JCEDITORES (JUNOT) – Em Massachusetts, um estado conhecido por suas políticas progressistas e comunidades acolhedoras, uma realidade sombria se esconde nos centros de detenção de imigrantes. Lugares como o Burlington Detention Center e a Plymouth County Correctional Facility, que abrigam pessoas à espera de processos de imigração ou deportação, estão no centro de um debate acalorado.
As condições desses espaços, muitas vezes obscuros e levantam perguntas urgentes: o que acontece com aqueles que cruzam a linha da legalidade em busca de uma vida melhor?
Imagine um espaço onde cada canto está lotado, onde o ar parece pesado e o futuro é uma incógnita. Em 2025, o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) opera no limite, com 47.600 detidos em todo os EUA até dezembro de 2024.
Em Massachusetts, centros como Burlington e Plymouth enfrentam essa mesma pressão. Embora o ICE afirme que suas instalações seguem padrões “seguros e humanos”, a realidade contada por detidos, advogados e organizações de direitos humanos pinta um quadro bem diferente.
Superlotação é a palavra de ordem. Com o aumento das prisões – mais de 370 em uma única operação em março de 2025 – os centros locais estão sobrecarregados.
Quem são os detidos?
Muitos são como os adolescentes de Chelsea, presos em maio de 2025 por portar uma arma de chumbo e enviados a Burlington. Outros, são como a família detida em Worcester, são pessoas comuns pegas em operações que varrem comunidades inteiras. O ICE destaca que foca em “criminosos perigosos”, como membros de gangues como a MS-13, mas dados mostram que a maioria é detida por infrações administrativas, como vistos vencidos.
Dentro dos centros, o tratamento varia de negligente a, em alguns casos, desumano. Relatos nacionais, que provavelmente se aplicam a Massachusetts, descrevem alimentação escassa e de má qualidade – pense em refeições repetitivas, muitas vezes inadequadas para necessidades dietéticas.
A higiene é outro problema: em instalações como a antiga prisão de Bristol County, fechada em 2021 após denúncias de abusos, detidos reclamavam de roupas sujas e falta de itens básicos, como cobertores e toalhas. Em Plymouth, que ainda abriga detidos do ICE, a infraestrutura é antiga, e a manutenção é questionável.
Se as condições físicas já são duras, o acesso a cuidados médicos é um capítulo à parte. Relatórios da American Civil Liberties Union (ACLU) apontam que negligência médica é uma causa recorrente de mortes em centros do ICE, com casos de infecções não tratadas e falta de suporte para saúde mental.
Em Massachusetts, o trauma psicológico é evidente: crianças em Chelsea, testemunhas de prisões violentas, agora temem a polícia. Para detidos, o isolamento e a incerteza agravam quadros de ansiedade e depressão. “Mentalmente, isso aqui é uma loucura”, disse um detido em Louisiana, para onde muitos de Massachusetts são transferidos. Não é difícil imaginar que Burlington e Plymouth compartilhem esses desafios.
O acesso a advogados também é limitado. Organizações como a Massachusetts Immigrant and Refugee Advocacy Coalition (MIRA) oferecem apoio jurídico, mas dentro dos centros, detidos muitas vezes não têm como se comunicar com representantes legais. Visitas familiares são raras, especialmente para aqueles transferidos para estados distantes, e o medo de deportação paira como uma nuvem constante.
Por trás das grades, há um sistema que lucra com a detenção
Empresas privadas, como GEO Group e CoreCivic, administram muitas instalações do ICE, incluindo algumas em Massachusetts. Em 2023, a GEO faturou US$ 1 bilhão com contratos do ICE, enquanto a CoreCivic embolsou US$ 500 milhões. Essas empresas são criticadas por cortar custos em serviços essenciais, priorizando lucros. Em Plymouth, o condado recebe US$ 93 por dia por detido, um incentivo financeiro que mantém o acordo com o ICE, mesmo diante de críticas de ativistas.
A falta de transparência é outro obstáculo. O ICE raramente divulga detalhes sobre incidentes ou condições, e a transferência de detidos para outros estados dificulta o monitoramento. “Você pode ter um vizinho levado e nunca saber”, disse Danny Timpona, da LUCE Immigrant Justice Network. Essa falta de clareza alimenta a desconfiança e impede a fiscalização independente.
Apesar das agruras, há vozes que resistem. Em Worcester, vizinhos saíram às ruas para protestar contra a prisão de uma família. Em Chelsea, familiares enfrentaram agentes do ICE, mesmo sabendo dos riscos. Comunidades imigrantes, especialmente a brasileira – estimada em 350.000 a 420.000 pessoas em Massachusetts – estão se organizando, com igrejas e ONGs oferecendo apoio. Mas a luta é desigual. Cada detenção é uma história interrompida, uma família separada, um sonho adiado.
As condições dos centros de detenção em Massachusetts são mais do que números ou relatórios: são vidas em jogo. Superlotação, negligência médica, tratamento desumano e falta de direitos básicos pintam um quadro que não pode ser ignorado. Enquanto o ICE opera sob a justificativa de segurança, o custo humano é inegável. Cabe a nós, como sociedade, perguntar: que tipo de futuro queremos construir? Um que prende e esquece, ou um que acolhe e humaniza?
É hora de falar sobre isso. A consciência é o primeiro passo para a mudança
Referencias:
- American Civil Liberties Union (ACLU): Relatórios sobre condições de detenção
- Kaiser Family Foundation (KFF): Análise sobre impactos da detenção
- American Immigration Lawyers Association (AILA): Dados sobre mortes em detenção
- Bloomberg: Transferências e custos de detenção
- BBC Brasil:A lucrativa indústria da detenção de imigrantes nos EUA
- Folha de S.Paulo: Megaoperação em Massachusetts
- BBC News Brasil: As empresas que estão lucrando muito com deportações de imigrantes de Trump