Por: Eliana Pereira Ignacio – A organização do ambiente externo exerce uma forte influência sobre o equilíbrio emocional e mental das pessoas. Inspirado na obra A Mágica da Arrumação, de Marie Kondo (2011), o artigo explora como arrumar espaços como a casa ou o escritório pode impactar diretamente emoções, clareza mental e processos de tomada de decisão.
Mais do que uma questão estética, a organização é vista como uma ferramenta terapêutica, permitindo também a organização dos pensamentos e prioridades.
Diversas abordagens da psicologia, incluindo a ambiental, cognitiva e humanista, destacam a importância do ambiente físico para o bem-estar e o funcionamento emocional.
AMBIENTE EXTERNO COMO ESPELHO DO ESTADO INTERNO
A psicologia ambiental aponta que os espaços que habitamos não são neutros; eles afetam e são afetados por nossas emoções, comportamentos e pensamentos. Para Kaplan e Kaplan (1989), ambientes ordenados e coerentes promovem sensação de previsibilidade e segurança, enquanto ambientes caóticos podem gerar estresse, sobrecarga sensorial e sensação de perda de controle.
Marie Kondo (2011), em sua abordagem prática no livro A Mágica da Arrumação, defende que ao reorganizar objetos e eliminar o excesso, reorganizamos também pensamentos e emoções acumuladas.
Embora sua obra não seja acadêmica, ela ecoa princípios defendidos por Carl Rogers (1961), da psicologia humanista, que considera o ambiente favorável um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento do self.
ORGANIZAÇÃO EXTERNA E AUTORREGULAÇÃO EMOCIONAL
A desordem física pode intensificar sintomas de ansiedade e desregulação emocional. Segundo Baumeister et al. (1998), o autocontrole é um recurso limitado: quando o ambiente é desorganizado, exige-se mais energia para tomar decisões simples, o que pode levar ao esgotamento emocional e à procrastinação.
Ambientes organizados favorecem a clareza mental, facilitando a autorregulação emocional. Estudos demonstram que indivíduos que mantêm ambientes organizados tendem a relatar níveis mais altos de bem-estar subjetivo (Tucker et al., 2013). Isso ocorre porque a previsibilidade e funcionalidade do espaço proporcionam sensação de domínio, competência e eficácia — conceitos centrais na teoria da autodeterminação de Deci & Ryan (1985).
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO EXECUTIVO
Na psicologia cognitiva, o ambiente influencia diretamente a atenção, a memória e o planejamento. Ambientes desorganizados prejudicam funções executivas, como controle inibitório e flexibilidade cognitiva, impactando negativamente indivíduos, especialmente aqueles com déficit de atenção (Barkley, 1997).
Um espaço organizado serve como suporte para as funções cognitivas, facilitando o processamento de informações e melhorando desempenho e produtividade, sobretudo em contextos de trabalho e estudo.
ORGANIZAÇÃO COMO PRÁTICA DE AUTOCUIDADO
A organização externa é uma estratégia eficaz de autocuidado, amplamente valorizada na psicologia contemporânea por seu impacto direto na saúde mental. Mais do que uma questão estética ou funcional, ela representa uma escolha consciente voltada para o bem-estar.
De acordo com Winnicott (1965), um ambiente suficientemente bom é essencial para o desenvolvimento emocional saudável, pois a organização do espaço ao redor permite ao indivíduo internalizar uma sensação de cuidado, fortalecendo sua estrutura psíquica e promovendo estabilidade emocional. O efeito da organização externa vai além da simples arrumação: ela influência estados emocionais, funcionamento cognitivo e equilíbrio psíquico.
Ambientes ordenados favorecem a calma, a clareza mental e um senso de controle sobre a vida, enquanto espaços desorganizados podem intensificar a desorientação interna e aumentar o sofrimento emocional. Na perspectiva cristã, essa relação entre o externo e o interno ganha ainda mais significado, reforçando a ideia de que a ordem no ambiente reflete a harmonia interior. O zelo pelo espaço ao nosso redor é visto como um ato de responsabilidade e gratidão, demonstrando o valor que atribuímos à vida, à criação e ao nosso próprio bem-estar.
Investir tempo e atenção na organização do ambiente não é apenas um gesto prático, mas um processo que fortalece o autoconhecimento, sustenta o crescimento pessoal e consolida a saúde emocional.
Um espaço harmonioso proporciona descanso à mente, tranquilidade ao espírito e uma abertura maior para conexões profundas – consigo mesmo, com os outros e com Deus. Dessa forma, a organização externa se torna uma ferramenta poderosa para aprimorar a qualidade de vida e manter o equilíbrio psicológico.
“Mas tudo deve ser feito com decência e ordem.” 1 Coríntios 14:40 (NVI)
Até a próxima semana!!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com