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Em uma declaração contundente durante uma conversa com jornalistas em Castel Gandolfo, nessa terça-feira, 30 de setembro, o Papa Leão XIV, primeiro pontífice americano da história, lançou uma crítica direta às políticas de imigração do governo de Donald Trump. “Alguém que diz ‘sou contra o aborto’, mas concorda com o tratamento desumano de imigrantes nos Estados Unidos, eu não sei se isso é pró-vida”, afirmou o papa, questionando a coerência de setores que defendem a santidade da vida apenas em contextos seletivos. A fala, uma das mais incisivas de seu pontificado iniciado em maio de 2025, reflete a continuidade da doutrina social católica que prioriza a dignidade humana e a acolhida aos migrantes.
A crítica de Leão XIV veio em resposta a perguntas sobre as políticas migratórias dos Estados Unidos, marcadas pela promessa de Trump de implementar deportações em massa e fortalecer restrições na fronteira com o México. O papa, que escolheu o nome Leão em homenagem a Leão XIII – autor da encíclica Rerum Novarum (1891), que lançou as bases da doutrina social da Igreja – destacou que a visão católica de santidade da vida, “da concepção à morte natural”, deve incluir a proteção de grupos vulneráveis, como imigrantes indocumentados. “A dignidade humana não tem fronteiras”, afirmou, refletindo a postura de seu antecessor, o Papa Francisco, mas com um tom que ressoa de forma particular por sua identidade americana.
A declaração foi interpretada como uma indireta ao governo Trump, que tem priorizado a deportação de “criminosos ilegais”, mas enfrenta críticas por medidas que resultam em sofrimento para famílias e refugiados. Organizações humanitárias, como a Cáritas Internacional, apontam que as políticas de deportação frequentemente desconsideram o contexto de violência e pobreza que leva milhões a buscar refúgio nos EUA.
Posição da Igreja Católica
A Igreja Católica, sob a liderança de Leão XIV, mantém uma posição clara em favor do acolhimento aos migrantes. Baseada em princípios do Evangelho, a Igreja defende que nações têm o direito de regular suas fronteiras, mas devem equilibrar segurança com compaixão, oferecendo vias legais para migração e proteção aos que fogem de perseguições ou crises humanitárias. Em seu primeiro discurso aos diplomatas mundiais, em 16 de maio de 2025, Leão XIV reforçou: “Minha própria história é a de um cidadão, descendente de imigrantes, que por sua vez escolheu emigrar”, lembrando sua experiência como missionário no Peru e sua ascendência de imigrantes italianos.
A fala do papa gerou reações polarizadas. Nos Estados Unidos, setores conservadores, como a comentarista Laura Loomer e o estrategista Steve Bannon, acusaram Leão XIV de ser “anti-Trump” e de adotar uma postura “progressista demais”. Por outro lado, líderes católicos progressistas, como os editores do National Catholic Reporter, elogiaram a coragem do papa em desafiar a retórica nativista. “Ele está trazendo o debate para dentro da América”, disse um analista político, destacando que a nacionalidade americana de Leão XIV torna suas críticas mais difíceis de serem ignoradas pelo governo Trump.
O próprio Trump, em maio, saudou a eleição de Leão XIV como “uma grande honra” e expressou interesse em dialogar sobre imigração. No entanto, as tensões persistem, especialmente após o papa compartilhar, antes de sua eleição, postagens no X criticando a separação de famílias, o fim do DACA (programa que protege jovens indocumentados) e a retórica de Trump contra refugiados venezuelanos.
A eleição de Robert Francis Prevost, ex-cardeal de Chicago, como Leão XIV marcou um momento histórico para a Igreja. Sua experiência como missionário e sua origem como descendente de imigrantes o colocam em uma posição única para abordar o tema da imigração. Analistas apontam que sua crítica às políticas de Trump pode representar uma “armadilha” para o presidente, já que as palavras de um papa americano têm peso especial no contexto político dos EUA.
Enquanto o governo Trump intensifica sua agenda de segurança nas fronteiras, Leão XIV parece determinado a manter a Igreja como uma voz moral em defesa dos migrantes. Sua mensagem em Castel Gandolfo reforça o chamado à solidariedade global: “A vida é sagrada, mas não podemos escolher quais vidas proteger. Ou é para todos, ou não é pró-vida.”