Eliana Pereira Ignacio – Vivemos em uma época em que é comum buscar respostas externas para dores internas. Muitas vezes, esperamos que o mundo ou as pessoas mudem, que as circunstâncias melhorem, para então nos sentirmos realizados. No entanto, essa espera costuma gerar frustração, pois a verdadeira transformação começa dentro de nós.
A frase “se quero mudanças em minha vida, preciso começar por mim” nos lembra que somos os únicos responsáveis por alterar nossa realidade interna. Embora amplamente repetida, essa ideia carrega uma verdade profunda: ninguém pode fazer por nós o que só nós podemos realizar. O processo de autotransformação exige coragem para olhar para dentro com honestidade, compaixão e responsabilidade.
Carl Rogers, referência da psicologia humanista, já dizia que “quando me aceito como sou, então posso mudar.” Esse é o primeiro passo: a aceitação de quem somos hoje, com forças e fragilidades.
A psicologia cognitivo-comportamental acrescenta que nossos pensamentos moldam nossos sentimentos e comportamentos, e, para mudar como nos sentimos ou agimos, é preciso reavaliar o que pensamos automaticamente. Aaron Beck, fundador dessa abordagem, afirma que mudanças reais começam pela transformação dos padrões mentais. Afinal, quantas vezes nos limitamos com pensamentos como “nunca vou conseguir” ou “sempre fui assim”? Esses scripts, se não forem desafiados, bloqueiam nosso progresso. Nesse sentido, o autoconhecimento se torna o alicerce da mudança consciente.
Ao nos dispormos a nos conhecer de verdade, encaramos padrões, decisões e dores com mais clareza. Essa jornada demanda tempo e disposição emocional, como uma verdadeira faxina interna, em que revisitamos traumas, medos e feridas. Jung resume essa ideia ao dizer que “aquilo que não enfrentamos em nós mesmos, encontraremos como destino”, evidenciando que o que evitamos dentro de nós costuma ressurgir no mundo externo, como ciclos de sofrimento.
Perguntas como “por que permaneço num relacionamento que me machuca?” ou “por que mantenho um emprego que me adoece?” são convites à responsabilidade sobre a própria vida. Não se trata de culpa, mas de reconhecer que somos agentes da nossa história.
E a mudança não acontece de uma vez — ela é processo, com altos e baixos, recaídas e aprendizados. Precisamos aprender a acolher os próprios retrocessos com generosidade. Albert Ellis, criador da Terapia Racional Emotiva Comportamental, nos lembra que “não são os eventos em si que nos afetam, mas como os interpretamos.” Nossa atitude diante das falhas de ne nossa continuidade no processo de transformação.
Assumir a própria responsabilidade é um ato de maturidade emocional. Embora o mundo externo nos influencie, como reagimos é sempre uma escolha. Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, afirmou que entre o estímulo e a resposta existe um espaço — e nesse espaço está o poder de decidir. E essa escolha é onde nasce nossa liberdade e crescimento. A transformação também tem um aspecto espiritual profundo.
Na perspectiva cristã, a renovação começa no coração e na mente. Romanos 12:2 nos orienta a não nos conformarmos com este mundo, mas a buscarmos uma renovação do entendimento, que nos aproxime da vontade de Deus. É um chamado à mudança interior como caminho para viver com propósito, fé e plenitude. Ao final, a reflexão essencial é: “que tipo de pessoa preciso me tornar para viver a vida que desejo?”
Essa pergunta nos devolve o poder e nos convida à ação.
A mudança não começa quando tudo estiver perfeito — começa agora, com o primeiro passo: olhar para dentro com verdade e gentileza, e afirmar “se algo precisa mudar, que essa mudança comece em mim.” Como oração, deixo o versículo de Salmo 139:23-24, um convite à autoanálise sincera: “Examina-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.” “Examina-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova- -me, e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.” Salmo 139:23-24. Até a próxima semana!!!
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualifi cações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie ume-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com