JCEDITORES – A recente declaração de Donald Trump, em 15 de abril, de que países devem “escolher entre os Estados Unidos e a China” nas negociações comerciais, ressoa como um ultimato arrogante, evocando uma política de sujeição que ameaça a essência da diplomacia. Para nações emergentes como o Brasil, essa postura sinaliza um futuro de pressões geopolíticas intensas, onde a soberania econômica e política pode ser sacrificada em nome de alinhamentos forçados. Num mundo multipolar, onde a China consolidou sua influência e outras potências regionais ganham relevância, a exigência de Trump parece desconectada da realidade, arriscando isolar os próprios Estados Unidos.
Para o Brasil, cuja economia depende tanto do comércio com a China – principal parceiro comercial – quanto da cooperação com os EUA, a escolha imposta por Trump é um dilema cruel. Optar pelos EUA pode significar restrições no acesso ao mercado chinês, crucial para exportações de commodities como soja e minério de ferro. Por outro lado, manter laços com Pequim pode atrair retaliações tarifárias americanas, comprometendo investimentos e acordos bilaterais. Esse tipo de escolha ignora a complexidade das relações internacionais e força países emergentes a navegarem um cenário de submissão, onde a autonomia é corroída.
O tom beligerante de Trump reflete uma erosão da diplomacia multilateral, substituída por uma lógica de confronto que favorece ditaduras assertivas, como a China, que operam com pragmatismo e sem ultimatos explícitos. Enquanto democracias emergentes lutam para equilibrar interesses econômicos e valores democráticos, regimes autoritários podem explorar o vácuo deixado pela intransigência americana, oferecendo parcerias sem exigências ideológicas. O Brasil, com sua democracia vulnerável, enfrenta o risco de ceder a pressões externas que minem sua capacidade de decidir livremente.
Muitos analistas argumentam que o mundo mudou, mas Trump parece ancorado a uma visão unilateral de supremacia americana. Essa abordagem pode isolar os EUA, enquanto democracias como o Brasil ficam reféns de um jogo perigoso, onde a escolha não é entre parceiros, mas entre sobreviver economicamente ou sucumbir politicamente. Nesse cenário, o futuro das democracias emergentes parece sombrio, espremido entre a arrogância de uma superpotência e a ascensão de autocracias oportunistas.