a promessa de cortar o que ele chama de “gordura governamental”.
A influência da “cultura woke” nas escolas intensifica a necessidade dessa mudança. Sob gestões democratas, o Departamento de Educação foi acusado de empurrar políticas progressistas que priorizam ideologias de gênero e inclusão sobre o mérito acadêmico. Diretrizes federais incentivaram banheiros transgêneros e treinamentos de diversidade que, para críticos como os pais da Virgínia em 2021, desviam o foco da aprendizagem básica. Em estados como a Califórnia, escolas adotaram programas de “equidade” que, segundo o Heritage Foundation, reduzem exigências em matemática para “descolonizar” o currículo, alienando famílias que buscam educação tradicional. Trump, ao desmantelar o departamento, ataca essa agenda, devolvendo às comunidades o poder de rejeitar tais imposições e priorizar resultados concretos.
Outro ponto crítico é a promoção da teoria crítica da raça, que ganhou espaço sob o aval federal. Essa abordagem, que vê o racismo como sistêmico e inerente às instituições americanas, apareceu em currículos de estados como Illinois e Oregon, com apoio de subsídios do departamento. Em 2021, pais em Loudoun County, Virgínia, protestaram contra materiais que classificavam alunos como “oprimidos” ou “opressores” com base na raça, acusando o sistema de dividir em vez de educar. Trump e seus aliados, como Ron DeSantis, veem isso como doutrinação, e o fim do departamento cortaria o cordão umbilical dessa influência, deixando os estados livres para focar em habilidades fundamentais.
O Brasil oferece um paralelo instrutivo. Em 2023, o país gastou R$ 140 bilhões no ensino básico (cerca de 6% do PIB), segundo o Ministério da Educação, mas o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) permaneceu estagnado em 5,8 para os anos iniciais, abaixo da meta de 6,0. Apesar de investimentos altos, o desempenho no PISA 2022 foi pior que o dos EUA: 413 em matemática (38º), 410 em leitura (47º) e 424 em ciências (41º).
A centralização em Brasília, como o Departamento de Educação americano, é vista por críticos como um obstáculo à eficiência. Descentralizar, como Trump propõe, poderia ser um modelo para o Brasil, cortando custos e alinhando a educação às demandas locais.
Eliminar o Departamento de Educação é, portanto para Trump, uma resposta lúcida a um problema real. Os EUA despejam bilhões em um sistema que não proporciona a contrapartida desejada, enquanto a influência federal sufoca estados com ideologias controversas. Antes de 1979, a educação funcionava sem essas estruturas aparelhadas, provando que a solução pode estar na autonomia. Trump acerta ao devolver o poder às comunidades, oferecendo um caminho para uma educação mais barata, eficaz e livre de agendas impostas – uma lição que o Brasil faria bem em considerar.