JSNEWS – Os Estados Unidos, uma nação historicamente moldada por sucessivas ondas de imigração, enfrentam um momento singular: pela primeira vez em seis décadas, a população imigrante no país diminuiu. Em janeiro de 2025, o número de imigrantes atingiu um pico de 53,3 milhões, representando 15,8% da população total, segundo o Pew Research Center. Contudo, em apenas seis meses, esse total recuou para 51,9 milhões, ou 15,4% dos residentes, um declínio que remete aos anos 1960 e, antes disso, à Grande Depressão. O que está por trás dessa inflexão? E o que ela revela sobre o presente e o futuro da identidade americana?
A redução observada reflete, em parte, a intensificação de políticas migratórias restritivas. Em 2024, o governo Biden implementou medidas que limitaram pedidos de asilo na fronteira sul, reduzindo significativamente o fluxo de chegadas. Com a posse de Donald Trump em 2025, 181 ordens executivas foram emitidas nos primeiros 100 dias, focadas em restringir a imigração, intensificar deportações e reforçar a fiscalização. “Há, sem dúvida, uma conexão com essas mudanças, embora a magnitude exata do impacto ainda seja incerta”, observa Jeff Passel, demógrafo sênior do Pew Research Center.
Além disso, questões técnicas, como a queda nas taxas de resposta em pesquisas entre famílias imigrantes, podem ter influenciado os dados, mas os efeitos das políticas são inegáveis. A população imigrante irregular, que alcançou 14 milhões em 2023 – o maior nível já registrado –, também começou a diminuir. Esse grupo, que cresceu 3,5 milhões entre 2021 e 2023, inclui mais de 40% de pessoas com status legais temporários, como beneficiários do Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA) ou detentores de permissões humanitárias. Essas proteções, embora frágeis, permitem que muitos permaneçam no país e trabalhem legalmente, desafiando a narrativa simplista de uma imigração descontrolada.
Impactos no Trabalho e na Economia
O mercado de trabalho sentiu os efeitos dessa transformação. Em 2023, 9,7 milhões de imigrantes irregulares integravam a força de trabalho, representando 5,6% do total, com destaque para setores como construção, agricultura e hospitalidade. No entanto, entre janeiro e junho de 2025, a participação de imigrantes no mercado caiu de 20% para 19%, uma perda de mais de 750 mil trabalhadores.
Essa mudança levanta questões: como setores historicamente dependentes dessa mão de obra se adaptarão? E quais serão as consequências para a economia em um país que, por décadas, se beneficiou da energia e diversidade de seus imigrantes?
A distribuição dos imigrantes irregulares permanece concentrada, mas menos do que no passado. California (2,3 milhões), Texas (2,1 milhões), Flórida (1,6 milhão) e Nova York continuam liderando, mas 32 estados registraram crescimento dessa população entre 2021 e 2023. Flórida (+700 mil) e Texas (+450 mil) destacaram-se, enquanto seis estados, incluindo Nova York e California, abrigavam menos imigrantes irregulares em 2023 do que no pico de 2007.
Essa dispersão sugere uma imigração mais diversa em sua geografia, mas ainda ancorada em grandes centros urbanos como Los Angeles, Miami e Nova York.
Cerca de metade dos imigrantes nos EUA, ou 26,7 milhões, nasceu na América Latina, com o México liderando (11 milhões). Outros grupos significativos vêm da Índia, China, Filipinas e Cuba. Em 2023, 46% eram cidadãos naturalizados, 24% residentes permanentes legais e 27% imigrantes irregulares. Esses números revelam a complexidade de um sistema migratório que equilibra acolhimento e controle, mas também reacendem um debate recorrente: os imigrantes de hoje são diferentes dos “bons imigrantes” do passado, ou essa percepção é apenas um eco de velhos preconceitos? Como observa Passel: “essa narrativa persiste há mais de um século, mas os imigrantes continuam moldando a nação”.
O declínio atual, ainda preliminar, pode ser um ponto de inflexão ou apenas uma pausa em uma trajetória de crescimento. As políticas de 2025, com sua ênfase em deportações e restrições, estão redesenhando o panorama migratório, mas seus efeitos completos ainda estão por vir. Enquanto os Estados Unidos refletem sobre sua identidade como nação de imigrantes, uma questão permanece: que equilíbrio o país buscará entre segurança, economia e os valores que historicamente o definiram?