COM G1 – Um grupo de 11 senadores americanos do Partido Democrata pede o adiamento das negociações de um acordo de livre comércio com o Brasil até que o governo brasileiro resolva a questão do desmatamento na Amazônia . Entre eles está uma das principais candidatas a concorrer à Presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata em 2020, a senadora Kamala Harris . O pedido foi feito por meio de uma carta enviada n sexta-feira ao Representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Lighthizer.
A carta contrasta com a posição do presidente Donald Trump, do Partido Republicano, que em agosto manifestou seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro , afirmando que o governo brasileiro estava realizando “um trabalho muito duro” para combater os incêndios na Amazônia e um “ótimo trabalho para o povo do Brasil”. Na semana passada, O GLOBO adiantou que congressistas democratas estavam se movimentando para tentar impedir que as negociações sobre um acordo de comércio com o Brasil fossem adiante por causa dos incêndios na Amazônia. Os democratas controlam a Câmara, enquanto o Senado tem maioria republicana.
“Nos preocupa que o presidente Trump tenha anunciado a intenção de negociar um acordo de comércio com o Brasil no meio desta crise e tenha permitido a retomada das exportações de carne do Brasil, sem qualquer compromisso do Brasil para proteger a Amazônia do desmatamento ilegal”, diz um texto da carta.
O texto é assinado pelos senadores democratas Kamala Harris, Chris Murphy, Brian Schatz, Richard Blumenthal, Sheldon Whitehouse, Tom Udall, Kirsten Gillibrand, Patrick Leahy, Cory Booker, Chris Van Hollen e Amy Klobuchar.
Os senadores afirmam que a “destruição da Floresta Amazônica brasileira” é uma crise internacional com consequências para a segurança nacional dos Estados Unidos.
“A Amazônia pode chegar a um ponto de inflexão de desmatamento irreversível que vai levar aos piores efeitos da crise climática que ameaça todos os americanos e o resto do mundo”, diz outro trecho.
Os senadores pedem para que o representante também adie a retomada da importação de carne do Brasil para os Estados Unidos . O governo americano anunciou a suspensão de todas as importações de carne in natura do Brasil em junho de 2017 por “preocupações recorrentes sobre a segurança dos produtos destinados ao mercado americano”, segundo o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, à época. Em março deste ano, quando o presidente Jair Bolsonaro esteve na Casa Branca , o comunicado conjunto dos dois países citava a possibilidade de retomar as exportações de carne bovina do Brasil.
‘Ações significativas’
Os congressistas também dizem que a “expansão temerária” da indústria da carne no Brasil contribuiu mais para o desmatamento “do que qualquer outra atividade”. Eles afirmam que permitir que a carne brasileira volte ao mercado americano “só irá acelerar a destruição da Amazônia”.
“De acordo com os regulamentadores ambientais brasileiros, a principal empresa de processamento de carne do país, a JBS, deliberadamente produziu carne a partir de gado cultivado em terras ilegalmente desmatadas”, diz o texto.
A carta também pede ao representante de Comércio para resolver a questão da guerra comercial entre China e Estados Unidos, que tem “perturbado os padrões de comércio globais e levado a China a depender cada vez mais do Brasil para carne e soja”. O texto associa ao desmatamento na Amazônia o aumento das exportações de produtos agrícolas do Brasil para a China, à medida que os chineses compram menos dos Estados Unidos.
O texto afirma que se não houver “ações significativas” do presidente Bolsonaro para proteger a Amazônia, os Estados Unidos devem deixar claro que não vão negociar com o Brasil sobre comércio. Entre essas ações, estariam garantir o cumprimento das leis ambientais do Brasil sobre desmatamento ilegal, restabelecer a proteção para comunidades indígenas, restaurar o financiamento completo e as autoridades para os reguladores ambientais, e processar aqueles que violam as leis sobre desmatamento ilegal.