Providence, Rhode Island — 19 de dezembro de 2025
Um post anônimo no Reddit, escrito por um homem em situação de rua que dormia no porão de um prédio da Brown University, foi decisivo para que as autoridades identificassem o suspeito responsável pelo tiroteio em massa no campus da universidade, ocorrido no sábado, 13 de dezembro. O atirador, Claudio Manuel Neves Valente, de 48 anos, nacional português, matou dois estudantes e feriu outras nove pessoas antes de assassinar um professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology) dois dias depois. O suspeito foi encontrado morto em um depósito em New Hampshire, na noite de quinta-feira, 18 de dezembro, após tirar a própria vida com um tiro.
O tiroteio aconteceu no prédio Barus and Holley, onde aulas de física eram ministradas — local que Neves Valente frequentava como aluno de pós-graduação em física no início dos anos 2000. Ele se matriculou na Brown em 2000 com visto de estudante, mas abandonou o programa em 2003 sem concluir o curso. Autoridades confirmaram que Neves Valente era residente permanente legal nos EUA desde 2017 e morava em Miami antes de vir para o Nordeste.
A pista no Reddit

A investigação demorou dias para identificar o suspeito, apesar de câmeras de vigilância e buscas intensas. Na terça-feira, 16 de dezembro, as autoridades receberam uma dica anônima sobre um post no subreddit de Providence. O autor, identificado apenas como “John” — um homem em situação de rua e ex-aluno da Brown —, descreveu ter visto o atirador circulando pelo campus horas antes do ataque.
No post, John escreveu: “Estou falando sério. A polícia precisa investigar um Nissan cinza com placas da Flórida, possivelmente alugado. Foi o carro que ele estava dirigindo”. Até então, a polícia não havia divulgado imagens de veículos ou placas específicas. Com base na dica, os investigadores revisaram as câmeras de vigilância e localizaram o carro: um Nissan Sentra cinza/alugado com placas da Flórida.
Na quarta-feira, 17 de dezembro, a polícia divulgou imagens de um homem interagindo com o suspeito. Naquela noite, John se apresentou à polícia de Providence e confirmou ser o autor do post. Ele relatou um encontro tenso com Neves Valente no banheiro do prédio Barus and Holley, horas antes do tiroteio. Descreveu a roupa do homem como “inadequada para o clima” e contou como o seguiu pela rua, iniciando um “jogo de gato e rato”: os dois se olhavam, o suspeito mudava de direção, e John o seguia.
“Seu carro está lá atrás, por que você está dando voltas no quarteirão?”, perguntou John. Neves Valente respondeu: “Eu não te conheço de lugar nenhum… Por que você está me perseguindo?”. O encontro terminou ali. Menos de duas horas depois, o tiroteio começou.
John identificou o carro alugado em fotos de vigilância: “Caramba, pode ser esse mesmo”. As câmeras capturaram o veículo 14 vezes na área.
Conexão com o assassinato do professor do MIT
Neves Valente alugou o carro em Boston, na Alamo Rent A Car, em novembro. Vídeos mostram ele usando o mesmo traje no dia do tiroteio. Após o ataque na Brown, ele dirigiu para Massachusetts e, na segunda-feira, 15 de dezembro, matou o professor Nuno Loureiro, 47 anos, em sua casa em Brookline. Loureiro era um renomado físico nuclear e diretor do Centro de Ciência e Fusão de Plasma do MIT.
Os dois se conheceram no mesmo programa acadêmico em Portugal entre 1995 e 2000, mas não há indícios de relação posterior. Autoridades acreditam que Loureiro era o alvo principal, e as vítimas na Brown foram atingidas por acaso. Neves Valente fugiu para um depósito em Salem, New Hampshire — alugado em novembro —, onde se suicidou.
Herói improvável
O procurador-geral de Rhode Island, Peter Neronha, elogiou John: “Ele explodiu esse caso”. O chefe de polícia de Providence, Oscar Perez, destacou sua cooperação. Fontes indicam que John, descrito como “articulado e confiável”, pode receber parte da recompensa de US$ 50 mil oferecida pelo FBI.
O motivo do crime permanece desconhecido. A comunidade acadêmica da Brown e do MIT lamenta as perdas: Mukhammad Aziz Umurzokov e Ella Cook, os estudantes mortos, e o professor Loureiro, descrito como brilhante e admirado.
O caso reforça o papel das redes sociais em investigações policiais, mas também levanta questões sobre segurança em campi universitários. John, o homem em situação de rua que dormia no prédio onde ocorreu o tiroteio, virou o herói improvável que ajudou a encerrar uma caçada de seis dias.


