Da Redação – Os protestos contra o presidente Donald Trump, realizados em 19 e 20 de abril de 2025, mobilizaram entre 150 mil e 200 mil pessoas em mais de 1.200 eventos nos Estados Unidos, segundo estimativas baseadas em relatos da Reuters, CNN e Al Jazeera. Apesar da ampla organização por movimentos como “Hands Off!” e “50501”, a adesão ficou aquém das expectativas de milhões, conforme anunciado por organizadores, que citaram 600 mil inscritos ou até 3 milhões de participantes globais. A realidade, no entanto, revelou um movimento fragmentado, com cerca de 20 mil a 50 mil pessoas em Washington, D.C., milhares em grandes cidades como Nova York e Chicago, e centenas em locais menores, como Asheville (Carolina do Norte).
A baixa adesão pode ser atribuída a vários fatores, com destaque para as pautas difusas e a falta de motivação generalizada. Os protestos abordaram questões diversas, como deportações em massa, cortes de gastos propostos pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), políticas identitárias e combate à corrupção. Essas causas, embora relevantes, não unificaram os democratas nem mobilizaram amplos setores da população. Políticas identitárias, por exemplo, frequentemente polarizam até mesmo dentro do espectro progressista, enquanto o combate à corrupção carece de apelo emocional imediato.
Deportações e cortes do DOGE, embora graves, competiram por atenção sem uma narrativa coesa, ao contrário de movimentos históricos como a Marcha das Mulheres (2017), que tinha mensagens claras como “No Ban, No Wall”.
A dispersão geográfica dos eventos também diluiu o impacto. Com protestos espalhados por todos os 50 estados, a energia se fragmentou em pequenas manifestações locais, que não geraram a mesma visibilidade de uma marcha centralizada. Além disso, o receio de repressão foi um obstáculo significativo. Organizadores alertaram para riscos de vigilância, recomendando máscaras e desativação de biometria em celulares, em um contexto de 41 projetos de lei anti-protesto em tramitação. Esse medo de ser reconhecido reflete uma falta de coragem coletiva, sinalizando que a percepção de risco superou a motivação para protestar.
A desconfiança na democracia, vista como um sistema que beneficia elites, agravou a apatia, especialmente entre jovens que sentem suas liberdades ameaçadas e não veem resultados concretos em mobilizações passadas.
A fadiga de protestos, após anos de intensas manifestações como as do Black Lives Matter (2020), também contribuiu. Eventos climáticos, como chuvas no sul e meio-oeste, e a competição com notícias globais, como a morte do Papa Francisco, desviaram a atenção. Diferentemente de protestos históricos com causas unificadoras, a ausência de um catalisador claro em 2025 — como uma tragédia ou decisão executiva específica — enfraqueceu o apelo. A ampla coalizão, que incluía de progressistas a republicanos anti-Trump, trouxe diversidade, mas sacrificou clareza.
Em suma, a adesão de 150 mil a 200 mil pessoas, longe dos milhões esperados, reflete pautas difusas, medo de repressão e desmotivação em um cenário de desconfiança democrática. Para futuras mobilizações, uma mensagem unificada, centrada em questões como justiça econômica ou direitos civis, poderia reacender o engajamento, superando a fragmentação e o receio que marcaram 2025.
Os EUA têm tradição em protestos massivos?
Os Estados Unidos possuem uma robusta tradição de protestos massivos, com eventos que marcaram a história política e social. A Marcha das Mulheres (2017) reuniu 3 a 5 milhões de pessoas contra as políticas de Trump, enquanto os protestos do Black Lives Matter (2020) mobilizaram 15 a 26 milhões após a morte de George Floyd.
A Marcha sobre Washington (1963), com 250 mil pessoas, e as mobilizações contra a Guerra do Vietnã (décadas de 1960-1970), com até 500 mil em um único evento, são outros exemplos.
Esses movimentos tiveram causas claras, como direitos civis ou oposição a políticas específicas, e organização centralizada, que maximizaram a adesão. Em 2025, a falta de um catalisador unificador e o contexto repressivo contrastam com essa tradição, explicando a menor escala dos protestos.