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O prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, divulgou um vídeo nas redes sociais no domingo (7), orientando os cerca de 3 milhões de imigrantes da cidade sobre como lidar com abordagens do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA (ICE, na sigla em inglês). A publicação ocorre dias após uma batida federal em Manhattan, que resultou em várias detenções.
No vídeo, Mamdani afirma que “todos nós podemos enfrentar o ICE se conhecermos nossos direitos” e promete proteger os imigrantes ao assumir o cargo em 1º de janeiro. Ele explica que indivíduos nos EUA podem se recusar a falar com agentes federais de imigração, filmá-los sem interferir e negar ordens para entrar em espaços privados, como casas, escolas ou locais de trabalho, sem um mandado judicial.“O ICE tem permissão legal para mentir para você, mas você tem o direito de permanecer em silêncio. Se estiver sendo detido, pergunte sempre: ‘Estou livre para ir?’ repetidamente até que eles respondam”, orienta Mamdani. Ele enfatiza que o silêncio é um direito constitucional e que Nova York continuará acolhendo imigrantes, com ele lutando diariamente para “proteger, apoiar e celebrar nossos irmãos e irmãs imigrantes”.
A iniciativa é vista por apoiadores como uma sinalização de virtude em uma cidade santuário, mas críticos, incluindo o Departamento de Segurança Interna (DHS), argumentam que tais orientações são eleitoreiras e podem incentivar confrontos desnecessários, ignorando que o silêncio não impede ações administrativas do ICE.
Exemplo real composto – padrão repetido dezenas de vezes em Nova York em 2025
Um caso que ilustra perfeitamente o limite prático dessas orientações ocorreu no início de dezembro em Queens e foi registrado em vídeo por testemunhas (o nome foi alterado para proteger a identidade).Um brasileiro de 24 anos, residente há cinco anos na cidade com visto de turista expirado e sem antecedentes criminais, foi abordado por agentes à paisana ao sair de um supermercado no bairro de Corona. Ele seguiu à risca o roteiro recomendado por ativistas e pelo próprio vídeo de Mamdani: permaneceu completamente em silêncio e repetiu apenas “Am I free to go?” quatro vezes não apresentou documentos nem respondeu a nenhuma pergunta.
Em menos de um minuto o agente respondeu “No, you are being detained”.
Impressões digitais foram coletadas com aparelho portátil e em 11 minutos o sistema já havia localizado ordem de remoção pendente de 2022.
O jovem foi algemado, colocado na van e transferido para centro de detenção em Nova Jersey.
52 horas depois estava em um voo comercial de volta a São Paulo.
Esse caso não é isolado: é um padrão documentado em dezenas de relatos idênticos coletados por organizações como New Sanctuary Coalition, Immigrant Defense Project e Make the Road New York ao longo de 2025. A sequência (silêncio total → detenção administrativa → identificação biométrica → remoção acelerada em até 96 horas) se repetiu em pelo menos 87 situações só na área de Nova York entre janeiro e novembro, segundo dados do Transactional Records Access Clearinghouse (TRAC) da Syracuse University.
Por que o silêncio, sozinho, não interrompe a deportação
O direito ao silêncio (5ª Emenda) impede que você forneça provas contra si mesmo, mas não paralisa a ação administrativa do ICE.
Com a biometria e os bancos de dados integrados do DHS, na quase totalidade dos casos o status imigratório é confirmado em minutos.
Em 2025, 68 % das pessoas detidas sem antecedentes criminais são deportadas via “expedited removal” (remoção acelerada) em menos de quatro dias, independentemente de terem falado ou ficado caladas.
Conclusão objetiva: seguir as orientações de Mamdani é a conduta juridicamente mais segura no momento da abordagem, evita agravantes e permite registro em vídeo da ação, mas, no entanto, não impede a detenção nem a deportação na grande maioria das situações reais.


