AFP – As negociações no Senado para reformar a polícia dos Estados Unidos fracassaram nesta quarta-feira (22), o que representa um sério revés para o presidente Joe Biden.
O assassinato de George Floyd, sufocado por um policial branco em 25 de maio de 2020 em Minneapolis, gerou uma imensa mobilização nos Estados Unidos contra o racismo e a violência policial.
Mas depois de meses de discussões “não conseguimos chegar a um acordo sobre uma estratégia” a seguir para reformar a força policial, disse o senador democrata Cory Booker à imprensa, anunciando o fim das negociações com seus colegas republicanos.
Biden, eleito com o apoio do eleitorado negro e que fez dessa reforma uma de suas prioridades, responsabilizou os republicanos pelo fracasso.
“Infelizmente, os senadores republicanos rejeitaram reformas modestas, que até o ex-presidente (Donald Trump) apoiou, recusando-se a atuar em pontos-chave que a própria força pública estava disposta a discutir”, criticou o presidente em nota.
Os republicanos devolveram a acusação. “Depois de meses de progresso, estou muito desapontado que os democratas tenham perdido esta oportunidade de tornar nossos bairros mais seguros e melhorar a relação entre a aplicação da lei e as comunidades de cor”, afirmou o senador Tim Scott.
A amargura reinou entre os partidários da reforma.
“Expressamos nossa profunda decepção com a incapacidade dos líderes do Senado de encontrar uma solução razoável para a reforma da polícia federal”, lamentou o advogado Ben Crump, que representa a família Floyd e inúmeras vítimas da violência policial.
“Depois de um ano sem precedentes, os sindicatos policiais e políticos partidários decidiram estar do lado errado da história”, julgou Derrick Johnson, presidente da organização de direitos civis NAACP.
Em resposta, a Câmara dos Representantes controlada pelos democratas em março adotou um projeto de reforma da polícia com o nome de Floyd, visando – entre outras coisas – enfraquecer a imunidade judicial da qual se beneficiam os agentes da lei.
O texto também previa proibir chaves de estrangulamento, limitar as transferências de equipamento militar para a polícia, criar um registro nacional de oficiais demitidos por abuso, etc.
Mas os democratas tinham que convencer uma dúzia de representantes republicanos para superar o obstáculo do Senado.
Preocupados em não parecerem os coveiros de uma reforma tão esperada pela minoria afro-americana, os republicanos confiaram a seu único representante negro no Senado, Tim Scott, a tarefa de negociar um texto consensual.
Em várias ocasiões, o presidente Biden pediu aos representantes que mostrassem “coragem” para fazê-lo.
Apesar do fracasso, o presidente espera “um dia assinar uma reforma ambiciosa e abrangente da força policial que honre o nome e a memória de George Floyd”. Enquanto isso, “a Casa Branca pode persistir em suas consultas” e refletir sobre uma eventual ação por decreto do governo.