
Boston, 27 de Agosto de 2025 – A administração Trump anunciou a retomada das chamadas “verificações de vizinhança” para avaliar pedidos de cidadania americana, uma prática abandonada desde 1991 que agora retorna como parte de uma política de endurecimento do controle sobre imigrantes. A medida, detalhada em um memorando do Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS) obtido pela CBS News, prevê investigações presenciais com entrevistas a vizinhos, colegas de trabalho e empregadores para determinar se candidatos à naturalização atendem a requisitos como “bom caráter moral” e “disposição favorável à ordem e ao bem-estar dos Estados Unidos”. No entanto, a iniciativa tem gerado críticas contundentes por sua subjetividade, potencial para abusos e traços de vigilância que evocam práticas autoritárias.
A naturalização exige que os candidatos, residentes legais permanentes por três ou cinco anos, demonstrem ausência de antecedentes criminais graves e passem em testes de conhecimento cívico e proficiência em inglês. Até recentemente, a triagem dependia de verificações de antecedentes pelo FBI, consideradas suficientes. A reintrodução das verificações que podem ser motivadas pela falta de cartas de recomendação de vizinhos ou colegas, é vista como um retrocesso a métodos intrusivos e ineficientes.
Subjetividade e riscos de abuso
A maior preocupação recai sobre a subjetividade de conceitos como “bom caráter moral” e “visões antiamericanas”, que carecem de critérios objetivos e abrem espaço para interpretações arbitrárias. A dependência de testemunhos de vizinhos ou colegas de trabalho agrava o problema, já que essas fontes podem ser influenciadas por preconceitos culturais, religiosos, raciais ou mesmo disputas pessoais triviais.
Um desentendimento banal, como uma discussão sobre barulho ou limites de propriedade, poderia levar a denúncias motivadas por vingança, e não por uma avaliação justa do caráter do candidato. Da mesma forma, imigrantes de minorias religiosas ou raciais correm o risco de serem julgados por estereótipos, e não por fatos concretos.
Críticos alertam que essa abordagem cria um ambiente de vigilância comunitária, onde vizinhos e colegas se tornam fiscais informais do comportamento alheio, remetendo a práticas de regimes totalitários que incentivam a delação. “Parece uma tentativa de criar um clima intimidador que desencoraja a naturalização”, afirmou Meissner, mostrado as preocupações de defensores dos direitos dos imigrantes.
A possibilidade de denúncias baseadas em motivações pessoais, sem filtros claros para garantir imparcialidade, transforma a medida em uma temeridade, com potencial para injustiças e discriminação.
Um passo rumo ao controle excessivo
Embora o diretor do USCIS, Joe Edlow, defenda a medida como necessária para garantir que “apenas os candidatos mais qualificados recebam a cidadania”, a falta de transparência nos critérios e a delegação de poder a terceiros levantam sérias dúvidas sobre sua legitimidade. A administração Trump, que já congelou o programa de refugiados e encerrou políticas da era Biden que facilitavam a permanência legal de alguns imigrantes, parece usar essas ‘verificações de vizinhança’ como parte de uma estratégia mais ampla para restringir o acesso ao sistema de imigração legal.
A medida, embora justificada como combate a fraudes, é vista como desproporcional e desnecessária, dado que ‘verificações de vizinhança’ de antecedentes já existentes são suficientes ara determinar um comportamento criminoso.
Ao transformar vizinhos e colegas em potenciais denunciantes, o governo cria um clima de desconfiança que erode as relações comunitárias e ameaça a confiança nas instituições democráticas. Para muitos, a prática não apenas dificulta a integração de imigrantes, mas também sinaliza um caminho perigoso rumo a um controle estatal excessivo, onde a subjetividade e a vigilância prevalecem sobre a justiça e a equidade.
A retomada dessas ‘verificações de vizinhança’ , portanto, não é apenas uma política administrativa, mas um alerta sobre os riscos de instrumentalizar a comunidade para policiar seus próprios membros. Em um país construído por imigrantes, tal medida representa um retrocesso que pode afastar aqueles que buscam, legitimamente, fazer parte da nação.