Governador Valadares (MG) – 5 de dezembro de 2025 –
Em uma ação que expõe os perigos ocultos do “sonho americano”, a Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta sexta-feira a Operação Alpha, visando desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico de pessoas para os Estados Unidos. O esquema, que operava com rotas terrestres arriscadas pela América Central e México, foi responsável pela migração ilegal de pelo menos 220 brasileiros, muitos deles aliciados com promessas falsas de uma vida melhor. A Justiça Federal determinou o bloqueio imediato de bens e valores dos investigados no montante de R$ 23,7 milhões, medida que visa sufocar as finanças da rede e impedir novas vítimas.
As diligências, coordenadas pela Delegacia de Polícia Federal em Governador Valadares (MG), se concentraram em três estados: Minas Gerais e São Paulo. Agentes cumpriram um mandado de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão em endereços estratégicos de Governador Valadares e Itanhomi, no leste mineiro – regiões conhecidas como hubs de emigração irregular –, além de São Paulo (SP), onde a rede contava com operadores logísticos. Durante as buscas, o alvo principal do mandado de prisão foi localizado e detido em flagrante, após uma perseguição discreta que mobilizou equipes táticas.
O suspeito, identificado como um dos líderes do grupo, foi surpreendido em um imóvel em Governador Valadares, onde agentes apreenderam documentos falsos, celulares com registros de ameaças e indícios de movimentações financeiras via contas de “laranjas”. De acordo com as investigações, iniciadas a partir de denúncias de familiares aterrorizados, o grupo atuava como uma verdadeira máfia da migração.
Os criminosos cobravam valores exorbitantes – entre R$ 20 mil e R$ 50 mil por pessoa – para organizar a travessia ilegal, utilizando “coiotes” (traficantes de fronteiras) e uma rede de apoio nos EUA para receber os migrantes ao final da jornada. Quando os pagamentos atrasavam, as táticas de coerção vinham à tona: ameaças diretas a parentes no Brasil, com ligações intimidatórias e mensagens que prometiam violência. “Eles diziam que iam ‘quebrar’ a família se não pagassem o resto”, relatou uma vítima em boletim de ocorrência.
O bloqueio de R$ 23,7 milhões representa um golpe financeiro devastador para a organização, que lavava o dinheiro por meio de transferências internacionais e empresas de fachada. Especialistas em crimes transfronteiriços consultados pela reportagem destacam que valores dessa magnitude indicam uma operação profissionalizada, possivelmente ligada a cartéis mexicanos. “É um ecossistema de exploração que lucra com a vulnerabilidade”, comentou um delegado da PF, sob condição de anonimato.
A Operação Alpha não é um caso isolado.
Minas Gerais, epicentro da emigração brasileira para os EUA, registra um boom de tentativas irregulares em 2025, impulsionado pela crise econômica e promessas de empregos no Norte americano. Dados da PF apontam mais de 2,6 mil deportações de brasileiros dos EUA até novembro deste ano, o maior número desde 2020. Mas o custo humano vai além das estatísticas: a rota pelo Darién Gap, na Colômbia, e o deserto de Sonora, no México, é considerada uma das mais letais do mundo pela ONU.
Um Lembrete Doloroso: As Vítimas Invisíveis da Fronteira
É imperativo recordar o preço pago por tantos que caem nessas armadilhas. Brasileiros e imigrantes de outras nacionalidades – venezuelanos, haitianos e centro-americanos – morrem diariamente na tentativa de chegar aos EUA.
Em 2024 e 2025, relatórios da Organização Internacional para as Migrações (OIM) registraram mais de 700 óbitos na fronteira EUA-México, incluindo afogamentos em rios caudalosos, desidratação no deserto e assassinatos por coiotes impiedosos. No Brasil, histórias como a de uma família de Ipatinga (MG), que perdeu um ente querido no Darién em março de 2025, servem de alerta: o “sonho” pode virar pesadelo.
Os investigados na Alpha enfrentarão acusações graves, incluindo promoção de migração ilegal (pena de até 4 anos), ameaça (até 1 ano) e lavagem de dinheiro (até 10 anos). A operação segue em andamento, com análise de provas que pode revelar ramificações internacionais.
Outras Operações Recentes da PF Contra a Migração Ilegal para os EUA
A PF tem intensificado o combate a esses esquemas nos últimos anos, com foco em Minas Gerais e rotas para os EUA. Aqui vai uma lista de ações recentes (2024-2025):
- Operação Monterrey (3/12/2025): Cumpridos sete mandados de busca em Ipatinga e Santana do Paraíso (MG) contra uma rede que movimentou R$ 8,1 milhões e identificou 63 vítimas aliciadas para rotas pela América Central. Bloqueio de bens e investigações por lavagem de dinheiro.
- Operação Muralha II (7/3/2025): Desarticulou esquema de entrada clandestina de brasileiros nos EUA e outros países, com foco em São Paulo. Acusações de associação criminosa e promoção de migração ilegal.
- Operação Gimnasio (26/11/2024): Três mandados de busca em Tarumirim (MG) para combater o envio ilegal de migrantes, com ênfase em aliciamento local.
- Operação Sáfaro (23/8/2024): Oito mandados de busca e seis de prisão em MG, com bloqueio de R$ 35 milhões. Visou promoção de migração ilegal, inclusive de crianças e adolescentes.
- Operação sem nome específica (27/11/2024): Investigou produção de documentos falsos para 65 migrantes do leste de MG, com sequestro de R$ 200 mil e suspeita de corrupção de servidor público.
- Operação Ninho de Serpentes (16/7/2024): Foco em Governador Valadares (MG), com detenção de suspeito nos EUA e alerta para riscos da rota México-EUA.
- Operação sem nome (29/7/2024): Combateu migração ilegal de mais de 370 brasileiros, com ações em MG e bloqueio de ativos.
Essas operações somam centenas de vítimas resgatadas e milhões em bens congelados, mas a PF alerta: o crime evolui, e a conscientização é chave para frear o ciclo.
Com informações: Comunicação Social da Polícia Federal em Minas Gerais


