Por: Eliana Pereira Ignacio – Olá, meus caros leitores, dando continuidade à nossa minissérie sobre mudanças, hoje trago um componente silencioso, porém persistente, que muitas vezes impede o ato de transformar-se: o medo. A mudança, por mais desejada que seja, carrega consigo essa companhia constante. Ele se esconde por trás de desculpas, do perfeccionismo, da procrastinação e até da raiva. É o medo que sussurra: “E se não der certo?”, “E se eu me arrepender?”, “E se eu não conseguir?” Depois de percebermos que não podemos mais suportar a dor de continuar como estamos, como vimos no artigo anterior, surge o grande desafio: agir mesmo com medo.
A cultura do desempenho e da comparação nos ensinou que só devemos agir quando tivermos certeza, quando estivermos fortes, prontos, curados. Mas a verdade mais transformadora sobre a coragem é que ela não nasce da ausência de medo, e sim da decisão de seguir apesar dele. Coragem e medo andam juntos, muitas vezes de mãos dadas. O primeiro passo quase sempre é imperfeito, trêmulo, tímido e, ainda assim, ele é real.
O autor e professor Brené Brown afirma: “Você só pode ser corajoso se estiver vulnerável. Coragem e conforto não andam juntos.” A psicologia também nos mostra que mudanças sólidas são sustentadas por microações consistentes. Não são os grandes gestos heroicos que transformam a vida, mas as pequenas escolhas diárias: desligar o celular para escutar a própria alma, dizer um “não” que foi engolido por anos, pedir ajuda sem culpa, tentar outra vez mesmo após falhar.
Cada uma dessas ações é uma declaração silenciosa de coragem. Aliás, vale lembrar que o medo não é, em si, um inimigo. Ele é um mecanismo de proteção ancestral, parte do nosso sistema de sobrevivência. Mas o problema surge quando ele deixa de nos proteger e passa a nos aprisionar.
Quando, ao invés de nos alertar, começa a nos paralisar. Muitas pessoas paralisam porque esperam sentir-se seguras para começar. Mas a segurança vem depois ela é fruto da experiência, não da espera. Você só vai se sentir afirme após dar alguns passos. Por isso, é necessário abrir espaço para errar, ajustar a rota, voltar um pouco, tropeçar, respirar e continuar.
Agir com medo é como atravessar uma ponte estreita com os olhos ainda embaçados: não é elegante, mas é libertador. Nesse estágio da mudança, é importante trocar o ideal de perfeição por uma disposição humilde para o processo. Aceitar que o início não será bonito, nem claro, nem confortável — mas que ele é essencial. O primeiro passo não é mágico, mas é simbólico. Ele envia ao cérebro e ao coração uma mensagem poderosa: “Estamos em movimento.” Você pode não ter controle sobre tudo que sente, mas tem poder sobre as atitudes que escolhe tomar. E é justamente aí que mora a virada. Agir apesar do medo é um ato de autoridade emocional. É dizer ao medo: “Você pode vir, mas quem escolhe o caminho sou eu.”
A escritora Elizabeth Gilbert diz: “O medo sempre estará presente, especialmente nas coisas que mais importam para você. Mas ele não precisa dirigir o carro.” Cada passo que você dá, por menor que seja, começa a reescrever seu roteiro interno. Começa a substituir o medo paralisante por uma autoconfiança construída na prática. Você já não precisa mais se esconder atrás da ideia de que precisa estar 100% preparado. Basta estar 1% mais disposto que ontem. E dar esse 1% de si todos os dias. A prática da coragem é isso: uma série de pequenos movimentos internos que, com o tempo, se transformam em uma nova musculatura emocional.
O medo pode até caminhar ao seu lado, mas não precisa mais ser quem dita o seu ritmo. Quando você escolhe seguir, mesmo tremendo, está provando a si mesmo que é mais forte do que pensava. Na visão cristã, a fé reconhece a importância dos pequenos começos.
Em Zacarias 4:10 lemos: “POIS QUEM DESPREZA O DIA DAS PEQUENAS COISAS?” Deus se revela justamente na fraqueza humana, e nos convida a caminhar mesmo sem ver todo o caminho. A travessia do Mar Vermelho começou com passos em direção à água. A cura de muitos começou com um gesto: tocar as vestes, dizer uma palavra, estender a mão.
O APÓSTOLO PAULO NOS LEMBRA QUE: “Quando sou fraco, então é que sou forte.” (2 Coríntios 12:10) Deus não exige que você esteja inteiro para começar. Ele caminha com você enquanto você se refaz. A graça cobre os tropeços, e o céu celebra cada passo real. “Seja forte e corajoso. Não tenha medo, nem que apavorado, pois o Senhor, o seu Deus, vai com você; nunca o deixará, nunca o abandonará.” Deuteronômio 31:6
Até a próxima semana!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com