Por: Eliana Pereira Ignacio – Olá, meus caros leitores, após a nossa minissérie sobre mudança, hoje venho propor uma pausa reflexiva. Nem sempre o próximo passo está no fazer, mas no ser. Às vezes, depois de tantas tentativas, recomeços e avanços — por menores que sejam o coração precisa de um lugar de descanso.
Por isso, o tema de hoje é: “Depois da Mudança: O Tempo de Repouso e Integração”. A psicologia clínica, em especial a abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), nos lembra que a mudança real e sustentável não acontece apenas no plano das ações visíveis, mas também no silêncio da consolidação interna.
Aaron Beck, um dos fundadores da TCC, destacou que “mudanças cognitivas sustentáveis só acontecem quando há tempo para integração emocional e reflexão consciente”. Ou seja, mudar é mais do que agir diferente — é entender o que aquela mudança significa na história pessoal de quem a vive.
Depois de um período de transformação, é comum o indivíduo sentir um cansaço psicológico — resultado do esforço contínuo de manter novos hábitos, revisar crenças e lidar com o desconforto de sair da zona de conforto. Esse esgotamento, porém, não deve ser confundido com recaída ou fraqueza. Trata-se de um tempo necessário para o psiquismo reorganizar-se diante da nova configuração interna. É um tempo de digestão emocional.
Na clínica, vemos isso com frequência: clientes que, após conquistas importantes, sentem-se estranhamente tristes ou inseguros. Isso ocorre porque, ao sair de uma identidade conhecida (a do “que sofre”, “que não consegue”, “que sempre falha”), o indivíduo se depara com o vazio da nova versão de si mesmo ainda em construção.
É como passar de um cômodo escuro, mas familiar, para uma sala iluminada e desconhecida: há clareza, mas também medo. E tudo bem. Nesse momento, o repouso psíquico torna-se um recurso terapêutico fundamental. E não falo de um repouso passivo, mas de um descanso ativo: aquele que acolhe, valida e integra. Atividades como a escrita terapêutica, a meditação, os momentos de solitude criativa ou até mesmo o simples ato de caminhar sem pressa, tornam-se instrumentos para que a mente processe o que foi vivido.
Do ponto de vista cristão, essa ideia de descanso não é nova. O próprio Deus, após a criação, “descansou no sétimo dia de toda a sua obra” (Gênesis 2:2). Esse descanso não foi por exaustão, mas por plenitude. Um tempo de contemplação, de encerramento, de sabedoria. Jesus também nos ensinou a importância do repouso ao dizer: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Esse convite é um chamado à pausa restauradora — à entrega confiante. A integração da mudança, portanto, exige mais do que técnica: exige graça.
É o momento de permitir que a nova estrutura de pensamentos, emoções e atitudes se estabeleça com firmeza. É quando a semente lançada na terra, regada e exposta ao sol, repousa sob a superfície antes de ‑ oferecer. Esse tempo subterrâneo é silencioso, mas vital. É importante reforçar que, mesmo nesse período de descanso, é possível que pensamentos antigos tentem retornar.
A diferença é que agora você já sabe reconhecê-los, nomeá-los e redirecioná-los. Como diz a psicóloga clínica Kristin Ne , especialista em autocompaixão: “A prática da autocompaixão nos permite acolher a nós mesmos em momentos difíceis, como faríamos com um amigo querido.” É esse tipo de cuidado que mantém viva a chama da transformação sem exigir esforço contínuo. Então, se você sente que não tem forças para a próxima batalha ou clareza para o próximo passo, talvez o convite seja outro: repouse. Permita-se saborear o que já mudou, mesmo que ainda haja muito a ser feito. Esse refrigério não é opcional, é essencial. É nele que a alma ganha fôlego, que os músculos emocionais relaxam, que a mente silencia e o espírito escuta.
Que este seja o tempo de deixar a mudança ‑ oferecer por dentro, sem pressa, sem culpa, sem exigência. Porque depois do movimento, vem o repouso. E depois do repouso, nasce um novo vigor. “Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma.” (Salmos 23:2-3)
Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com