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Conforme o jornal Boston Herald, um professor visitante da Faculdade de Direito de Harvard, de nacionalidade brasileira, foi suspenso após sua prisão por supostamente disparar uma arma de chumbinho nas proximidades de uma sinagoga em Brookline, Massachusetts, durante o início do Yom Kippur, considerado o dia mais sagrado do calendário judaico, na última quarta-feira.
Carlos Portugal Gouvea, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e pesquisador temporário em Harvard, foi detido pela polícia de Brookline após ser flagrado por um segurança privado da sinagoga Temple Beth Zion disparando uma espingarda de chumbinho. Segundo o relatório policial, o segurança ouviu “pelo menos dois disparos altos” e, ao olhar na direção do som, avistou Gouvea atrás de uma árvore, segurando a arma. Ao se aproximar, o segurança tentou deter o suspeito, que deixou a espingarda encostada na árvore. Durante a abordagem, houve uma breve luta física, com Gouvea tentando alcançar a arma antes de fugir para sua residência.
O segurança conseguiu recuperar a espingarda de chumbinho e entregá-la aos policiais de Brookline, que chegaram ao local. Ao abordarem Gouvea em sua casa, ele admitiu ter disparado a arma, mas alegou estar “caçando ratos”. A polícia informou que o orientou sobre a insegurança de tal prática e o impacto alarmante causado pelo incidente. Gouvea foi cooperativo durante a prisão.A investigação revelou que um dos projéteis disparados por Gouvea perfurou a janela de um carro estacionado ao lado da sinagoga. Após vistoria, os policiais encontraram o que acreditam ser o chumbinho dentro do veículo, no lado do passageiro.
O professor enfrenta acusações por disparo ilegal de arma de chumbinho, conduta desordeira, perturbação da paz e dano malicioso à propriedade. Ele foi indiciado no Tribunal Distrital de Brookline, declarou-se não culpado e foi liberado, com uma nova audiência marcada para novembro. O vice-superintendente da polícia de Brookline, Paul Campbell, afirmou ao Boston Herald que as investigações iniciais não indicam que os disparos de Gouvea tiveram como alvo a sinagoga ou sua congregação. “Com base no que sabemos, não parece que o incidente esteja relacionado ao templo ou a um caso de antissemitismo. A proximidade com a sinagoga e o momento (Yom Kippur) parecem ser coincidentes, já que Gouvea reside na área”, declarou Campbell em comunicado.
A Faculdade de Direito de Harvard confirmou a suspensão de Gouvea, que também é descrito em seu perfil acadêmico como diretor executivo de um renomado think tank sobre justiça ambiental e social no Brasil. “Carlos Portugal Gouvea foi colocado em licença administrativa enquanto a instituição busca mais informações sobre o caso”, informou o porta-voz da faculdade, Jeff Neal, sem fornecer detalhes adicionais.
O incidente ocorre em um momento delicado, em meio a acusações da administração Trump de que Harvard não tem lidado adequadamente com preocupações sobre antissemitismo no campus, especialmente após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 contra Israel, perpetrados por militantes apoiados pelo Hamas. No último ano, autoridades federais criticaram a universidade por permitir um “acampamento prolongado e inaceitável” durante protestos relacionados à guerra em Gaza, que teriam intimidado estudantes e professores judeus e israelenses, prejudicando suas atividades acadêmicas.O presidente Donald Trump anunciou recentemente estar próximo de um “acordo” com Harvard, após sua administração cortar bilhões em verbas de pesquisa e iniciar uma série de investigações contra a universidade. Segundo Trump, o acordo envolveria o pagamento de US$ 500 milhões por Harvard para criar “uma grande escola técnica” focada em inteligência artificial e outras áreas. A universidade, por sua vez, entrou com uma ação judicial para reverter os cortes de financiamento. Em setembro, a juíza federal Allison Burroughs, nomeada pelo ex-presidente Obama, declarou que a administração Trump usou o antissemitismo como uma “cortina de fumaça” para justificar a suspensão de mais de US$ 2,6 bilhões em verbas aprovadas pelo Congresso, ignorando as medidas tomadas por Harvard para proteger seus alunos e funcionários afetados.
O caso de Gouvea, embora aparentemente desvinculado de motivações antissemitas, reacende o debate sobre a segurança e a percepção de antissemitismo em comunidades próximas a instituições acadêmicas de prestígio, especialmente em um contexto de tensões políticas e sociais.