
Nova York (NY), 22 de Outubro de 2025
Centenas de pessoas tomaram as ruas de Nova York na noite de terça-feira, 21 de outubro, em protestos contra uma operação conduzida pela Agência de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) no bairro de Chinatown, em Manhattan. A ação, realizada no início do dia, teve como alvo a venda de mercadorias falsificadas, como bolsas, acessórios, joias e roupas de marcas famosas, resultando na detenção de um número ainda não confirmado de pessoas. A operação ocorreu na Canal Street, uma área vibrante e conhecida por sua semelhança com centros comerciais populares como o camelódromo da Rua 25 de Março, em São Paulo, Brasil. Assim como na famosa rua paulistana, onde produtos falsificados são comercializados abertamente, a Canal Street é um ponto turístico em Nova York, atraindo visitantes, incluindo brasileiros, que buscam itens de marcas renomadas, como Gucci, Louis Vuitton e Rolex, a preços acessíveis. Muitos compram esses produtos cientes de que são falsificações, enquanto outros, iludidos pela qualidade ou pelo preço, acreditam adquirir originais.
É importante esclarecer que a venda de mercadorias falsificadas é crime, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, configurando violação de propriedade intelectual e, em alguns casos, sonegação fiscal ou lavagem de dinheiro. Apesar de ser uma prática ilegal, o comércio de falsificados ocorre à luz do dia em Chinatown, frequentemente com o conhecimento das autoridades locais, lideradas pelo Partido Democrata, que governa a cidade e o estado de Nova York. Essa tolerância tácita tem gerado críticas, especialmente porque lojistas regulares do bairro apontam prejuízos causados pela concorrência desleal.
Contudo, a operação da ICE, que envolveu mais de 50 agentes federais, incluindo membros do FBI e da Patrulha de Fronteira, foi alvo de duras críticas de políticos democratas, que a consideraram desproporcional. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram agentes mascarados e armados algemando vendedores e afastando transeuntes, enquanto um veículo blindado percorria as ruas. A multidão, composta por moradores e turistas, reagiu com indignação, acompanhando os agentes e gritando frases como “ICE fora de Nova York” e “Sem ICE, sem KKK, sem EUA fascista”.
Horas após a operação, manifestantes se reuniram em frente ao edifício federal na 26 Federal Plaza, onde acreditavam que os detidos haviam sido levados. Murad Awawdeh, vice-presidente de advocacy da Coalizão de Imigração de Nova York, estimou que entre 15 e 40 vendedores foram presos, além de pelo menos dois moradores detidos por protestar contra a ação da ICE. “Cenas assim não pertencem a uma democracia, mas a regimes fascistas. Precisamos continuar resistindo”, declarou Awawdeh a jornalistas. O vereador Christopher Marte criticou a conduta dos agentes: “Nunca vi tantas armas apontadas para pedestres nas ruas”, afirmou ao jornal The City.
O prefeito Eric Adams, reforçando a posição de Nova York como “cidade santuário”, declarou que a Polícia de Nova York (NYPD) não participou da operação federal e que a cidade não coopera com deportações civis. “Imigrantes sem documentação que buscam o sonho americano não devem ser alvos das forças de segurança”, escreveu Adams no X.
No entanto, testemunhas relataram que policiais antimotim da NYPD detiveram manifestantes que protestavam contra a ICE. Políticos como os candidatos à prefeitura Zohran Mamdani e Andrew Cuomo, além da governadora Kathy Hochul, associaram a operação às políticas do governo de Donald Trump. “Trump diz que mira os ‘piores dos piores’, mas seus agentes usaram cassetetes e spray de pimenta contra vendedores e pedestres”, escreveu Hochul. Mamdani classificou a ação como “agressiva e irresponsável”, enquanto Cuomo a descreveu como “mais voltada a gerar medo do que justiça”. A vereadora Shahana Hanif também condenou as táticas da ICE, chamando-as de “inaceitáveis, imorais e injustas”.
A operação em Chinatown não é um caso isolado. Ações da ICE em comunidades imigrantes têm se intensificado nos Estados Unidos, com protestos em cidades como Chicago, Los Angeles, Boston e Portland. Em Nova York, uma operação em 16 de outubro em um abrigo de imigrantes em Midtown foi a primeira do tipo na atual administração Trump. Relatos apontam uso excessivo de força em outras cidades, incluindo incidentes com spray de pimenta e agressões físicas. Em 2025, imigrantes sem antecedentes criminais são o maior grupo em detenção pela ICE, que também reteve pelo menos 170 cidadãos americanos por engano.
O Departamento de Segurança Interna (DHS) afirmou que a operação visava atividades criminosas relacionadas à venda de produtos falsificados, mas não divulgou o número exato de detidos. A ação reacendeu o debate sobre imigração, segurança pública e o comércio de mercadorias falsificadas, além de levantar questionamentos sobre a conivência das autoridades locais com atividades ilegais. Assim como na Rua 25 de Março, em São Paulo, onde a exploração de mão de obra imigrante e a venda de produtos falsificados são práticas recorrentes, a tolerância das autoridades democratas de Nova York tem sido criticada por não distinguir adequadamente entre a proteção de imigrantes e a permissividade com atividades que prejudicam a economia local e o comércio legal. Essas contradições expõem as tensões entre as políticas federais e locais em uma cidade marcada pela diversidade, mas desafiada a equilibrar proteção social e cumprimento da lei.


