Por: Alex Colombibni —
O Brasil atravessa um dos momentos mais tensos de sua história recente. A rapidez, a severidade e a forma como foram conduzidos os julgamentos envolvendo Jair Bolsonaro e quatro generais quatro estrelas e os outros envolvidos nesse processo, reacenderam um debate que deveria preocupar qualquer democrata: até onde vai o poder da Justiça quando ela deixa de cumprir seu papel de equilíbrio e passa a atuar como protagonista político? Independentemente de posições ideológicas, cresce no país a percepção de que estamos diante de prisões e decisões judiciais que muitos consideram arbitrárias, fruto de um processo conduzido em velocidade incomum quando comparado ao padrão histórico do sistema jurídico brasileiro.
Enquanto bandidos, traficantes, homicidas e estupradores esperam anos — às vezes décadas — por uma sentença definitiva, o chamado “caso da trama golpista” foi conduzido em tempo recorde, produzindo condenações que dividem especialistas, juristas e a população.
Essa disparidade alimenta a crítica central: por que certos processos seguem o rito tradicional, enquanto outros parecem correr em pista exclusiva? Quando a Justiça modifica seu ritmo conforme o personagem envolvido, perde-se um princípio essencial da democracia: a igualdade perante a lei. O nome mais citado nesse debate é o do ministro Alexandre de Moraes, cuja atuação tem sido vista por muitos como expansiva, dura e, em alguns momentos, de caráter quase monocrático.
Há quem interprete essa postura como necessária em defesa das instituições. Há quem veja como abuso de autoridade e concentração excessiva de poder nas mãos de um único magistrado. Mesmo assim, o que mais preocupa é o efeito colateral dessa condução: o enfraquecimento da confiança pública.
Quando juízes — especialmente figuras como Moraes, Dino ou Zanin — são percebidos pela sociedade como próximos politicamente do governo de turno, nesse caso do presidente Lula, toda decisão forte passa a carregar suspeitas de parcialidade, mesmo quando tecnicamente correta. A Justiça não pode apenas ser correta; ela precisa parecer correta. Precisa transmitir equilíbrio, sobriedade, distância do jogo político.
Quando a sociedade começa a enxergar vingança onde deveria haver imparcialidade, o tecido institucional se rasga. A consequência disso é perigosíssima: cria-se a narrativa de que a condenação de Jair Bolsonaro e de generais não é apenas jurídica, mas eleitoral — com o objetivo de retirá-lo da disputa de 2026.
Ainda que tal intenção não seja provada, a simples percepção pública já é corrosiva o sufi ciente para gerar instabilidade, revolta e polarização. O Brasil não pode aceitar que a Justiça seja usada como instrumento de poder, nem pode tolerar perseguições — reais ou percebidas. Da mesma forma, também não pode permitir que crimes sejam ignorados.
O equilíbrio é difícil, mas essencial. Este editorial não defende inocência ou culpa. Defende algo maior: a preservação do Estado de Direito, da Constituição e da confiança popular na imparcialidade das instituições. Quando a Justiça deixa de ser guardiã da liberdade para se aproximar do autoritarismo, todo o país perde. E hoje, infelizmente, muitos brasileiros sentem exatamente isso.
Alex Colombibni, editor chefe do Jornal dos Sports e Bacharel em direito, formado pela FADIVALE – Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce – MG


