RFI – No 56º dia da invasão russa, a Ucrânia recebeu caças para ajudar a combater a ofensiva russa no leste do país, onde os últimos combatentes ucranianos entrincheirados em Mariupol fizeram um apelo desesperado à comunidade internacional por ajuda. Em uma mensagem de vídeo postada no Facebook e divulgada nesta quarta-feira (20) pela imprensa ucraniana, um militar resume o que “pode ser o seu último apelo”.
“Podemos estar vivendo nossos últimos dias, até nossas últimas horas”, disse Serhiy Volynsky, comandante da 36ª Brigada de Fuzileiros Navais da Ucrânia, após um novo ultimato de Moscou para a rendição dos combatentes ucranianos. Ele pede para que soldados e civis ainda presentes em Mariupol, cidade ucraniana sitiada pelos russos, sejam retirados da fábrica de Azovtal.
“O inimigo é dez vezes mais numeroso do que nós”, afirma. “Apelamos e imploramos a todos os líderes mundiais para que nos ajudem. Pedimos que usem o procedimento de extração e nos levem ao território de um país terceiro”. Segundo o comandante Volyna, o exército russo tem “vantagem no ar, na artilharia, nas forças terrestres, nos equipamentos e nos tanques”.
“Só defendemos um ponto, a fábrica de Azovstal, onde, além de soldados, há também civis que se tornaram vítimas desta guerra”, acrescenta o militar.
Ao menos 500 soldados estariam feridos no local que também abriga civis. Pelo menos 1.000 pessoas, especialmente mulheres, crianças e idosos, estão escondidas com os combatentes “nos abrigos subterrâneos” da fábrica, relatou o conselho municipal de Mariupol, na terça-feira (19). Um balanço não oficial revela o número de mais de 20 mil civis mortos na cidade.
Após quase dois meses de cerco, o estratégico porto ucraniano de Mariupol pode cair nas mãos dos russos. O Ministério da Defesa ucraniano confirmou, na manhã desta quarta-feira, que o exército russo “estava concentrando a maior parte de seus esforços em tomar a cidade de Mariupol e continuar suas tentativas de conquistar a área perto da siderúrgica Azovstal”.
Notícias do front
Na terça-feira (19), a Rússia anunciou ter realizado uma série de ataques aéreos e de mísseis no leste da Ucrânia. De acordo com Kiev, é o início “da batalha pelo Donbass” temida há semanas. Os enviados especiais da RFI Clea Broadhurst e Jad El Khoury acompanharam um batalhão na linha do front.
Os repórteres chegaram a 750 metros das tropas inimigas russas no Donbass. Para Aleksandr, comandante do batalhão ucraniano, a segunda fase da ofensiva já começou. “Nos últimos dois dias, o bombardeio tornou-se muito forte, cada vez mais frequente. Claramente os russos estão trazendo a artilharia pesada”, diz o militar. “Os bombardeios estão se aproximando, os soldados se preparam”, completa.
Sergey é o oficial médico do batalhão. Ele ensina como prestar primeiros socorros. “Eu ensino a fazer curativos e todos os fundamentos médicos que eles precisam saber. Mas, também, mostro as rotas para evacuar o grupo, se necessário. Eu controlo tudo. Se um soldado está ferido em algum lugar, eu cuido dele até que seja retirado”, explica.
Mesmo preparado para a guerra, este soldado, de aparência cansada, lamenta a situação em que se encontra. “Perdi o meu melhor amigo aqui algumas semanas atrás. É muito difícil perceber que nunca mais o verei. Os civis estão passando por tudo isso, veja Kramatorsk, Mariupol. O que eles fizeram? São apenas pessoas que viviam uma vida tranquila”, diz.
Sob o som dos bombardeios, os soldados desta linha de frente de batalha aguardam a chegada dos russos.