JSNEWS – Em uma decisão que reforça a autonomia municipal frente às investidas do governo federal, a prefeita de Boston, Michelle Wu, celebrou na última sexta-feira a determinação judicial que impede a administração Trump de cortar ou condicionar verbas federais a cidades que adotam políticas de “cidades-santuário”.
Em declaração proferida no domingo, durante evento não relacionado, Wu afirmou que Boston “continuará a seguir a lei”, destacando a legalidade de sua postura e criticando a abordagem do governo federal como juridicamente equivocada. A sentença, proferida pelo juiz distrital William Orrick, de São Francisco, amplia uma injunção preliminar que já protegia cidades como São Francisco, Portland e Seattle, estendendo-a agora a Boston, Chicago, Denver, Los Angeles e outras 30 cidades e condados.
A medida judicial bloqueia a tentativa da administração Trump de retaliar financeiramente jurisdições que, como Boston, adotam políticas como o Trust Act, que limita a cooperação local com autoridades federais de imigração. Tal decisão reforça a separação constitucional de poderes entre governos locais, estaduais e federal, um princípio que Wu enfatizou em sua fala: “Este é mais um exemplo de os tribunais intervindo para afirmar que a administração Trump está errada em sua interpretação da lei”.
A postura da prefeita, no entanto, não está isenta de críticas. Embora Wu apresente sua decisão como uma defesa da legalidade e da proteção comunitária, sua resistência em atender às demandas do procurador-geral dos EUA, Pam Bondi, levanta questionamentos sobre os limites da autonomia municipal em face de pressões federais.
Bondi, em carta enviada a Boston no início do mês, exigiu que a cidade confirmasse seu “compromisso em cumprir a lei federal” e identificasse medidas para eliminar políticas que “obstruam a aplicação da lei de imigração”. A ameaça de corte de verbas e até de intervenção federal, como já ocorreu em Washington, D.C., evidencia a tensão entre a agenda de segurança pública de Wu e a pressão por alinhamento com as políticas migratórias do governo Trump.
No último domingo, Wu reiterou sua posição em um grande comício, classificando os ataques do governo federal como “sem precedentes e ilegais”. A prefeita argumenta que a manutenção do Trust Act não apenas está em conformidade com a lei, mas também contribui para tornar Boston “a grande cidade mais segura do país”. Contudo, a retórica de Wu, embora ressonante entre seus apoiadores, pode ser vista como uma aposta arriscada.
A insistência em desafiar ordens executivas de Trump — que orientam o procurador-geral e o secretário de Segurança Interna a suspenderem repasses a “cidades-santuário” e proíbem agências federais de financiar estados e localidades que “facilitem” tais políticas — coloca em risco bilhões de dólares em recursos federais, essenciais para a infraestrutura e os serviços públicos de Boston.
O juiz Orrick, em sua injunção, classificou as ordens executivas de Trump e as ações que as ecoam como uma “ameaça coercitiva” inconstitucional, um argumento que fortalece a posição de Wu no campo jurídico. Ainda assim, a administração Trump já recorreu da decisão inicial, sinalizando que a batalha legal está longe de um desfecho. Enquanto Wu se posiciona como defensora da comunidade e da legalidade, críticos apontam que sua postura pode intensificar o confronto com o governo federal, potencialmente comprometendo recursos vitais para a cidade em nome de uma agenda política.